Febre amarela, novo velho item

Sofre o povo, sofremos nós – ou não somos o povo? Bem, há de se levar em conta que na igualdade constitucional uns são mais iguais que outros; por analogia, uns são mais povo que outros. De modo simples e objetivo, numa análise rápida, podemos concluir que povo é a parcela dos habitantes deste Brasil que vota; consequentemente, os que são votados integram outra categoria de gente. Talvez marciana, quem sabe?

O objetivo destas linhas não é apedrejar os políticos, cuja maioria está dispensada desse tratamento carinhoso que lhe dedicam os eleitores quando se dão conta de que foram enganados, nem os alienígenas, que nem têm consciência do que se passa aqui.

Abrimos este trabalho, tão artigo quanto crônica, com uma lamúria. Há teóricos de comunicação social em papel que conseguem fazer a distinção garantindo que um é um e outra é outra. Acreditamos que um e outra podem confundir-se e adquirir definição no humor do leitor. Um texto poderá ser artigo para uns ou crônica para outros. De qualquer forma, esse profundo e transcendental conhecimento nada acrescenta: trata-se de elucubração pseudointelectual que não resulta em um centavo a mais no bolso e numa só estrelinha no currículo.

Lá se foram três parágrafos de blalablá. Voltemos ao início: sofre o povo, sofremos nós. De que sofremos? De tudo, ou de quase tudo. Sofrem os sem-sítio em Atibaia, os sem-tríplex no Guarujá, os sem-apartamento em New York, os sem-mansão de praia em Mangaratiba… Sofremos nós, comuns mortais, com o sofrimento desses nossos irmãozinhos.

O que temos mais a lamentar? A inércia, o descaso, a incapacidade ou desinteresse de previsão dos fatos. Aí está o país de norte a sul atormentado, à beira do desespero, como nos mostram as filas extensas de pessoas em busca de vacinas. O que fizeram as autoridades sanitárias que não contiveram o cinturão de segurança da febre amarela silvestre? Por que não recomendaram a vacinação de forma intensa, mas ordenada, para evitar a correria que está levando o povo (o que vota) ao desespero. O povo tem pouca memória, mas sabe o que significou a epidemia de febre amarela no Rio de Janeiro e outras cidades no início do século passado.