Saudades do Dr. Humberto

No dia 23 de maio de 2018 comemoramos, com muita alegria, o natalício daquele que para nós foi, sem a menor sombra de dúvida, um autêntico pai. Neste caso pontual, quando utilizamos o pronome nós, não lançamos mão do tradicional recurso estilístico difundido desde a Roma antiga, denominado plural de modéstia. Estamos literalmente referindo-nos a todos que compõem a família racionalista cristã e que tiveram a honra e o privilégio de conviver fisicamente com Humberto Rodrigues. Dessa experiência, profunda e marcante, em privar da amizade e do convívio desse mestre da espiritualidade – pessoalmente falando – tenho saudades e ao mesmo tempo, por que não dizer, orgulho, na acepção mais elevada deste termo que remete ao brio e à dignidade.

A saudade é grande, no entanto não nos sufoca nem paralisa, ao contrário. Alguns poderão perguntar-se o porquê desta nossa afirmação categórica. A resposta é evidente, amigos: Humberto Rodrigues não cessa de inspirar-nos, de orientar-nos e, sobretudo, de encorajar-nos. Ao escrevermos despretensiosamente estas linhas, a emoção começa a nos envolver, sua assistência sempre benfazeja nos cinge e percebemos nitidamente a sua afetuosa irradiação a nos fortalecer e impulsionar. A filosofia racionalista cristã avança cada vez mais com total segurança na estrada que ele pavimentou à custa de inúmeros desgastes e indizíveis sofrimentos que, diga-se de passagem, magistralmente soube transformar em aprendizado.
Humberto Rodrigues representa para todos nós um exemplo de superação. Por este motivo a presente ocasião suscita um momento de reflexão.

Passados mais de seis anos de sua desencarnação, o sucessor de Antonio Cottas e atual Presidente Astral do Racionalismo Cristão se manifesta sob novo aspecto. Num misto de docilidade e autoridade, nos tem presenteado com belíssimas doutrinações, que por sua vez inspiram número cada vez maior de militantes e assistentes a se aprofundarem no estudo da espiritualidade. O crescimento exponencial de pessoas do mundo inteiro interessadas nos conteúdos produzidos pelo Grupo de Estudos da Casa-Chefe comprova essa realidade.

As magníficas doutrinações de Humberto Rodrigues não nos surpreendem. A coerência era uma marca constante de sua personalidade, somos testemunhas.  Durante sua vida inteira refletiu exatamente os valores de que era portador, não havia contraste entre seu discurso e suas ações. O arcabouço moral desse mestre querido era exuberante, sua inclinação a valorizar o que de melhor havia no comportamento humano o levou, no decorrer de sua vida de estudos, a absorver tudo que há de nobre e belo no estilo dos grandes líderes e benfeitores da humanidade.

Com sabedoria e prudência, Humberto Rodrigues presidiu o Racionalismo Cristão por quase 30 anos e entendeu como ninguém a grande diversidade da comunidade racionalista cristã no mundo. Em seu espírito generoso havia lugar para todos. O nosso homenageado introduziu o Racionalismo Cristão no terceiro milênio, na era digital, e nos encorajou a, olhando para os exemplos deixados pelos nossos mestres do passado, ampliássemos e expandíssemos cada vez mais a filosofia de Luiz de Mattos, que é evolucionista por natureza e tem dinamismo próprio e irrenunciável. É precisamente na sua capacidade de adaptar-se, sem jamais olvidar seus princípios basilares, que está a chave de sua perenidade.

Antes de finalizarmos, gostaríamos de fazer uma pequena digressão histórica, para realçar mais um aspecto do caráter desse gigante da espiritualidade: a gratidão. Em matéria de sua lavra, veiculada em A Razão de 19 de junho de 1985, cujo título – A força do exemplo – nos interessa de perto, ressaltava Humberto Rodrigues:

“A palavra escrita e falada, como fator preponderante de comunicação expressada através dos milhares de idiomas e dialetos nas civilizações terrenas, é, sem dúvida, uma das mais belas formas de manifestação da inteligência humana.

No entanto, o extraordinário Antonio Vieira, um dos mais exímios cultores do vernáculo, orador magistral, destacando-se por uma verbosidade extensa, brilhante e abundante, proclamava que ‘palavras o vento as leva’.
Dir-se-ia, à primeira vista, que este notável pensador depreciava, paradoxalmente, aquilo que sempre cultivou com extrema exuberância: a palavra.

Todavia, é evidente que tal não era sua intenção. Referia-se, sem dúvida, às afirmações desacompanhadas do exemplo, e, obviamente, não concretizadas em realizações calcadas por ações positivas.
Um grande apologista dessa excelente concepção de Vieira foi inegavelmente Antonio Cottas.

Extremamente objetivo e dinâmico, desprezava a terminologia vazia e inócua, não perdendo tempo com conversas sem conteúdo substancial.
Inúmeros foram os predicados dessa grande figura do Racionalismo Cristão que contribuíram para a obra marcante de sua vida física consubstanciada na consolidação do Racionalismo Cristão, destacando-se, a nosso ver, a sua tendência refratária às assertivas proferidas sem o respaldo de uma agilização correspondente.

Tendo transcorrido, no dia 12 de junho, o segundo aniversário de sua desencarnação, reverenciamo-lo em respeito à sua figura, à sua obra e, portanto, ao seu legado espiritual.
Reiteradas vezes afirmamos que uma das grandes finalidades de tais homenagens é manter sempre a chama resplandecente dos exemplos do consolidador do Racionalismo Cristão para incentivo dos continuadores do seu ideal espiritualista em meios racionalistas cristãos, procurando sempre, com essa intenção, focalizar e exaltar sua atuação profícua para exemplificação dos pósteros.

Lembramo-nos, então, neste momento, dessa faceta de sua personalidade: a repulsa às palavras sem o esteio de atos construtivos para que, corroborando o pensamento do Grande Vieira, o vento não as levasse!…
Ao ensejo do segundo aniversário da desencarnação de Antonio do Nascimento Cottas, homenageamo-lo, concitando a todos os racionalistas cristãos do Brasil e do mundo para que se esforcem ao máximo no cultivo de uma de suas grandes virtudes: a palavra conjugada à força do exemplo!”

O sentimento de reverência ao seu “tio-pai”, manifestado na ocasião do segundo aniversário de desencarnação deste, é o mesmo que nos inspira na elaboração dessas linhas. As palavras de Humberto Rodrigues são atualíssimas e sua história, um referencial seguro para enfrentarmos os desafios contemporâneos.