Vacinação anticovid, cujo anúncio desagradou a muitos e amedrontou outros tantos, acabou por tornar-se uma bandeira, símbolo de luta da população mundial e, claro, do Brasil. Era difícil aceitar que a doença fosse tão grave a ponto de exigir imunização em massa e que se expandisse com a velocidade que se constatou com a rápida contaminação e morte de tantas pessoas. Essa aceitação somente se tornou unanimidade depois que os noticiários passaram a destacar o crescimento do número de óbitos. No Brasil, as filas em busca de vacinas cresciam na mesma proporção desses números. Veio o que era de se esperar: falta pontual de imunizante, rapidamente resolvida, não sem antes assustar.
Por que a dúvida? Anotamos mais de 600 mil mortos no país, vítimas do coronavírus. Nenhum afastado lugarejo deixou de dar sua contribuição a essa lamentável estatística, foram registrados óbitos em todo o país. Esse tétrico panorama começou a mudar recentemente, graças à imunização e ao cumprimento das recomendações das autoridades sanitárias, principalmente o uso de máscaras.
Chegamos a uma parada para avaliação do antes e análise das perpectivas para o depois. Postos na mesa dados da evolução acelerada da doença e de sua desaceleração, autoridades administrativas concluíram que é o momento da abertura, com liberação das aulas presenciais, realização de eventos-testes reunindo milhares de pessoas, abolição de máscaras etc. Autoridades médico-sanitárias garantem que ainda é cedo para tais liberalidades, ao menos assim, em bloco.
Tome-se por exemplo a abertura dos estádios de futebol para os torcedores. A limitação de ingressos disponíveis é uma fantasia, porque os aficcionados aglomeram-se, aproximam-se, querem sentir-se, querem torcer juntos, nada de distância imposta. E no supremo momento do gol, quem se lembra da obrigatoriedade do uso da máscara? É nesses momento que vai tudo pelos ares, inclusive vírus, se houver, afora os abraços em meio à euforia. Para entrar nos recintos os dirigentes esportivos exigem a apresentação de laudo comprobatório de imunização completa, mas espertalhões já andaram oferecendo laudos falsificados a preço de banana. Quando a polícia descobriu a tramóia o mal já estava feito. E eles podem atuar nas imediações de estádios, cinemas, teatros e restaurantes.
Da parada para avaliação em que prevaleceram as decisões prévias levadas para uma discussão simulada, concluímos que estamos de partida para um futuro incerto e temerário: um salto do escuro. Prudência não é pessimismo.