Como ter uma percepção da diferença que fazemos na vida de outras pessoas?

Desenvolver a sensibilidade quanto à diferença que fazemos na vida de outras pessoas pode ser um excelente caminho para o aprimoramento dos próprios atributos. Nesse sentido, ao ampliar a percepção, o ser humano passa a ter uma melhor visão de conjunto, analisa com sutileza e perspicácia os múltiplos aspectos de um relacionamento. Estuda as questões com ponderação e serenidade, cauteloso age com responsabilidade ciente da repercussão dos seus atos. 

A ideia de influência e ascendência, já se tornou bastante controversa, devido a seu uso genérico ao designar realidades e situações muito diferentes entre si. Dentre as inúmeras possibilidades de influência, deixaremos de lado as que se derivam exclusivamente da noção materialista, uma vez que o intercâmbio que existe entre as pessoas, quando analisado exclusivamente pelo viés do interesse mesquinho, assume uma acepção profundamente negativa. 

A reflexão sobre a capacidade que as pessoas possuem de impactar seus semelhantes aparece, nesta reflexão, em conexão com a necessidade, cada vez mais intensa, de espiritualização do gênero humano, que, vivendo naturalmente em sociedade, influencia e é influenciado a todo momento. 

A influência que exercemos sobre nossos semelhantes deve transpor o campo das emoções efêmeras e despertar ideias e reflexões profundas que os possam auxiliar, marcando, assim, a vida daqueles que convivem conosco de uma forma consistente e fecunda, fortalecendo, quando possível, os vínculos da amizade. 

Evidentemente, não faltam ao ser humano o acolhimento, a influência e o direcionamento por parte de seus semelhantes desde o início de sua trajetória. Sem isso ele não sobreviveria, pois é totalmente dependente quando nasce. Ao vir à luz, encontra-se imerso em uma realidade onde estabelece, inexoravelmente, uma rede contínua das mais variadas relações. 

O ser humano vive em sociedade, tem necessidade de relacionar-se. Não se pode voltar apenas para si próprio, indiferente às necessidades espirituais e materiais de seus semelhantes. Essa verdade não só resulta de uma constatação histórica, mas também traz consigo a própria essência do viver neste mundo. 

Certo é que a lucidez de tal raciocínio não pode prescindir do mergulho no oceano da espiritualidade, uma vez que a perda do sentido transcendente da vida turva o pensamento, estreita o olhar e obscurece a razão, fazendo que o ser humano descambe no terreno do individualismo, crendo-se, infantilmente, senhor absoluto de sua vida. 

Em um momento histórico, onde grande parte da sociedade se encontra tão ferozmente preocupada com seus interesses pessoais como sói ser o atual, há a necessidade de reafirmar o inquestionável e insuperável valor da família. O grupo familiar tem, no itinerário de aprimoramento humano a que todos estamos associados, um claro e elevado sentido espiritual.  

Por essa razão, é preciso compreender que sendo a família a célula mater da sociedade, seus membros devem interagir conscientemente com os demais membros do tecido social, recebendo destes subsídios culturais, morais, educacionais e filosóficos, acrescentando-lhes seu contributo pessoal para o engrandecimento próprio e da coletividade.  

Esse dinamismo não tem apenas contornos de natureza ética e moral, mas também um nítido sentido espiritual, na medida em que enseja o elevado aprendizado da necessidade de olhar para além do sentimento egocêntrico e transcender os interesses estritamente materiais na contemplação da realidade suprema, que tudo abarca e penetra. 

Uma vez que o raciocínio lúcido põe à margem qualquer dúvida acerca da estreita ligação entre os procedimentos de um ser humano e o impacto de sua conduta e de sua maneira de pensar na vida daqueles com que convive, tampouco se pode ignorar a relação que se estabelece, por força dessa circunstância, entre o atributo da percepção e o direcionamento responsável das atitudes humanas.  

Todas as ações do ser humano espiritualizado, consciente de seu valor e de suas responsabilidades, que pauta sua vida nos sublimes preceitos dos valores racionalistas cristãos, estão impregnadas de benquerer e amor ao próximo; todas as suas obras estão marcadas de uma notável dignidade. Com paciência e tolerância, a pessoa é capaz de suscitar no meio em que convive sentimentos de admiração, enriquecendo com seu exemplo a vida daqueles que lhes observam os passos. 

Além disso, sua atitude ética e a linha aprumada de seu caráter o tornam contrário a todo exibicionismo despropositado, a toda propaganda interesseira e a toda manobra insidiosa de notoriedade fugaz. O racionalista cristão autêntico procede bem, porque além de não conceber outra possibilidade de ação, tem a mais acurada percepção da diferença que faz na vida de outras pessoas; valoriza a amizade e a eleva ao mais alto grau, pois entende que é no convívio respeitoso e fraterno que ela se intensifica e se define, que é nessas mesmas coisas que os laços afetivos se firmam e se complementam. 

Como desenvolver a sensibilidade mais acurada da diferença que fazemos na existência das outras pessoas? Espiritualizando-nos, como nos ensina o Racionalismo Cristão, dosando na justa e precisa medida a educação e a lealdade, a cortesia e a sinceridade, o respeito e a tolerância; tendo em alta conta a correção, o equilíbrio, a discrição, a honestidade, a disciplina e este grande e importantíssimo predicado que é, na vida cotidiana, um poderoso guia: a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. 

Muito Obrigado!