Como usar a escuta ativa, que dá atenção completa ao nosso interlocutor, para aprimorar nossas atitudes?

O tema escolhido nos convida a uma importante reflexão sobre o nobre sentimento da empatia, tantas vezes esquecido e desprezado na sociedade moderna, mas o abordaremos por um viés diferente de outras reflexões que já tivemos a oportunidade de discorrer sobre essa capacidade de tentar compreender sentimentos e emoções dos nossos semelhantes, porém, dando-lhe completa atenção e transformando essa atitude em verdadeiro aprendizado de vida.  

Os atos individuais sempre trazem consequências para o conjunto dos demais seres e, quando virtuosos e direcionados para o bem, como deve ser a escuta ativa que acolhe o interlocutor, podem ser traduzidos como gestos que ensejem continuamente o enriquecimento e a ampliação dos limites da experiência humana.  

Auxiliar na compreensão da necessidade do respeito às diferenças e do desenvolvimento de maior sensibilidade diante das angústias dos semelhantes – eis a finalidade a que aspira esta nossa modesta reflexão. 

É complexa a tarefa de estabelecer as formas exatas da atitude empática. Comecemos por ressaltar que uma convivência equilibrada e fraterna, respeitosa e solidária não surge de imposições externas ou regras estabelecidas pela vontade alheia, mas muito pelo contrário: um convívio elevado e enriquecedor somente assume tais características quando os seres humanos se dão conta, espontaneamente, da importância da amizade sincera e do respeito aos diferentes modos de pensar e às distintas expressões culturais. 

Uma comunidade está fundamentada em valores sólidos e imperecíveis quando objetiva o bem comum, quando promove o ser humano em sua forma integral, contemplando suas dimensões física e psíquica. Nesse sentido, surgem vigorosos os sentimentos de dedicação ao próximo, de desprendimento, de disponibilidade interior. Portanto, reafirmamos eloquentemente que é na capacidade de colocar-se no lugar do outro que se encontra a chave para a edificação de uma sociedade mais equânime e fraterna. 

O espiritualista, considerado na mais autêntica acepção da palavra, é consciente de seus compromissos para consigo mesmo e para com o conjunto dos demais seres. Entende ser o ato da escuta muito mais do que “emprestar seus ouvidos” ao interlocutor, pois enquanto ouve atenta e afetuosamente as palavras que lhe são dirigidas, irradia pensamentos nobres e elevados, criando mentalmente um panorama positivo que influenciará o psiquismo da pessoa que fala, no sentido de que esta absorva as melhores intuições para a superação de seus desafios. Tal processo, cujos benefícios repercutem no seio de toda humanidade, tem como motor o amor ao próximo e a vontade de ver o semelhante bem realizado. 

O ser humano demonstra caráter bem formado quando suas atitudes espelham bom senso e são pautadas na reflexão, no raciocínio e na empatia. A cada sentimento que exprime ou conduta que adota, o faz com segurança e comedimento, conquistando bem-estar físico, paz espiritual, com o consequente desenvolvimento espiritual.  

Verdade é que, com retidão de caráter, perseverante vontade de acertar, sinceridade de propósitos e olhos voltados para o cumprimento dos deveres, todos estarão trilhando o caminho que conduz ao amadurecimento espiritual e, por conseguinte, à harmonia e ao bem-estar, como nos recomenda o Racionalismo Cristão.  

É preciso aqui salientar a virtude da humildade como pressuposto de uma vida produtiva, frutuosa e digna. Precisamente por isso, é indispensável que a pessoa que busca o diálogo como forma de exprimir seus dramas assuma, de forma constante e tenaz, uma humilde atitude de autocrítica, sem a qual tende a quedar-se frustrada diante do dinamismo da vida, transferindo a responsabilidade de seus insucessos a um conjunto de circunstâncias tão complexo quanto fantasioso. 

Nossos estudos espiritualistas giram precisamente em torno da convicção de que, geralmente, toda ação concreta e efetiva é precedida por pensamentos e sentimentos que lhe dão causa. Por essa razão, faz-se necessário ressaltar mais uma vez a necessidade de cuidado relativamente aos aspectos transcendentes da vida, sobretudo os pensamentos, que dão, em verdade, suporte a grande parte da realidade que percebemos e apreendemos pelos sentidos físicos. Uma vez convencidos da necessidade de mais empatia em sua trajetória de relações uns com os outros, as pessoas deverão também despertar para a utilidade prática dos valores contidos na espiritualidade. 

Sobre esse tema, assim orientou recentemente o Presidente Astral do Racionalismo Cristão, Humberto Rodrigues: “Quem não respeita o semelhante não se respeita, pois é incapaz de se colocar no lugar do próximo, de perceber as dificuldades por que passa, as causas de seus procedimentos inadequados, a razão das atitudes impensadas que toma. Quando não há empatia, a tendência é criticar ou julgar o vizinho, porque não há interesse em ajudá-lo nas suas dores e fraquezas. Na maioria das vezes, as pessoas estão mais interessadas em saber o que fulano faz e sicrano diz”. 

Para finalizar, entendemos que somente o esclarecimento espiritual é capaz de transformar a mentalidade materialista tão presente nas esferas política e privada, econômica e cultural do mundo contemporâneo. E como instrumento eficaz nesse caminho de aperfeiçoamento e de ampliação de horizontes, destacamos a empatia. Esta permitirá, sem dúvida, reconhecer no próximo uma extensão de nós mesmos, de modo que a partir dessa constatação possamos revalorizar o convívio social respeitoso e fraterno, que é, por sua vez, o alicerce de uma paz verdadeira e sustentável.  

O conceito de empatia através da escuta ativa, na profundidade em que procuramos aqui desenvolver, devido a sua natureza e transcendência, não está estabelecido em padrões prefixados nem se reduz a uma meta a ser alcançada. Entendemos ser um processo indispensável para um viver produtivo e elevado, onde o ser humano passa a sentir-se seguro para maturar e exprimir seus pensamentos e sentimentos, consciente da responsabilidade de suas iniciativas.  

Nenhuma existência reflete uma realidade perfeita e acabada, mas requer um progressivo despertar para a necessidade e, sobretudo, a importância da fortaleza espiritual que se conquista na atitude de receptividade no que refere-se aos desafios e dramas vivenciados pelos semelhantes, na vivência das virtudes e na expansão do amor espiritual. Sem essa noção de fortaleza espiritual, jamais poderá o ser humano alcançar sua liberdade e autonomia; acaba, antes, por perder sua identidade e razão de ser. 

Muito Obrigado!