Aristóteles afirmou, no texto que mais tarde viria a ser chamado Metafísica, que todos os homens têm, por natureza, o desejo de conhecer. Séculos mais tarde, materializava-se, por meio da pena do poeta Carlos Drummond de Andrade, o seguinte pensamento: “Ninguém poderá afirmar que o conhecimento seja algo especificamente doloroso, quando é antes libertador e, como tal, fonte de alegria.”.
Hoje, pretendemos assinalar uma forma especial de conhecimento que nos motive ao empenho construtivo em meio às adversidades. O que procuraremos demonstrar é que, diante da pluralidade de formas de conhecimento existentes em nossa sociedade, o olhar ampliativo, divulgado e defendido pelo Racionalismo Cristão, promovem uma visão muito além dos limitados aspectos físicos. Ao fazer essa afirmação, queremos dizer que, abrindo-se para a espiritualidade, o ser humano torna-se capaz de um esforço autenticamente construtivo em benefício próprio e coletivo, mesmo nos momentos de incerteza.
É inegável que as transformações que caracterizam a sociedade atual vêm causando um impacto de proporções inéditas nas diversas formas de convívio e relacionamento. Os momentos de crise e incerteza não são fenômenos extraordinários e isolados. Constituem, pelo contrário, quase que uma constante na atualidade e, com grande intensidade, afetam as áreas mais profundas da alma e da cultura, provocando sucessivas convulsões. Contudo, uma experiência de vida exitosa, sadia, afetuosa e produtiva é possível, desde que encontremos sua forma normal de expressão nos valores contidos no campo da espiritualidade e que tenhamos nítido que a perda do sentido transcendente da vida obscurece a razão. É no processo de abertura para a espiritualidade que o ser humano encontra espontaneamente vários parâmetros orientadores de grande utilidade para sua trajetória, que lhe permitirão empreender diligentes esforços inclusive nos momentos incertos e angustiantes.
A capacidade humana se manifesta na aptidão para provocar transformações que se dão, sabemos nós, por meio da força de vontade. É esse recurso espiritual, quando bem conduzido, que permite ao ser humano agir na vida diária de modo ético e responsável, construindo relações sinceras e duradouras, sadias e fecundas, independentemente das circunstâncias.
A expressão enfática de como a abertura para a espiritualidade influencia o comportamento humano traduz-se de forma inexorável em pensamentos e atos elevados e profícuos, que atestam maturidade por parte de quem já compreendeu que o fundamento de uma existência digna e elevada está no cultivo das virtudes e na expressão sincera de benquerer. A espiritualidade promove experiências ricas em afetividade e respeito, pois permite que o ser humano compreenda o próximo como uma extensão de si mesmo e se empenhe no sentido de vivenciar momentos de plenitude e felicidade, cônscio, porém, de que para isso é necessário superar contradições e dificuldades internas.
A autêntica espiritualidade não favorece nenhuma forma particular de manifestação cultural, não se orienta por diretrizes histórico-sociais, não privilegia nenhum grupo em detrimento de outro, enfim, não valoriza a superficialidade, e sim a essência.
Todos os esforços da pessoa de bem devem convergir para a proposição e vivência de princípios e valores, conhecimentos e convicções que sirvam de sustentáculo a uma sociedade disposta a elevar e dignificar cada vez mais o ser humano, mormente por sua origem, proporcionando meios e recursos para seu aprimoramento em todos os níveis. Assim procedendo, o ser humano trabalhará concretamente para a edificação de um mundo mais fraterno e equânime e, ao mesmo tempo, demonstrará, por meio de sua conduta e exemplo, o valor do mergulho no oceano da espiritualidade.
Certamente, não há ação humana neutra e sem sentido. Todos os nossos atos repercutem, positiva ou negativamente, no conjunto dos demais seres. Por conseguinte, temos a obrigação ética de irradiar o bem por meio de nossos pensamentos, atos e palavras. A absorção desse conhecimento nos porá em condições de empreender esforços construtivos em benefício próprio e coletivo e nos impulsionará a agir em consonância com os mais elevados pensamentos e sentimentos acalentados em nosso espírito. Os pensamentos se concretizam em atitudes, que, em todas as situações, devem ser ordenadas e direcionadas para a prática do bem.
Concluímos que o processo do conhecimento com vistas a uma experiência de vida frutuosa e feliz não deve ser visto como uma sequência fortuita de causas e efeitos que se sucedem desorganizadamente. Lembramos também que não se aprende por intermédio de fórmulas prontas e estanques.
Os seres humanos podem alcançar, quando fundamentam suas vidas nos valores da espiritualidade defendidos pelo Racionalismo Cristão, as energias necessárias para concretizar os mais sublimes projetos e ideais. Nesse passo, os momentos de incerteza não configuram empecilho a essa realização, mas se apresentam como autênticas oportunidades de crescimento moral. Os mais variados fatores sejam eles – culturais, sociais, econômicos, geopolíticos etc. –, que apontam, por vezes, caminhos complexos e árduos, podem ser transpostos com relativa facilidade, desde que se saiba pensar no bem e agir com valor, coragem e determinação.
Muito Obrigado!