A sensibilidade é a mais potente força propulsora para o reconhecimento da realidade transcendente. Um dos maiores equívocos é o estímulo da sensibilidade sem disciplina, critério, parâmetro ou controle. Isso produz o enfraquecimento da força de vontade, afastando o ser humano de uma vida frutuosa e feliz. Na direção contrária, mas não menos danosa, caminham grupos que apregoam o valor da disciplina e do método, esquecendo-se, contudo, do amor, o que acaba por atrofiar-lhes também a sensibilidade.
Nesta reflexão procuraremos analisar as diversas possibilidades que orbitam o presente tema, procurando demonstrar que a sensibilidade, quando analisada pelo prisma ampliador da espiritualidade proposta pelo Racionalismo Cristão, se apresenta como uma valiosa dimensão do ser humano, e que, quando bem desenvolvida, permite reconhecer e absorver com segurança as autênticas moções e inspirações que advêm dos canais da espiritualidade. Mostraremos, por fim, que a melhor forma de educá-la se fundamenta no equilíbrio.
Para que o ser humano desenvolva sua personalidade, necessita de grande sensibilidade. Não uma sensibilidade egocêntrica, interesseira, que dirija suas ocorrências apenas para dentro de seu portador, mas de uma sensibilidade que capte as demandas alheias com vistas a auxiliar a solidariedade. A fortaleza espiritual não pode ser concebida sem se tomar em consideração o valor transcendente da sensibilidade. De fato, ao saber manejá-la bem, o ser humano avança incomensuravelmente em sua caminhada de aperfeiçoamento moral.
A sensibilidade também não deve ser usada como um instrumento de poder ou uma cortina de fumaça para encobrir objetivos particulares e menos legítimos. É inadmissível, por exemplo, que uma pessoa, querendo convencer a outra sobre determinado assunto, procure persuadi-la dizendo que tal ideia foi captada por sua extraordinária sensibilidade, quando na verdade foi engendrada em sua mente doentia.
Aqueles que possuem uma sensibilidade mais aguda devem viver com os olhos voltados para o cultivo das virtudes e na prática constante e desinteressada do bem, pois assim exteriorizarão suas melhores inspirações e sentimentos em atitudes concretas de elevada beleza e dignidade, sempre em prol do bem comum.
Todos, independentemente de origens e contextos pessoais, são capazes de se sensibilizar, empenhando-se em auxiliar a sociedade e a comunidade em que vivem. A capacidade de emocionar-se equilibradamente e sem afetações diante das cenas comuns do cotidiano e das novas descobertas que a vida não cessa de proporcionar estimula a sensibilidade e auxilia na formação cultural do ser humano. A razão deve orientar a vontade e esta, administrar a sensibilidade.
A sensibilidade característica das mulheres as tornou agentes privilegiadas de grandes feitos em benefício da dignidade humana, manifestando, assim, a vocação espiritual que lhes compete no mundo contemporâneo. A mulher que conduz de maneira elevada sua sensibilidade tem a personalidade enriquecida e logra ser instrumento insubstituível na formação da família, fundamento de toda sociedade saudável.
Indiscutivelmente, requer-se a consciência do dever de solidariedade para com os integrantes do tecido social, pois todos têm direito à inclusão. É chegado o momento de dar um basta às discriminações, e a sensibilidade muito pode nos ajudar nesse sentido. É preciso combatermos não somente os preconceitos étnicos e religiosos, sociais e culturais, mas também aqueles dirigidos aos portadores de necessidades especiais, que, sendo tão talentosos e sensíveis, merecem de nós toda a atenção e receptividade.
Qualquer progresso autêntico perceptível pelos sentidos físicos, seja ele de natureza econômica, moral, científica ou ética, revela um progresso interior, sempre sustentado por pensamentos positivos, emitidos por pessoas que aprenderam a controlar sua mente e sua sensibilidade por meio de uma vida disciplinada, produtiva, reta e honesta, voltada para o exercício das virtudes e para a prática do bem. Breve e vazia de sentido é toda conquista não sustentada por uma verdade interiormente comunicada e moralmente ordenada.
Há que ressaltar, todavia, que não basta depurar a mente dos elementos perturbadores que lhe são introduzidos pelo problemático ambiente contemporâneo, fortemente influenciado pelo consumo e pela busca incessante do prazer. É preciso um passo a mais, um incremento de sensibilidade, por assim dizer, para discernirmos melhor as intuições e inspirações que nos chegam, entendendo-as não como imposições exteriores que se sobreponham a nosso livre-arbítrio, que neguem nossa autonomia, mas sim como instrumentos válidos e valiosos que nos auxiliem e engrandeçam, desde que nos empenhemos em viver sob o influxo das mais sublimes e autênticas aspirações.
Concluímos afirmando que a melhor forma de controlar a sensibilidade muito dista da evasão ao mundo exterior, que objetiva concentrar-se apenas no íntimo, na subjetividade. O melhor uso da razão nos impele ao contato virtuoso com o próximo, a fim de auxiliá-lo e com ele aprender. Sem dúvida, a sensibilidade nos será muito útil nesse processo de erros e acertos, de encontros e reencontros.
Muito Obrigado!