Com este artigo encerramos o capítulo sobre Thomas Hobbes, matemático e filósofo inglês, autor da obra Leviatã, termo que, na mitologia fenícia, dá nome a um monstro marinho, retomado no século XVII por Thomas Hobbes para designar o Estado absolutista preconizado por ele.
Na lista cronológica dos sucessores e discípulos do fundador do empirismo, Francis Bacon, tema do artigo 108 desta história do racionalismo, Thomas Hobbes (1588-1679) é o primeiro, seguido de John Locke (1632-1704), George Berkeley (1685-1753), David Hume (1711-1776) e John Stuart Mill (1806-1873).
Tratado político. Leviatã, obra de maior destaque de Hobbes, é um tratado político em que ele explica ou, na verdade, procura justificar a relação entre os cidadãos e o Estado absolutista. A obra exerceu grande influência sobre dois importantes pensadores do século XVIII, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e Immanuel Kant (1724-1804), e sobre os enciclopedistas franceses, realizadores, na segunda metade do século XVIII, do movimento cultural conhecido como Enciclopedismo. Defensor de um sistema de governo absolutista, o hobbesianismo (doutrina de Hobbes) parte da suposição de que a insociabilidade é inerente à condição humana. Assim sendo, diz esse filósofo, o poder de coerção do Estado é decorrente de um necessário e consentido pacto social entre os cidadãos – pacto que teria por objetivo limitar os desejos ilegítimos, exacerbados ou beligerantes e instaurar a paz na vida social.
Poderes absolutos e irrestritos. Como partidário desse regime político, em que o chefe de Estado possui poderes absolutos e irrestritos, Hobbes vale-se das condições negativas da natureza humana para legitimar o poder total do soberano – poder esse imposto pela força e pelo resultante medo causado pela força –, para Hobbes “únicos instrumentos capazes de garantir a paz”.
Suas ideias a favor do Estado absolutista foram motivadas pela conturbada série de revoluções políticas, desencadeadas durante quase trinta anos, instaurando em tão longo período de conflitos um permanente clima de tensão na Inglaterra. E acrescente-se a essas graves conturbações o fato de Hobbes ter sido filho de um pai violento e irresponsável.
Pensador que se distinguiu também por sua preocupação com os conflitos entre o poder civil e o poder religioso, bem como por seu interesse pela política e as questões sociais, Hobbes defendeu, na obra Leviatã, a soberania do Estado sobre as questões religiosas, pois, do contrário, a então poderosa Igreja Católica conflitaria com o poder civil.
Racionalismo político. A doutrina de soberania – autoridade suprema de soberano, ou rei – inculcada pelo empirista Hobbes condizia com o crescente poder de uma burguesia com indícios de “racionalismo político”, que desejava tornar laico o pensamento e estabelecer um critério não religioso para a legitimação do poder.
Hobbes tinha, além da filosofia, mais dois amores, a história e a literatura, amores que o teriam induzido a traduzir Tucídides e Homero.
Maior historiador grego, Tucídides (século V antes de Cristo), apelidado de “pai da história científica”, é autor da obra História da Guerra do Peloponeso, composta de nada menos que oito volumes, “revalorizada no Ocidente”, diz um historiador da atualidade, “depois de traduzida para o inglês, no século XVII, por Hobbes.
De Homero (poeta que viveu entre os séculos IX e VIII antes de Cristo), Hobbes traduziu a Ilíada e a Odisseia, ambas do gênero épico, tidas como as mais importantes e famosas epopeias da literatura universal, que haveriam de propiciar a Homero a honra de ser exaltado, pelos tempos afora, como um dos grandes poetas da humanidade, ou mesmo o maior!
Mas, voltando à filosofia, vamos encerrar o artigo citando a célebre frase de Thomas Hobbes: “O homem é o lobo do homem”, pois, segundo ele, o homem é o maior inimigo do próprio homem.