Um certo pensador afirmou que “a felicidade é o máximo entre o sonho e a realidade”. Num momento histórico marcado por tantas insatisfações, revoltas e angústias com as mais variadas tensões, acumulando-se quase a cada momento, ainda assim, você se considera uma pessoa feliz? De que modo você vem construindo ou destruindo a sua vida?
Se você é daqueles que não se satisfazem com pequenas alegrias e nem conseguem sensibilizar-se com as coisas mais simples da vida, é natural que considere absurdas essas perguntas, pois lhe parece impossível que alguém possa sentir-se feliz quando a sociedade onde vive vai mal, a ponto de empresas passarem por um período de incógnita em relação ao futuro, de o desemprego estar batendo à porta de milhares de pessoas, salários e aposentadorias mal conseguirem suprir as necessidades básicas de sobrevivência enquanto o medo habita as mentes e as ruas. Se você vive somente a pensar em problemas e a nada observar além disso, então não será novidade que o mau-humor seja seu companheiro constante e que se revolte com a velocidade do tempo, que passa, marcando de rugas seu rosto e de branco os seus cabelos. Sua fisionomia tensa e angustiada tem nos ideais sonhos cada vez mais distantes, e nos problemas pessoais abismos intransponíveis.
Compreendemos o seu modo de encarar a realidade, porém, mesmo sabendo que tudo o que acontece no meio em que vivemos de alguma forma repercute em nossa vida pessoal, vale dizer que quem tem a convicção da transitoriedade das coisas deste mundo não se entrega, nem se desespera, porque, sendo a Terra uma grande escola, não resta ao ser humano outra alternativa do que aprender lutando as lições que a vida nos dá. É nesses momentos que o indivíduo deve raciocinar e se perguntar: “Que imagem tenho de mim mesmo, o que há de bom com minha vida?”
Infelizmente boa parte das atitudes humanas dá a impressão de que um número considerável de pessoas parece só notar o lado negativo da existência, como se nada de bom e belo existisse, como se os acontecimentos desagradáveis fossem privilégios da época atual.
Conhece-te a ti mesmo. Isso ocorre porque, consciente ou inconscientemente, construímos uma imagem negativa de nós mesmos, o que sem dúvida influencia nosso comportamento e expectativas em relação aos outros. Talvez você esteja se perguntando como ter uma imagem positiva de si mesmo, nesse caso diremos que o primeiro passo a seguir é observar o princípio de Sócrates, sábio filósofo grego: “Conhece-te a ti mesmo”, isso porque adquirir uma imagem positiva significa antes de tudo ter uma visão realista dos próprios atributos, potencialidades, personalidade, tendências, caráter, qualidades e defeitos.
Ao desenvolver imagem negativa de si mesmo, está aberto o caminho dos complexos, dos vícios, do desespero, da revolta, e até das tentativas de suicídio. Nos casos mais graves a autoestima fica totalmente obscurecida e comprometida pela perturbação psíquica exercida a partir dos pensamentos negativos do indivíduo e sua influência sobre suas atitudes, caráter, consciência e personalidade. Portanto, ao lapidar a autoestima o indivíduo passa por um processo de crescimento interior, em que o raciocínio se aprofunda, a inteligência se torna mais nítida e a compreensão atinge parâmetros até então desconhecidos. Disso se conclui que, quando o ser humano se aproxima da verdade do que realmente é, está abrindo caminho rumo a um estágio mais elevado do seu crescimento interior, tornando-se, assim, mais capaz e mais sensível ante a natureza e todas as coisas boas que a vida oferece àqueles que sabem viver.
A propósito, o que é felicidade para você? O que o faz sentir-se feliz? Recente pesquisa sobre esse assunto recebeu respostas bem interessantes, como a da atriz Vera Fischer, para quem a felicidade se resume no que se classifica de quatro sensações básicas: “saúde, reconhecimento, carinho dos amigos e paz interior.” Mais do que uma simples resposta, as palavras do psiquiatra Roberto Shinyashiki traduzem a evidente relatividade da vida humana: “O que me faz feliz é saber que os acontecimentos da vida são temporais. Que tudo passa. A dificuldade, a fase ruim, os obstáculos passam. Assim como as coisas boas, é bom saber que nenhum sofrimento e nenhum prazer são eternos. Quando nos apegamos a um prazer, sofremos. Prazer é como um bombom, é gostoso, mas uma hora acaba. Também não podemos cultivar um sofrimento, pois ele também passa. Essa consciência me faz feliz”, concluiu numa definição que se enquadra na conceituação de que tudo nesta vida é relativo e transitório.
Mas se almejar dias melhores com menos motivos de inquietude, maior estabilidade econômica e uma vida afetiva equilibrada e feliz, direitos e objetivos comuns, depende de cada um ser bem-sucedido na busca dos seus ideias de vida.
Margarete M. Mendonça
Publicado na edição de março de 1992