Dados divulgados recentemente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que, nas próximas décadas, a depressão deve se tornar a doença mais comum do planeta, impactando a economia global de maneira avassaladora. Nesse contexto, incontáveis são as abordagens e pesquisas que orbitam atualmente o tema da depressão. Não obstante a importância do tema, não há entre os especialistas consenso quanto a sua origem ou conceituação; porém, analisando a questão pelo prisma da espiritualidade defendida pela Racionalismo Cristão, não é difícil formular-lhe um conceito, tampouco indicar um possível caminho para sua superação.
O recurso à etimologia é bom subsídio para uma compreensão inicial do assunto ora analisado: “depressão”, do latim “de” + “premere”, traduz uma ideia de compressão, de cerceamento da liberdade de ação. De fato, a pessoa depressiva tende a se sentir imobilizada diante da intensa angústia que experimenta. Sem nos aprofundarmos, por enquanto, quanto à sua origem ou solução, vislumbramos a depressão, do ponto de vista espiritualista, como um fator de submissão do ser humano a uma força que lhe parece ser insuportável e intransponível; todavia, essa análise está sempre adstrita a um conjunto de fatores complexos que, por isso mesmo, não podem ser reduzidos a uma ou outra estruturação inflexível.
A busca por soluções requer um olhar ampliado sobre a realidade para assim poder penetrar na essência das coisas, que reside, indiscutivelmente, no campo da espiritualidade. O esclarecimento espiritual proporcionado pelo Racionalismo Cristão representa a força propulsora para o verdadeiro entendimento dos fenômenos que cercam o ser humano. Por essa razão, estamos convictos de que estudar a espiritualidade desvinculada de qualquer interesse, propô-la com clareza e dar mostras objetivas de seu conteúdo por meio de uma conduta digna são passos poderosos para evitar a depressão – e, mais do que isso, para fortalecer o ser humano em todos os sentidos.
Todo ser humano tem um impulso interior para o amor. Essa propensão natural, que faz parte de sua essência, é indelével e irrenunciável. Quando a pessoa nega sua afetividade, ou quando esta lhe é negada pelo grupo a que pertence, estabelece-se um quadro propício para a irrupção de vários distúrbios psíquicos, inclusive a depressão. A frustração afetiva, que é um flagelo capaz de anular a criatividade e cercear a espontaneidade, emerge vigoroso na sociedade contemporânea, que supervaloriza a aparência, a fugacidade, o prazer efêmero e o consumismo desenfreado.
Para além dos fatores bioquímicos, a depressão pode se firmar por autodeterminação. Isso ocorre quando é a própria pessoa que escolhe dada conduta inadequada e sabotadora, desprezando as disciplinas construtivas da vida e mergulhando no pântano dos vícios – cujo resultado só pode perturbar e alienar –, ou então quando o ser humano sofre de um trauma alheio a sua vontade, mas que o afeta diretamente. Em ambos os casos, ele possui latentes em seu íntimo os recursos para sua reestruturação, que são ativados pela força de vontade e ampliados pela razão.
Auxiliamos efetivamente uma pessoa depressiva incentivando-a à prática de atividades físicas e intelectuais, mantendo contato permanente com ela, demonstrando interesse por suas ações – o que melhora sua autoestima, indicando-lhe boas leituras, por fim, incentivando sempre a busca pelo autoconhecimento e a prática reflexiva, sem jamais perder a paciência e a calma. O tratamento médico não deve ser desprezado, embora a ciência, por suas próprias limitações, não abarque toda a realidade em matéria de distúrbios psíquicos. Certo é que a vivência espiritualista fornece os elementos insubstituíveis para a organização dos pensamentos e para a superação da depressão.
Estamos cientes da complexidade do tema de que tratamos nesta reflexão, incluindo suas nuances e matizes. Procuramos expor com sinceridade os elementos e princípios racionalistas cristãos nos quais fundamentamos nossas análises. Nunca renunciaremos à proposição da necessidade de disciplina, de método, de dinamismo, de elevação do pensamento e de critério nas escolhas, só para não afetar sensibilidades ou para ter um discurso politicamente correto. Ao fazê-lo, privaríamos as pessoas que estão depressivas ou inclinadas à depressão dos valores que podemos e devemos oferecer. Não haja dúvida: é por meio dos elementos anteriormente enunciados que o ser humano se põe em condições de traçar uma rota segura para a vitória sobre a depressão. Eis, em breves palavras, a expressão de nossa mais autêntica convicção.
Muito Obrigado!