A disposição em fornecer subsídios para o esclarecimento espiritual dos seres humanos, para que, despertando a consciência acerca do valor e das potencialidades intrínsecas que possuem, se fortaleçam para superar a depressão tem sido a tônica de nossos últimos artigos. Sem dúvida, estamos convictos de que a liberdade que advém da consciência esclarecida, conjugada com o uso adequado do livre-arbítrio, conduz à vitória sobre as desilusões, as ansiedades e os complexos de ordem psíquica.
A saúde psíquica não se constrói por meio da acumulação de conhecimentos e observações teóricas, nem pelo uso contínuo de medicamentos psiquiátricos. Ela resulta, antes, da firme disposição em substituir pensamentos e sentimentos inadequados por outros que sejam positivos e elevados, bem como do equilíbrio nas decisões, do amor ao trabalho, da disciplina no viver e do cultivo das virtudes. A absorção desses valores espirituais não pode se dissociar de nenhum tratamento que tenha por objetivo o equilíbrio emocional e psíquico: é inviável a compreensão dos transtornos nessa matéria sem que se evidencie sua relação com a espiritualidade. Eis o que temos procurado demonstrar ao longo desses artigos que se encerra com este quarto.
A onda de materialismo que se faz presente em praticamente todas as camadas da sociedade, influindo na formação de gerações que se movem mais pelo desejo de possuir bens e experimentar novas sensações do que pela vontade de autoaprimoramento e convívio fraterno, desemboca num oceano de distúrbios psíquicos para o qual o ser humano contemporâneo é arrastado. Nesse contexto, sentimentos legítimos se reduzem a interesses mesquinhos e frívolos, o amor-próprio cede espaço ao amor às coisas materiais e o ser humano é surpreendido por uma sensação de vazio existencial que engendra diversos quadros depressivos.
A tendência pelas soluções fáceis e rápidas, tão em voga hoje em dia, busca disfarçar a indisciplina e a falta de constância no desenvolvimento dos valores espirituais em sínteses expressivas, presentes em clichês e máximas que não promovem senão um falso conceito de liberdade. É sempre mais cômodo transferir responsabilidades do que assumi-las. Contudo, tal gesto é nocivo ao espírito, fomentando, não raras vezes, o pessimismo e a indiferença, que resvalam, por sua vez, para o campo dos transtornos psíquicos.
No itinerário de superação da depressão e de distúrbios análogos, grande papel desempenha a força de vontade. O equilíbrio emocional a que todos almejam exige, objetivamente, a consciente ativação da força de vontade. Não existe depressão que resista à energia de uma vontade constante e bem direcionada. As patologias da mente, que hoje atingem incontável número de pessoas em todo o mundo, expõem, de certa forma, um flagrante desconhecimento acerca desse importantíssimo atributo espiritual.
O esclarecimento espiritual proporcionado pelos ensinamentos racionalistas cristãos é, como reiteradas vezes afirmamos, a principal arma contra a depressão, pois proporciona o autoconhecimento e a valorização da essência espiritual dos seres humanos. A pessoa que se busca esclarecer avança firmemente pela senda da verdadeira libertação. Tem plena consciência de seus equívocos e limitações, mas também se sente fortalecida e revigorada pela certeza do valor interno e imperecível que possui, por meio do qual pode ultrapassar quaisquer adversidades.
No transcurso de nossos últimos artigos sobre a depressão à luz da espiritualidade, identificamos importantes causas históricas, coletivas e individuais que estão na origem desse distúrbio. Todavia, por mais que a questão esteja envolta em camadas e nuances muitas vezes complexas e difíceis, procuramos demonstrar que as soluções efetivas passam necessariamente pelo campo da espiritualidade. Este é o ponto fulcral de nossas análises, devendo ser enfatizado nesta conclusão: é por meio da espiritualidade que a pessoa adquire confiança em suas próprias forças e, sem jamais desprezá-las, torna-se cada vez mais segura e feliz, como nos ensina o Racionalismo Cristão.