Ilusões efêmeras

Para entendermos a problemática que esse tema despertará na mente dos leitores devemos considerar, de início, dois temas de que tratamos respectivamente com os títulos Imanência e Transcendência no livro Intuição e Realidade, páginas 85-88. O primeiro trata da percepção da realidade material com o uso exclusivo dos nossos sentidos físicos e o segundo com os recursos latentes no nosso acervo espiritual, sobressaindo nesse contexto a intuição. Como bem sabemos a intuição é inata em todos os seres humanos, variando tão somente o grau de sua manifestação, desempenhando papel relevante no desbravamento da espiritualidade.

Conceito de ilusão em espiritualidade. Consultando várias fontes espiritualistas e doutrinárias, com palavras diferentes, elas afirmam que a vida na Terra é uma grande ilusão. Com base em que? Nos fundamentos doutrinários e filosóficos multi existencialistas de seus ensinamentos, que em princípio ensinam que somos espíritos que passamos por muitas vivências terrestres com a única finalidade de ajudarmo-nos uns aos outros e promovermos nossa evolução espiritual. E onde está a tal de ilusão? Podemos afirmar que as ilusões são efêmeras e ocorrem para o espírito apenas durante sua trajetória na Terra. Então, concluímos que a ilusão deriva das imperfeições e da imprecisão de nossos sentidos físicos para perceber e sentir o que ocorre quando o espírito deixa seu corpo físico através do fenômeno da morte física. Toda vez que nos afastamos da verdade, realizando atos que nossa consciência reprova e condena, estaremos iludindo-nos, causando consequências sérias com a aplicação da lei de causa e efeito, retardando nossa evolução. Então, qual a grande verdade? É reconhecer a existência da Inteligência Universal (Deus) e suas parcelas ou emanações (espíritos em evolução), atuando sob as leis evolutivas universais.

O espírito é uma realidade transcendental e imortal com conhecimentos amplos próprios dos campos vibratórios onde estagia, mas quando em vida física perde a memória das vivências passadas e fica sujeito às realidades da Terra sob o comando do seu livre-arbítrio para fazer as escolhas necessárias à sua evolução. Dependendo do grau de espiritualidade entendido como aproveitamento dos ensinamentos a que foi submetido em existências passadas, as ilusões efêmeras do mundo tornam-se para ele fonte de muitos desejos e desafios com o objetivo de fortalecer sua vontade e acelerar sua evolução.

É nesse embate que terá que enfrentar as ilusões efêmeras da Terra. O que o desafia? Principalmente, os vícios de todas as espécies, complementados por sentimentos negativos como arrogância, raiva, ódio, egoísmo, orgulho, prepotência, medos e conceito errado de felicidade, para citar os principais.

Em segundo lugar, a confusão que as pessoas fazem entre desejo e vontade. Ver no livro Valor dos Sentimentos, página 59, o tema Desejo e vontade.

Conceito de ilusão em filosofia. No entendimento do autor desse tema, toda pessoa tem algo de filósofo em si que a leva a imaginar o mundo e as coisas da vida ao mesmo tempo com expectativa de bem viver, mas também com certa desesperança e ilusão. Ou seja, traz em si o atributo da curiosidade. Em seu livro A República, Platão apresenta O mito da caverna, clássico cultuado até nossos dias, em que fica bem explicitado o fenômeno da ilusão do mundo. Essa história, que pode ser encontrada na Internet, com diferentes versões, escrita no século IV antes de Cristo, mostra com muita sabedoria, a diferença entre a ignorância (as trevas da caverna) e o conhecimento (a luz do exterior, no sentido figurado) fora da caverna.

O progresso material da humanidade é um fato em todos os campos da atividade humana, notadamente nos campos científico, filosófico, psicológico, da medicina etc. Pois bem, com esse entendimento, fica claro que vivemos em duas realidades, mas o predomínio da materialidade durante o progresso das civilizações até os dias atuais vem atrasando o despertar da maior parte da humanidade para a espiritualidade. É difícil compreender essa cegueira proposital que tanto retarda a evolução espiritual, inexoravelmente projetada para todos nós pela Inteligência Universal através das leis evolutivas universais.

Muitos seres humanos ainda precisam encarar as ilusões da vida com maior intensidade do que outros, pois a estrutura das atividades na Terra é competitiva e não colaborativa. As estruturas sociais e a cegueira espiritual de muitos propiciam condições para se iludir e muitas maneiras no sentido de eliminar o egocentrismo, a arrogância e outras emoções de baixa frequência como a vaidade e a prepotência de muitos seres.

Conceito de ilusão em psicanálise. Aqui, como não poderia deixar de ser, Freud foi o pioneiro em examinar o conteúdo da ilusão, conteúdo que evoluiu em cada uma das três fases de sua obra. Tão vasta é a sua obra que seria para o autor desse artigo um desafio intransponível tecer um resumo apropriado. Podemos, quanto a esse tema da ilusão, desdobrar sua obra em três fases: na primeira fase (1893-1900) ele trata a ilusão como objeto de pesquisa psicoanalítica, atribuindo-lhe uma posição científica, caracterizando a ilusão das fantasias histéricas, a ilusão dos sonhos e dos devaneios, a ilusão das idealizações e dos ideais narcisistas, a ilusão da paixão amorosa e dos apaixonados, a ilusão das experiências transferenciais no espaço da análise no consultório e assim por diante. Nessa fase ele definia a paixão como realização do desejo. Sua conclusão foi que a ilusão não pode ser imposta ou proibida, demonstrada como verdadeira ou refutada como falsa, aceita ou descartada sob o ponto de vista moral.

Na segunda fase (1900-1920) ele subverteu completamente a ideia do senso comum exposta na primeira fase. Aqui ele deixou de defender a verdade do conteúdo das criações ilusórias.

Nessa nova perspectiva, ele destacou a capacidade e a potencialidade do poder criativo da  ilusão, considerando-a uma acepção positiva válida tanto para o plano pessoal como para o plano cultural, dando à ilusão uma acepção positiva. Na terceira fase (1920-1939) ele trata a ilusão sob o ponto de vista da moral e da ética, insistindo nesses aspectos filosóficos.

Conceito de ilusão em religião. Todas as religiões se firmaram na ideia do desamparo e da necessidade de proteção aos seus seguidores ou devotos. Daí, a necessidade de contar com a ajuda do Pai Protetor (Deus) forte e poderoso que irá sempre salvá-lo na Terra enquanto durar sua vida terrena e, após a morte, no céu ou em algum lugar no Universo sob sua ação e domínio total, eternamente.

Ao longo dos séculos as religiões contribuíram no sentido de conter os excessos destrutivos e antissociais da índole humana que tolheriam a civilização. Contribuiu, também, para reprimir desejos sexuais e outros desejos profundos do homem nas sociedades. O objetivo sempre foi fazer do homem um ser mais harmônico e feliz, embora, nesse sentido a religião tenha falhado, causando grande mal através das numerosas guerras e criminalidade, gerando mal-estar e insatisfação na civilização. Em sua obra O mal-estar na civilização, Freud (1930) diz que “o Eu tem tendência a afastar tudo o que causa desprazer ao indivíduo, tentando, assim, evitar o sofrimento e a infelicidade das pessoas”. Também neste sentido as religiões falharam.

Conceito de ilusão do conhecimento. Nossa pretensão aqui é falar do conhecimento transcendente ou metafísico que Jesus Cristo veio ao mundo para nos ensinar. Antes dele, outras personalidades abriram caminho com ensinamentos similares, próprios para cada época, como Hermes no Egito, Buda, Confúcio, Zoroastro, Sócrates e Platão. Depois dele, muitas pessoas que seguiram seus passos como Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino, Goethe, Kant, Helena Blavatsky, Kardec e Luiz de Mattos atualizaram os ensinamentos cristãos, cada um a seu tempo e ao seu povo. A meta desses homens era ensinar e nos legar como conhecer a verdade de forma integral, em condições de responder, sem ilusão, às perguntas: Quem somos? De onde viemos? O que estamos fazendo aqui? Para onde vamos? Como exemplo, citaremos três expressões que dizem muito sobre a verdadeira realidade:

1. Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (Jesus Cristo);

2. Conhece-te a ti mesmo

(Sócrates);

3. Busque a sua própria Luz (Buda); e

4.  Conhece-te como Força e Matéria (Luiz de Mattos).

As ilusões da vida na prática. Os conceitos expostos até aqui sob enfoques diversos não abordam ou recomendam desvios de conduta ou das boas práticas de bem viver que venham transgredir as regras ético-morais.

Não obstante, o mau uso do livre-arbítrio por parte de um grande número de pessoas de nossa sociedade, que ainda não se desvencilharam da materialidade exacerbada dominante, continua alimentando ilusões efêmeras que proporcionam satisfações e prazeres passageiros. Todavia, por não conseguirem livrar-se dos erros mais comuns ao processo evolutivo espiritual, as pessoas enveredam pelos caminhos dos atos libidinosos, orgias e vícios em geral, como o do álcool, do fumo e das drogas, todos difíceis de serem eliminados.

Conclusão. Então, como mudar esse terrível quadro de apego às ilusões efêmeras, que tantos danos causam aos humanos? Nós, que professamos a filosofia racionalista cristã, recomendamos estudar a espiritualidade com olhos bem abertos e ouvidos bem atentos. Conhecendo-se como Força e Matéria e compreendendo que a vida do espírito é uma só movida pela lei da evolução ora na Terra, ora nos campos espirituais alcançados através do processo evolutivo, cabe aos humanos aprender e saber viver em plena consciência e plena responsabilidade pelos seus atos no cumprimento dos seus deveres, sem se afastarem deles, em nenhuma hipótese.