A inquietude e a transitoriedade humana

Neste tema os vocábulos inquietude e inquietação são tratados como sinônimos que se opõem ao vocábulo quietude ou paz de espírito, este como emoção resultante do atributo domínio de si mesmo. Eis alguns sinônimos de inquietude: agitação, excitação, ânsia, ansiedade, estresse, impaciência, intranquilidade, alvoroço, desassossego, desconforto, agonia, aflição, alteração de si próprio e preocupação. Com esse pano de fundo vamos desenvolver nosso tema.

Não devemos esquecer-nos que nossa passagem por este nosso mundo-escola é de absoluta transitoriedade e nem confundir vida com vivência. Embora a vida seja uma só, a do espírito, passamos por muitas vivências através de múltiplas existências. Para cada um de nós como sujeitos ou pessoas chegará o dia em que vamos falecer. Nessas simples informações espiritualistas refletimos nossa finitude como pessoas.

Filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles e, mais recentemente, muitos outros trataram do tema da inquietude, como Michel Foucault (1982), em seu livro, Hermenêutica do Sujeito, ao refletir sobre a transitoriedade da vida e das coisas. Ele reafirmou as ideias de Sigmund Freud do que é transitório e da inquietude.

A inquietação do espírito humano. Ao filosofar, o primeiro impulso que nos chega está expresso pelo termo grego thaumazein, que tem o significado de admiração, perplexidade e assombro que o mundo nos causa. Daí ser a Filosofia um “convite para saborear o conhecimento ao qual todos podem acessar”

Enquanto o encontro do si mesmo é um processo natural que cresce com a formação do eu da pessoa desde o nascimento, trazendo muitas certezas do que é a vida no mundo-escola Terra, surgem também as incertezas e delas emerge a inquietude do viver através dos embates para ser feliz agravados pelas tragédias naturais. É um fenômeno complexo, mas a inquietude ocorre paralelamente com as certezas obtidas através da luta pela vida, a que todos estamos submetidos.

O conhecimento do atributo domínio de si mesmo ou autodomínio é essencial para assegurar ao ser humano controle de seus impulsos em todas as situações da vida, principalmente quando a pessoa estiver relacionando-se com outras pessoas. (Página 38 do livro essencial Racionalismo Cristão – 46ª edição). Sem ele, estaremos inseguros e introjetando muitas incertezas em nossa mente. Esse atributo opera contrariamente à inquietude que nos deixa perplexos e inseguros diante de muitas situações que ocorrem no nosso viver.

A posição de Freud face à inquietude. Um dos grandes estudiosos mais recentes dos nossos impulsos foi Sigmund Freud, narrados em seu livro escrito em 1913 e publicado em 1915 sob o título Pulsões e seus destinos. Aqui ele trata da oposição entre as emoções do prazer e desprazer, a primeira projetada para o interior de si mesmo e a segunda, projeção provinda de fontes externas. Mais tarde, ele percebeu que essa dualização é insustentável e deduziu que as impressões do prazer provêm, também, do mundo exterior. Englobadas nesse conceito ele deduziu que o conflito entre prazer e desprazer nos leva a um novo perigo que é a aderência ou apego às coisas e pessoas que nos circundam.

É de se perguntar o que acontece quando alguém nos impõe algo? Causa em nós uma reação de perplexidade, um impulso de opressão às nossas próprias convicções, causando uma espécie de sombra em nosso EU, que nos faz perceber que somos ignorantes em assuntos em que acreditávamos ser sábios conhecedores. Por isso, torna-se muito difícil acolher o que o outro tem a nos dizer. E deixa a pessoa inquieta consigo mesma devido às incertezas plantadas em sua mente, afastando-a da zona de conforto. Essa tentativa de invasão de nosso EU é mais frequente do que se pensa. Por isso reinsistimos em aprender a dominar-nos para evitar surtos de inquietude, que podem nos levar à ansiedade e até mesmo à depressão.

Freud e a transitoriedade (1915). Freud, desde 1915, nós deixou uma noção bem nítida sobre a transitoriedade de tudo que existe na vida das pessoas, mesmo sendo um reconhecido materialista. Ele reconheceu que na verdade nada de natureza material tem valor em nossas vidas. Ele concluiu também que o que é escasso no tempo aumenta o seu valor intrínseco. Até mesmo raramente conseguimos perceber que o tempo não para e que a vida passa. Sabemos que algum membro de nossas famílias vai falecer antes de nós. Para as pessoas não espiritualizadas isso é terrível e traz certa angústia por ignorarem a verdadeira vida e, portanto, que a morte não existe em sua essência. Como seria angustiante viver pensando o tempo todo no fim da vida! Somente os espíritas e espiritualistas conhecem essa dimensão transcendente e procuram aproveitar suas experiências de vida que são gravadas em seus subconscientes, como se armazenam informações no disco rígido de um computador ou em pendrivers.

Conclusão. Neste tema apresentamos que, do ponto de vista materialista, segundo Freud, o EU se forma sob o efeito recebido das fontes externas existentes na Terra. Vimos, também, que a expressão inquietude de si mesmo é devida ao filósofo Michel Foucault, que nos mostrou como se cria essa condição mental naqueles que ignoram os conhecimentos espiritualistas, mas acabam resignados diante da própria vida e seus fenômenos, ainda que muitos deles permaneçam inexplicáveis. Isso perturba as pessoas a tal ponto que elas não conseguem fixar o olhar para si mesmas de modo atento e preocupado. Dessa forma, as pessoa se alienam aos efêmeros atrativos terrenos, afastando sua atenção sobre a responsabilidade que têm sobre si mesmos.

Diante desse quadro, não há uma constituição ética verdadeira e responsável sobre si mesmo e seus deveres de ser humano.

Mais recentemente, em 2002, o referido filósofo indicou como experiência para criar responsabilidade sobre si mesmo o processo pelo qual a pessoa passa a adquirir pela submissão à psicanálise, situação em que o diálogo estabelecido entre paciente e psicólogo lhe dará abertura para descobrir o si mesmo, conhecimento adquirido simplesmente pelo conhecimento do atributo do autodomínio. Nesse sentido, a psicologia é um ramo do saber humano que interroga as pessoas e lhes dá a diretriz para despertar para a espiritualidade em busca da verdade transformadora que as direciona para o conhecimento sobre o seu EU.

Todavia, um caminho mais direto e mais rápido existe para atingir o conhecimento mesmo mediante os ensinamentos mais profundos que os princípios fundamentais do Racionalismo Cristão transmitem aos frequentadores de suas casas espiritualistas e aos leitores de suas obras, inclusive os vídeos digitais exibidos no Youtube.