Os desastres de uma vida ociosa

Por experiência própria, pode um homem acabar por convencer-se de que ninguém, nasceu para lisonjear uma vida ociosa; aliás, já se diz há muito que “a ociosidade é a mãe de todos os vícios”, facilitando a compreensão do quanto a falta de ocupação proveitosa arrasta o ser humano para situações comportamentais calamitosas, das quais muitas vezes se torna quase impossível libertar-se. E, como se sabe, toda irregularidade de conduta rouba anos e mais anos de vida porque corresponde a forças desperdiçadas que anulam gradativamente o poder de resistência do homem em sua trajetória terrena, impedindo-o de levar por completo a missão para a qual veio ao mundo.

A falta de trabalho é incompatível com o bem-estar e com a felicidade do ser humano; até mesmo a saúde do corpo, como também a da alma, são penalizadas pela ociosidade que não deixa de ofender os princípios fundamentais do progresso. E para o progresso todos têm o dever moral de trabalhar. Enquanto a luta laboriosa traz bem-estar, harmonia, saúde e alegria de viver quando a ela se entrega com o mais precioso gosto, a indolência vem a transformar-se mais cedo ou mais tarde num perpétuo horror, convertendo a existência terrena numa grande tragédia, alterando avassaladoramente as disposições do espírito.

Quem detesta o trabalho, não vendo nele uma dádiva da natureza, não se apresenta espiritualmente equilibrado e, por isto mesmo, por toda parte onde se encontra vive a lamentar sua crise existencial, chegando até mesmo ao absurdo de deitar a culpa em Deus e não procurar compreender a origem verdadeira de suas aflições.

Através da ociosidade, o homem se conduz às paixões mundanas, aos abusos do prazer e dos apetites de natureza material, como também ao abandono da diligência e da racional reflexão. Suas energias físicas e anímicas vão sendo esterilmente consumidas em atitudes que não se afinam, em nada, com as leis espirituais da vida e, assim, o ser humano abre uma brecha por onde penetram os inimigos da sua saúde, da sua satisfação, da sua felicidade. Quando o Racionalismo Cristão faz elevadas referências ao trabalho, não tem outro objetivo se não o de realizar uma educativa campanha capaz de levar os seres humanos a descobrirem o verdadeiro conceito da vida, infelizmente não generalizado pelas instituições religiosas: aliás, esse conceito tem sido até banalizado.

Muito mais do que as agitações sociais, a falta de ocupação em coisas úteis traz abatimento ao espírito, arrefecendo-lhes o ânimo, tirando-lhe o ardor da vontade e levando-o à debilidade ou à decrepitude muito antes de ele produzir a décima parte do que poderia produzir se aliasse à inteireza do seu caráter a realização dos bons empreendimentos, traçados por uma imaginação criadora e executados pela forte decisão de vencer. Quem estudar os conselhos do Racionalismo Cristão, procurar compreendê-los para converter as palavras em fatos, imprimirá na alma o selo do trabalho honrado e, em todos os momentos ou circunstâncias da vida, só lhe importam a firmeza de ideias, o vigor dos pensamentos e a fortaleza de ações.

Publicado em março de 1992.