Aproveitamento do tempo

Para compreender a magna importância do bom aproveitamento dos momentos, fases e etapas por que passamos na vida, faz-se necessário analisar a relação que há entre o ser humano e o tempo, mas não apenas isso: inequivocamente, teremos de considerar também, em nosso itinerário reflexivo, o valor da disciplina e a primazia do esclarecimento espiritual que nos proporcionam os ensinamentos do Racionalismo Cristão. Conscientes da autêntica articulação entre passado, presente e futuro e sobretudo da perenidade dos valores espirituais, elaboramos a presente reflexão.

O vocábulo “ser” traz em si mesmo a ideia de presença temporal. Sem dúvida, o ser humano tem uma existência no tempo e no espaço. Embora possua uma essência espiritual que não se circunscreve em limites temporais, ou seja, que ultrapassa o sentido de cronologia, é no dia a dia, por meio da utilização racional do tempo, que ele se desenvolve integralmente; é interagindo em uma realidade marcada pelo tempo, como é o mundo físico, que ele aperfeiçoa e dilata seus atributos e faculdades espirituais. Daí a relevância de bem aproveitarmos o tempo de que dispomos.

O mundo físico é interpenetrado, por assim dizer, por uma linha demarcatória do tempo: passado, presente e futuro coexistem admiravelmente. Dessa forma, o gênero humano está assinalado pela articulação entre ancestralidade, contemporaneidade e posteridade. Tal dinamismo, em que as transformações se manifestam a todo instante, permite-nos vislumbrar a necessidade de bem aproveitarmos o tempo, mas acima de tudo nos ensina que os valores espirituais que possuímos em nosso interior são imperecíveis e atemporais, posto que pertencem a uma dimensão preenchida pela eternidade e, dessa forma, nunca perdem legitimidade e poder.

Ao relacionarmos o conceito de disciplina ao tema do bom aproveitamento do tempo, queremos, em verdade, propor uma interpretação ampliada da ideia de disciplina, de forma que alguns grupos deixem de considerá-la como um impeditivo da espontaneidade e ela passe a ser considerada por todos como um surpreendente fator que possibilita maior liberdade ao ser humano. Definitivamente, viver com disciplina não é viver artificialmente, mas viver com intensidade, produtividade e racionalidade.

A correta administração do tempo depende, insistimos, de disciplina e método. No entanto, não há, em matéria de organização do tempo, uma regra fixa e válida em todas as circunstâncias. É preciso analisar, com razoabilidade e bom senso, os contextos antes de elaborar uma estratégia de aproveitamento do tempo. Pode-se afirmar, todavia, que, independentemente das situações, não pode faltar racionalidade na elaboração de metas e na seleção de prioridades, sem o que os melhores e mais legítimos projetos se diluem no campo do protelamento em que se compraz o ser indisciplinado.

Em nossa introdução, mencionamos, como de costume, a primazia do esclarecimento espiritual. E como o esclarecimento espiritual se relaciona com o tempo? Como um farol que norteia e direciona. Passado, presente e futuro se iluminam significativamente quando interpretados à luz da espiritualidade difundida pelo Racionalismo Cristão. A pessoa esclarecida concentra suas energias na administração do presente, pois entende que o passado e o futuro são dimensões especulativas: ninguém altera o que já se passou, assim como não há quem possua pleno domínio sobre os fatos vindouros.

A racional ocupação do tempo que dedicamos às nossas atividades laborais proporciona intensa satisfação e produtividade, ensejando, acima de tudo, a consciência do dever cumprido. De modo análogo, a ocupação racional do tempo livre com atividades elevadas e prazerosas, como a leitura, a autorreflexão e o convívio amistoso com pessoas de boa índole, proporciona as mais benfazejas transformações.

Muitos seres humanos sem referências positivas e estímulos producentes no que se refere à satisfatória administração do tempo sofrem miseravelmente: malgastam as energias, desprezam as oportunidades e impedem a ampliação de seus atributos espirituais. Concentremo-nos, portanto, no aqui e no agora, apoiados nas lições do passado, de cabeça erguida e com os olhos fitos no futuro – assim seremos menos tensos e preocupados e mais espontâneos e felizes.