Caruso Samel, escritor, militante da Filial Butantã (SP).
Neste artigo vamos examinar o conhecimento e as diferenças que existem filosoficamente entre o que é determinismo, fatalismo e livre-arbítrio. Inicialmente, declaramos que os termos determinismo e fatalismo não devem ser confundidos entre si. Já o livre-arbítrio se opõe tanto ao determinismo como ao fatalismo (Friedrich Wilhelm Nietzsche).
O fatalismo é uma doutrina filosófica que considera que todos os eventos que ocorrem em nossas vidas são predeterminados e imutáveis, resistindo a qualquer alteração pela vontade e ação humana.
A consequência dessa concepção ou visão de mundo leva ao conceito de destino que inexoravelmente nos conduz a pensar que não temos o poder de mudar o curso de nossas vidas. Dessa maneira, torna-se difícil tomar decisões no processo de escolhas frente às várias opções ou alternativas. Ao submetermo-nos ao idealismo estaremos nos impondo uma situação negativa de verdadeira resignação aos desígnios divinos, tirando-nos toda a motivação para vivermos e evoluirmos espiritualmente. Essa doutrina prevaleceu na antiguidade nas sociedades hebraicas e gregas.
Modernamente, o filósofo Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844– 1900) considerou que o fatalismo representaria a ideia segundo a qual todos os acontecimentos já estão previamente fixados e que a ideia do destino seria forçosamente concretizada. Ele entendia que a ação humana era uma espécie de força oponente ao destino, sem chance de rompê-lo ou vencê-lo. Ou seja, tudo já estaria pré-determinado independentemente de qualquer ação humana para modificar os acontecimentos. Nós, racionalistas cristãos, sabemos muito bem que as leis evolutivas são imutáveis e a elas não há escapatória, temos que nos submeter.
Retomamos agora o que já afirmamos linhas atrás de que fatalismo e determinismo são inevitáveis quaisquer que sejam as ações humanas no sentido de evitá-las. De outro lado, o determinismo mantém a teoria de que todos os eventos, inclusive os decorrentes de ações humanas têm como causa eventos anteriores submetidos às leis naturais. Aqui no determinismo existe um encadeamento causal sujeito a influências humanas. Enquanto isso, no fatalismo os eventos são inevitáveis e absolutos, sendo inútil qualquer tentativa humana para modificá-los. Essas diferenças são fundamentais quando se considera o envolvimento humano nos seus aspectos filosóficos e psicológicos.
O fatalismo psicológico. É importante considerar a influência do fatalismo no estado psicológico das pessoas, pois ele pode causar uma profunda visão pessimista da vida em suas atitudes.
O fatalismo pode ter impacto profundo na saúde mental e no bem-estar psicológico. Pessoas que acreditam firmemente no fatalismo podem desenvolver uma visão pessimista da vida, que pode causar um sentido de impotência. Em muitas circunstâncias, certos estados psicológicos desenvolvidos por ansiedade e até depressão podem provir dessas atitudes. Assim, pessoas que adotam o fatalismo têm muita dificuldade para atingir seus objetivos na vida. Em geral, são desmotivadas e derrotistas. Ademais, o fatalismo pode influenciar negativamente o relacionamento com as pessoas otimistas, sendo resignadas e tristes com a vida. Enfim, adotar o fatalismo, afeta sobremaneira a eficácia, como também, a confiança em si mesmas, com a força de vontade diminuída ou até mesmo anulada a ponto de influenciar a própria capacidade de realizar as mais simples tarefas e metas de seu cotidiano.
O fatalismo na ótica religiosa. Inúmeras religiões em suas práticas e ensinamentos transmitem a seus fiéis e seguidores a ideia do fatalismo e, associado a ele, a ideia da predestinação, incluída no credo a aceitação do destino. O que Deus criou e determinou não pode ser mudado, é a vontade soberana de Deus no cristianismo ou de Alá no islamismo.
Há uma submissão total aos dogmas, rituais e práticas religiosas que moldam a mente das pessoas. Isso pode proporcionar certo conforto e tranquilidade, mas tolhe o livre pensar das pessoas causando inação e passividade ou enfraquecendo as suas iniciativas.
O livre-arbítrio. O livre-arbítrio é uma faculdade de que todos os seres humanos no planeta-escola Terra dispõem para permitir fazer suas escolhas entre as muitas opções que vai encontrar na vida para promover a sua evolução espiritual.
Os espíritas e espiritualistas consideram indispensável o uso correto do livre-arbítrio. O livre-arbítrio funciona em conjunto com a lei evolutiva de causa e efeito, podendo ser usado tanto para o bem como para o mal. Ele é o principal agente para a evolução espiritual, juntamente com os atributos da inteligência, raciocínio e vontade voltada para a prática do bem. Ele se contrapõe radicalmente aos conceitos anteriores de determinismo e fatalismo. Sobre o livre-arbítrio consulte o o nosso tema O livre-arbítrio constrói o destino no livro deste autor A harmonia universal e a evolução espiritual, páginas 255–266, onde ele está desenvolvido de forma muito mais abrangente.
Outras considerações sobre o fatalismo. O fatalismo está, também, impregnado em muitas culturas desde a mais remota antiguidade como crença ou doutrina adotada até mesmo fora das religiões, em diferentes etnias e nas pequenas culturas mais tradicionais, em geral. É uma crença enraizada que contempla a inevitabilidade do destino e dos acontecimentos catastróficos da natureza. Em últimas palavras, adotando-a as pessoas passam a aceitar a vida como ela é, esperando que a sorte venha favorecê-las em algum momento.
Conclusão. Ofuscado pela faculdade do livre-arbítrio e dos ensinamentos espiritualistas difundidos pelo Racionalismo Cristão, a doutrina do fatalismo é de difícil defesa e aceitação racional. Não há como defender racionalmente seus conceitos, em que a vontade humana resulta dependente da vontade divina ao impor um destino inexorável às decisões e atitudes das pessoas durante as múltiplas vivências do espírito em corpo físico, pois, se assim fosse, a harmonia e a evolução espiritual resultariam tolhidas radicalmente. Cruzar os braços e deixar acontecer não é solução para nada. Cada um de nós tem o dever de enfrentar as adversidades e fazer a nossa parte diante das piores situações, até mesmo nos acontecimentos catastróficos naturais, o que demanda muita coragem e força de vontade para salvar vidas humanas e de animais.