Violência humana

Abordaremos em nosso tema de hoje um assunto complexo e desafiador: a violência humana.

Muitas pessoas sustentam que a violência tem crescido muito nos últimos anos. Com o devido respeito a quem pensa dessa maneira, há que dizer que não concordamos com tal afirmação, mormente quando analisamos, com critério e isenção, os registros históricos dos últimos séculos. Contudo, nosso foco não se relaciona a questões estatísticas ou a perspectivas particularizadas, mas se dirige à análise do problema à luz da espiritualidade que nos proporciona o Racionalismo Cristão e à busca por soluções.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a violência pode ser definida como “o uso intencional da força física ou do poder, real ou potencial, contra si próprio, contra outras pessoas ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação”.

Essa definição é clara e significativa. Todavia, interessa-nos compreender a origem da violência e os meios de evitá-la, o que, a nosso sentir, só é possível quando nos utilizamos do prisma ampliador da espiritualidade, que nos permite visualizar o problema a partir de suas causas.

Pessoas dominadas por emoções primitivas, desprovidas da mais incipiente consciência espiritualista e destituídas de discernimento e senso moral obedecem apenas aos impulsos destrutivos que conservam e retroalimentam em seu íntimo com pensamentos malfazejos. No mais das vezes, insufladas por outros pensamentos de igual teor oriundos de pessoas e espíritos igualmente perversos quedados na atmosfera fluídica da Terra, cometem toda espécie de violência contra seus semelhantes, sem se atentar ao fato de que as maiores vítimas de seus delitos são elas mesmas. Lembremo-nos: quem mal faz, para si o faz.

Para nós, que estudamos a espiritualidade proposta pelo Racionalismo Cristão no que ela tem de mais belo e elevado, não é difícil penetrar em áreas do comportamento e do pensamento humano ainda não conhecidas em profundidade pela maioria das pessoas – inclusive por aquelas que se dedicam ao estudo da mente –, constatando com clareza as principais causas da violência, quais sejam, a indiferença à transcendência da vida, a falta de educação, o materialismo exacerbado, o fanatismo e o desconhecimento ou desprezo dos valores espirituais.

Falamos anteriormente em indiferença aos aspectos transcendentes da vida como uma das principais causas da violência. Nesse sentido, cumpre asseverar que tal indiferença, tão deletéria quanto inadequada, é a olhos vistos estimulada, direta e indiretamente, pela mentalidade reinante no campo da ciência experimental, que insiste em separar, sem expor nenhum argumento racionalmente estruturado, a ciência da espiritualidade, criando um sério vazio de consequências imprevisíveis. Não há que apartar – parece-nos lógico – a espiritualidade da ciência, uma vez que a realidade espiritual sustenta, interpenetra e dá sentido ao campo físico, que é, por seu turno, o objeto do estudo científico.

A visão espiritualista, libertadora e abrangente a que insistentemente citamos na presente reflexão nos impele a ampliar nossa capacidade de compreensão acerca do ser humano. Logo, jamais devemos julgar a quem quer que seja, nem mesmo a pessoa violenta. Cumpre que nos empenhemos diuturnamente, por meio de pensamentos vigorosos e de ações efetivas, em criar e conservar uma cultura de paz e de entendimento, contrária a todas as formas de violência e degradação do ser humano – este que tem uma dignidade inalienável e uma essência espiritual repleta de atributos e faculdades que devem ser positivamente estimulados e desenvolvidos.

A todos os que nos leem, afirmamos convictamente: a humanidade se desenvolve e avança moral e espiritualmente de maneira inexorável. Os indivíduos violentos, em que pese a atenção que se lhes dá por conta dos desprezíveis atos que cometem, acham-se à margem da maioria de seus semelhantes, que, embora imperfeitos, procuram, na medida de suas capacidades, viver de maneira reta e digna.

Abordamos nesta reflexão o tema da violência porque temos a certeza de que não se trata apenas de uma questão de direito penal ou de caráter policial, mas antes de um tema profundamente relacionado à espiritualidade, à disciplina dos pensamentos e à conduta moral, o que o caracteriza como de máxima importância. A quem ainda não aprendeu a controlar seus impulsos primários e suas tendências violentas, mas quer sinceramente libertar-se de tal flagelo, orientamos que se empenhe em aplicar na vida prática a regra de ouro, que nos ensina o Racionalismo Cristão: jamais devemos fazer ao próximo o que não gostaríamos que fizessem conosco. Eis o primeiro e grande passo!