Atributo espiritual da lógica

Raciocinar com acerto, expor ponto de vista de maneira convincente, falar e agir de forma ordenada, argumentar com clareza e exatidão, enfim, buscar o bem comum e não visar apenas benefícios pessoais são gestos que constituem, sem dúvida, um conjunto de atitudes de excepcional relevo na vida de quem quer avançar de forma sustentável, não apenas na perspectiva material, mas sobretudo no campo do aperfeiçoamento ético-espiritual. Procuraremos demonstrar na presente reflexão que tais atitudes pressupõem o desenvolvimento da lógica – não da lógica formal, argumentativa ou simbólica, mas da lógica enquanto atributo do espírito, como nos explica a filosofia racionalista cristã.

Não há que confundir – diga-se já – a área da Filosofia denominada Lógica, que se relaciona com a análise estrutural das conclusões e dos argumentos, verificando a relação entre hipóteses e conclusão, com o atributo espiritual da lógica.

De um lado, para o estudioso da lógica tradicional, interessa tão somente saber se a conclusão de um raciocínio representa uma consequência direta das hipóteses levantadas; de outro, para a pessoa atenta a seu desenvolvimento espiritual, interessam a coerência dos gestos exteriorizados, a clareza dos pensamentos emitidos e, acima de tudo, a imperiosa relação de reciprocidade que se deve estabelecer entre seus objetivos evolutivos e suas atitudes cotidianas.

O desenvolvimento consciente da lógica espiritualmente considerada permite ao ser humano não apenas compreender os mecanismos do raciocínio e de algumas associações de ideias, mas sobretudo considerar todas as coisas de acordo com sua essência, o que lhe permite conduzir-se adequadamente na direção das disciplinas construtivas da vida, de maneira a valorizá-las e a incorporá-las em seu viver. Ao mesmo tempo, enseja reflexões sérias e estimula leituras profundas e criteriosas, impedindo que a pessoa se satisfaça com um conhecimento superficial, vulgar e contraditório.

O ato de raciocinar reflete um singular processo mental em que informações, ideias e conceitos absorvidos e interiormente armazenados se articulam e se desdobram, dando origem a outros conteúdos, concepções e opiniões. O raciocínio, portanto, permite que se chegue a uma ideia ou juízo a partir de outras ideias ou juízos. Quando esse processo de razão ou inferência é permeado pela lógica, as conclusões tendem a ser adequadas, acertadas e válidas.

A falta de coerência e de sentido eventualmente identificável na fala ou na atitude de determinada pessoa jamais encontrará razão de ser na ausência do atributo da lógica, uma vez que todos, indistintamente, o têm. As imprecisões mencionadas são consequências do desinteresse pelo autoconhecimento e da dúvida quanto à confiabilidade nas próprias capacidades – fator que impede o ser humano de reconhecer e utilizar em seu favor os poderosos recursos de que dispõe.

Não raras vezes, presenciamos na sociedade pessoas inteligentes e perspicazes a expor suas ideias de maneira vaga e confusa, ocultando pontos importantes e exaltando superficialidades. Isso se dá porque a lógica, enquanto atributo do espírito, alcança sua plenitude e permite a exteriorização clara e objetiva de ideias e conceitos quando é estimulada pela ética e fundamentada pela honestidade. Logo, o pensamento judicioso e firme, o discurso persuasivo e franco, a atitude reta e coerente requerem probidade, sinceridade de propósitos, discernimento e, acima de tudo, boa formação de caráter.

A lógica, quando ampliada pelo aperfeiçoamento espiritual, impede o enfraquecimento psíquico e o descontrole emocional, pois não permite que o ser humano ceda ao medo infundado, aos impulsos sabotadores, às notícias falaciosas e às especulações fantasiosas, quase tão absurdas quanto as concepções de acaso, castigo espiritual e destino cego. Contudo, as incertezas e dúvidas que geralmente impossibilitam o desenvolvimento de uma visão abrangente e integradora acerca da vida diminuem e cessam à medida que a pessoa, cônscia de seu valor e de seus recursos internos, progride e avança na senda da espiritualidade.

Nesta conclusão, gostaríamos de reafirmar a importância do desenvolvimento consciente do atributo da lógica para o sólido crescimento espiritual do ser humano, bem como para o estabelecimento de metas permanentes com suas necessidades evolutivas.

Ora, vivemos uma quadra histórica em que, quer na individualidade quer na coletividade, a falta de ordenação nos pensamentos e de coerência nas atitudes é flagrante. Sem dúvida, estamos atravessando uma fase marcada pelas consequências de uma série de escolhas equivocadas e ilógicas.

É verdade que muitos se satisfazem com ideias e conceitos aparentemente lógicos a princípio. Contudo, não basta parecer: é preciso que o sejam. Nessa concepção, é válido ressaltar que, para distinguir entre a essência e a aparência das coisas, é imprescindível o esclarecimento espiritual. Plenamente convencidos dessa realidade, afirmamos que, no campo de nossos estudos racionalistas cristãos, não há que falar em lógica desvinculada da espiritualidade.