Fundir o aprimoramento ético com o desenvolvimento material

Qual é o principal motivo pelo qual as pessoas não obtêm êxito em seus empreendimentos e, em particular, na edificação de uma existência capaz de fundir o aprimoramento ético com o desenvolvimento material? Certamente é a indisciplina. Os seres humanos se frustram e, muitas vezes, fracassam não porque sejam incapazes – todos, indistintamente, portam atributos espirituais do mais alto valor – ou porque lhes faltem oportunidades, mas porque, no mais das vezes, ou desconhecem ou desvalorizam o imenso valor da disciplina.

A história demonstra cabalmente que vitórias e sucessos se alcançam com a racional disciplina, que há décadas o Racionalismo Cristão vem preconizando. A presente reflexão pretende a um só tempo revisar conceitos e fornecer importantes subsídios acerca desse tema.

A implementação da disciplina e da organização na vida cotidiana pode parecer, aos olhos de algumas pessoas, uma atitude complexa, desgastante e, em certo sentido, limitadora. Reconhecemos que o simples fato de exaltar a disciplina, equívoco em que incidem alguns palestrantes, é insuficiente para convencer as pessoas da suprema relevância de conduzir-se dessa maneira.

É preciso explicar e desdobrar o conceito de vida disciplinada e metódica pela perspectiva da espiritualidade, da racionalidade e do bom senso. Tamanha é a incompreensão gerada quando a disciplina é exigida ou sugerida sem fundamento racional, que sua divulgação acaba surtindo efeito contrário: as pessoas se afastam dela, confundindo-a com rigidez ou coisa que o valha.

A transparência que marca nossos estudos filosófico-espiritualistas nos impele a demonstrar que a atitude disciplinada não consiste em mero detalhe na vida, mas em uma condição de crescimento espiritual e, sobretudo – frise-se bem –, de liberdade em todos os sentidos.

Sem o controle sobre horários e atividades, sem estabelecer prioridades e metas, o ser humano incide em uma perigosa combinação entre a falta de critério em suas ações e a falta de responsabilidade para consigo mesmo, permitindo que o excesso de certos movimentos inerentes à vida lhe retire o protagonismo sobre os próprios atos. Como mostra a experiência, a pessoa indisciplinada cria em sua mente um campo fértil para o surgimento das mais variadas espécies de desequilíbrios emocionais e psíquicos.

O estudo da espiritualidade, nos moldes em que o praticamos e divulgamos através do Racionalismo Cristão, representa, para muitos, a renovação de esperanças e de compromissos assumidos. Na vida prática, em particular, esses nobres sentimentos se traduzem na valorização do tempo e das energias vitais, colunas da racional disciplina, por nós tradicionalmente estudada e praticada. Há que acentuar que esta deve e pode ser praticada por pessoas de todas as idades, uma vez que seus benefícios não se limitam a imposições da idade ou condicionalismos de quaisquer espécies.

Por mais que, eventualmente, grupos da sociedade os mais diversificados concordem com a importância da disciplina na vida diária, somente conseguem estabelecê-la ou implementá-la no dia a dia aqueles que, por empenho em esclarecer-se espiritualmente, procuram desenvolver o importante atributo da sensibilidade espiritual. Certo é que os sentidos físicos percebem apenas o que é materialmente objetivo. Entretanto, o valor de determinadas práticas, como a de uma vida disciplinada, só pode ser inteiramente compreendido e vislumbrado pelos olhos da alma, ou seja, pela sensibilidade do espírito. Tal atributo permite ver o que é supostamente impossível para o materialista e intocável para a maioria das pessoas.

Para ser um agente de mudanças positivas e enobrecedoras, é preciso desenvolver uma visão mais ampliada da vida e das relações interpessoais. Nessa ideia, deve-se enxergar na disciplina e no trabalho racional, ordenado e metódico a verdadeira chave para a tão almejada mudança, bem como para a construção de um auspicioso futuro – como profissional competente, produtivo e respeitado, como empreendedor de valor e, principalmente, como pessoa de bem.

A disciplina destacada nesta reflexão e em outros trabalhos, que temos procurado divulgar com apreço aos nossos leitores, volta-se para a ampliação do desenvolvimento espiritual do gênero humano e, para tal, é dotada de intrínseca racionalidade. Tem um sentido e uma significação que transcendem aos conceitos corporativos ou hierárquicos tão em voga em determinados setores da sociedade.

Aqui analisada à luz da espiritualidade defendida pelo Racionalismo Cristão, a disciplina robustece-nos com a convicção de que a vida é uma enorme oportunidade de crescimento espiritual e de que os atributos e faculdades do espírito, por seu caráter inato, estão a serviço do ser humano para que ele se torne dia após dia uma pessoa mais espiritualizada e mais livre, que efetivamente consiga, no transcurso de sua existência, para benefício próprio e de seus semelhantes, mesclar o aprimoramento ético com o desenvolvimento material, também importante e necessário.