As palavras “sinceridade” e “lealdade” relembram, na imensa maioria das pessoas, um sentimento positivo e agradável. ricos ou pobres, jovens ou idosos, incultos ou intelectuais, geralmente, apreciam palavras e comportamentos sinceros e leais. Há que ressaltar, desde já, que não se pode compreender a extensão do conceito de sinceridade sem vinculá-lo à ideia de lealdade. Com certeza, “sinceridade” no sentido próprio e “lealdade” na visão espiritualista são conceitos inseparáveis, uma vez que a sinceridade sem a lealdade é pretensiosa, tendenciosa e ilegítima. Nosso objetivo nesta reflexão é procurar gerar, à luz da espiritualidade defendida pelo Racionalismo Cristão, algumas reflexões sobre a estreita convergência existente entre a sinceridade e a lealdade, enfatizando dessa maneira a importância de tais virtudes no itinerário de aprimoramento humano.
É preciso salientar que as virtudes da sinceridade e da lealdade são pressupostos de uma vida produtiva e digna. Sem elas, torna-se difícil – para não dizer impossível – o reconhecimento das próprias faltas e, por conseguinte, uma mudança positiva de comportamento. É indispensável que a pessoa que busca manter o foco na realização das melhores iniciativas assuma, de forma constante e determinada, uma sincera e leal atitude de autocrítica, sem a qual tende a ficar frustrada diante do dinamismo da vida, transferindo a responsabilidade de seus insucessos a um conjunto de situações tão complexas quanto falaciosas.
Para que o ser humano encontre a verdadeira paz de espírito, consequência da harmonia interior, é fundamental que viva de forma sóbria e justa, articulando sinceridade e lealdade em seus pensamentos, atitudes e comportamentos cotidianos. Para tanto, faz-se necessário libertar-se, por meio do esclarecimento espiritual proporcionado pelo Racionalismo Cristão, da deprimente dominação do materialismo, renunciando a tudo que retira dignidade e segurança ao espírito.
Não poucas pessoas enfatizam que, nos tempos atuais, a sociedade, diversificada e dotada de considerável pluralismo de ideias, não aceita com facilidade uma definição absolutamente segura acerca da ideia de sinceridade ou mesmo lealdade. Sustentam que hoje em dia cada pessoa parece carregar consigo formulações próprias acerca de tais conceitos. Todavia, não concordamos com tais argumentos. Embora cada pessoa possuir um horizonte próprio de percepção, as virtudes da sinceridade e lealdade constituem um valor universal e atemporal; sua importância é tão alta que não admitem relativizações de nenhuma espécie.
As pessoas esclarecidas espiritualmente, por se sentirem integrantes de uma mesma e única família – a humanidade –, assumem o desafio e a vontade de ser solidárias e empáticas, refletindo, assim, no mundo exterior aquilo que vivenciam em seus próprios lares. Essa consistente decisão, que assinala um elevado estilo de vida, é uma exigência do progresso moral, pois quem não decide amar com sinceridade e lealdade seu semelhante – membro da grande família humana – dificilmente amará, de fato, os integrantes de sua família particular.
Quando a pessoa se transforma positivamente, por meio da absorção consciente dos princípios da espiritualidade defendidos pelo Racionalismo Cristão, passa a agir sempre com sinceridade e lealdade, no sentido de reconhecer que não há desenvolvimento humano sem que sejam contempladas e vivenciadas no dia a dia a honestidade, a sinceridade, a lealdade, a disciplina, a temperança, a justiça, a equidade e a prudência, ou seja, os fatores que fundamentam o desenvolvimento espiritual de qualquer ser humano.
Os conceitos de sinceridade e lealdade, bem como sua articulação, na profundidade em que procuramos abordá-los nesta reflexão, não podem, devido a sua natureza e transcendência, ser estabelecidos em padrões prefixados, nem se reduzem a uma meta a ser alcançada. Na prática, a vivência da sinceridade e da lealdade representam um processo indispensável para o contínuo aperfeiçoamento ético e moral do ser humano. Sincera e leal, a pessoa passa a sentir-se segura para amadurecer e exprimir seus pensamentos e sentimentos, consciente da responsabilidade de suas iniciativas.
Claro está que nenhuma existência reflete uma realidade perfeita e acabada: todas requerem um progressivo despertar para a necessidade e, sobretudo, a importância da fortaleza espiritual que se conquista com foco e ênfase na vivência das virtudes da sinceridade e da lealdade. Sem elas, jamais poderá o ser humano alcançar sua liberdade e autonomia; acabará, antes, por perder sua identidade e razão de ser, como nos enfatiza o Racionalismo Cristão em seus conceitos e princípios.