Medo e fobia vêm sendo alvo de uma série de pesquisas científicas, dentro de um espectro amplo das áreas da saúde, e têm inúmeras definições, segundo as visões psicanalítica, comportamental e médica. O leitor deve estar se perguntando: “o que leva o ser humano a ter tantos medos?” Há muitos medos que nos são incutidos, implementados de uma forma absolutamente desnecessária e desproporcional. Eles estão relacionados à nossa história de vida, nesta e/ou anteriores existências, especialmente à nossa infância. A ciência experimental afirma que o medo se expressa tanto no corpo quanto na mente. Ele pode manifestar-se em diferentes níveis (cognitivo, fisiológico, comportamental e neuronal). No nível cognitivo, o medo é transformado em imagens e pensamentos interpretativos sobre o estímulo ou a situação temida.
Abordagem repressiva. A abordagem educativa, de maneira geral, é repressiva e recheada de implementos de medo, quando deveria ser abordagem encorajadora. Muitos pais ou responsáveis educam as crianças usando mecanismos repressivos do medo. Ameaçam-nas dizendo-lhes “olhe, se você não fizer isso ou aquilo, dessa ou daquela forma, vai acontecer-lhe algo ruim, algo assustador, terrível”. A criança passa a fazer exatamente o que e como mandam, simplesmente, por estar ansiosa, assustada, insegura e com medo.
Abordagem encorajadora. Deveriam é explicar de forma lógica, racional, clara, franca e inteligível à faixa etária da criança, o motivo de não fazer aquilo que vai colocá-la em situação de risco, ferir sua integridade física e psíquica. Buscar motivar e estimular a criança a raciocinar e utilizar corretamente seus atributos e faculdades desde tenra idade. Esses medos que são colocados nas diversas fases da vida, principalmente na infância, vão ficando no inconsciente, às vezes camuflados, desenvolvendo-se e tomando proporções maiores, sem ser resolvidos e, com isso, a criança, o adolescente ou adulto vão desenvolvendo e modelando seu caráter demonstrando baixa autoestima e personalidade frágil e insegura.
Fatores que desencadeiam medos. Más influências, como crianças que vivem em ambientes onde a todo momento sofrem agressões que ferem sua integridade física e psíquica, tendo que conviver com pessoas portadoras de maus hábitos e de vícios, como o alcoolismo ou outros tipos de drogas. Filhos de pais que não se respeitam e se agridem. Crianças violentadas no seu direito de ser criança e que são agredidas com castigos desproporcionais, cruéis, às vezes com pancadas, são mais propensas a sentir medo. São manifestações agressivas com elas ou que são obrigadas a presenciar, criando toda uma estrutura de insegurança, que as impedirá de conseguir estruturar um ego para compreender e saber enfrentar com coragem e determinação as dificuldades postas diante de si.
Crianças criadas em sistema de abandono ficam inseguras, medrosas e passam a precisar de um sistema de proteção mínima para poderem sentir-se confortáveis. Crianças que são abandonadas ou desprezadas vão estruturando um conteúdo de estima precário. Mais tarde, a baixa autoestima será a matéria prima para modelar o adolescente, naturalmente inseguro, às vezes manifestando essa insegurança por meio de revoltas, desvios de conduta, que vão moldar uma personalidade insegura, fraca, medrosa e covarde.
O medo é um sintoma que decorre da insegurança em face das diversas circunstâncias da vida. O medo gera desorganização emocional e psíquica, gerando doenças por somatização destes fatores. O medo desfigura e entorpece a realidade, agiganta e avoluma insignificâncias, produzindo interpretações ilógicas, irracionais e produzindo ilusões.
Tipos de medo. Áreas do conhecimento humano apontam três tipos de medo: os medos permanentes (como o medo da morte, do desconhecido, do sobrenatural), os medos cíclicos (como o medo do fim do mundo ou de catástrofes na mudança do século ou do milênio) e os medos contextuais (que não existiam antes e passaram a existir, como o medo do que virá com a mudança climática, Aids, Covid).
Existem outros tipos de medo como o de falar em público, o de frequentar a escola (comum em crianças); medo de trabalho; medo de estar em lugares fechados ou com muitas pessoas; medo exagerado de entrar em contato com sujeira ou objetos sujos; medo de opiniões; medo de correntes de ar ou vento; medo de ventríloquos, bonecos, estátuas de cera; medo do escuro ou da noite; medo de ser encarado, observado ou vigiado; medo de morrer ou da morte; medo de estranhos ou estrangeiros. Existem ainda inúmeros outros medos, alguns deles muito estranhos, como medo de tomar banho, de plantas, da lua, entre outros, ainda considerados até bizarros e raros.
Há medos, porém, que são estabelecidos em existências anteriores, através de experiências traumáticas, que hoje comparecem como medos absurdos, insegurança e fobias diversas como a social, em que a pessoa tem medo de enfrentar o público e de conviver em sociedade; e sabemos que para evoluir precisamos desenvolver o relacionamento interpessoal para podermos compartilhar conhecimento.
Fobia. Quando o medo é superdimensionado por quem o sente, acaba transformando-se em um transtorno patológico, uma enfermidade da mente, culminando na chamada “fobia”, causadora de muitos prejuízos às pessoas atingindo, inclusive, as crianças. Fobia é um sentimento exagerado de medo ou aversão por algo ou alguém. Ela pode ser definida como manifestações de ansiedades e medos persistentes, excessivos e irracionais, incontroláveis e paralisantes, desencadeado pela presença ou antecipação de um objeto, situação ou circunstância específicos. Ela desencadeia um estado de angústia, causa sofrimentos intensos, prejudica a saúde e a qualidade de vida da pessoa, influenciando diretamente em sua capacidade de realização pessoal, profissional e social.
Visão distorcida. “medo é mecanismo de autoproteção?”, esta é dúvida recorrente. Algumas áreas do conhecimento, que estudam a mente e o comportamento humano, defendem a ideia de que os medos que as pessoas apresentam são, em certa medida, um mecanismo de autoproteção, de segurança. Porque, se não tivéssemos medo, poríamos em risco a nossa integridade física e psíquica, a nossa vida familiar, profissional, e de outras formas de convivência social, expondo-nos inadequadamente a perigos que desintegrariam o nosso equilíbrio emocional, social, físico e psíquico. Essas áreas chegam a afirmar que o medo não é uma fraqueza, e sim uma característica importante que, se manifestado em determinada proporção, é saudável para o desenvolvimento emocional das crianças, adolescentes e adultos, assim, como o medo é um bom mecanismo de garantia da manutenção das espécies. Afirmam essas áreas, que o medo nos acompanha desde o início dos tempos e é considerado imprescindível à sobrevivência humana.
Visão racional. A escola filosófico-espiritualista racionalista cristã, nos esclarece que há várias teorias para o medo. Algumas delas dizem que o medo é necessário para a sobrevivência humana, como mecanismo de autoproteção, mas estão fundamentadas em interpretações distorcidas da realidade, pois consideram o medo um contraponto do desejo/vontade. Enquanto essa filosofia afirma que são as faculdades e os atributos do espírito aplicados de forma lógica e racional, como a vontade fortalecida e bem direcionada, o contraponto do desejo, e não o medo. É a vontade fortalecida pelo uso correto da razão, da lógica, do bom senso, da consciência esclarecida e do conhecimento de nossos próprios limites que se opõe ao desejo do tipo agressivo, irrefreável, de fazer o irracional, o ilógico.
Segundo a filosofia racionalista cristã o medo é de “origem psicológica” e de “caráter espiritual”. É de origem psicológica, por ser criado na esfera psicológica, e não física, por se instalar no plano das ideias, da psiqué humana, permanecendo armazenado e ativo no universo psíquico – consciente e inconsciente – das pessoas até ser desenergizado por iniciativa própria. O medo é de caráter espiritual, por achar espaço e condições favoráveis na mente das pessoas que o alimentam a ponto de se desenvolver, progressivamente, pelo mau uso das faculdades e dos atributos nobres do espírito como a inteligência, o raciocínio, o livre-arbítrio, a compreensão, a lógica, a ponderação, a moderação e a vontade fortalecida. É de caráter espiritual, porque a pessoa necessita desses atributos como recursos postos em ação para evitar o medo, e caso este se instale em seu mental e permaneça ativo, vivo em seus pensamentos, poder sobrepujá-los, desenergizá-los, definitivamente, varrendo esse lixo da mente.
Como vencer o medo? Esta é outra dúvida recorrente. Confiar em si, monitorar os seus pensamentos e sentimentos é a base para vencer o medo. Identificar seus medos e entender o que exatamente provoca essas sensações e em quais situações ocorrem. Compartilhar os seus medos com pessoas que você confia, não tenha receio e vergonha de pedir ajuda, se necessário busque suporte de especialistas (psiquiatras, psicólogos). É preciso vencer a barreira do medo que embota, engessa, paralisa os seres impedindo-os de levar uma vida digna, produtiva e de qualidade. A filosofia racionalista cristã esclarece, orienta e fornece o antídoto eficaz para vencer o medo.
O medo não é mecanismo de autoproteção, de segurança, jamais! O medo, de qualquer natureza, está balizado por uma construção distorcida de pensamentos a respeito de algo e de tudo de que se tem medo. O medo, a fobia, a insegurança e as indecisões estão sempre diante dos seres fracos, e as fraquezas são perigosas no caminho do aperfeiçoamento da inteligência, do raciocínio e do caráter. A precaução, a cautela, o bom senso, o conhecimento dos próprios limites e o uso adequado dos recursos do intelecto e dos valores espirituais, são disposições e maneiras que fazem o ser humano caminhar firme, com confiança, segurança, elevada autoestima, sem precisar escorar-se no sentimento do medo, que não passa de uma fraqueza humana, de uma muleta psíquica.
O estudo sério, atento e contínuo da filosofia racionalista cristã expande nossa consciência e abre um amplo campo de possibilidades de observação, análise, interpretação, tomadas de decisão e ações acertadas. A mente humana é complexa vista na ótica reducionista do materialismo, mas na perspectiva dessa filosofia espiritualista não é tão complexa assim.