No contexto de nossos estudos filosófico-espiritualistas, aprendemos que a vida não cessa de oferecer aos seres humanos oportunidades de aprendizado e crescimento espiritual. Dessa forma, a época que atravessamos, apesar de seus desafios e circunstâncias dramáticas, nos proporciona a revisão de inúmeros conceitos, condutas e estilos de vida. Na presente reflexão, analisaremos a fidelidade, com vista à ampliação de seu sentido e à afirmação de seu valor.
Analisada à luz da espiritualidade defendida pelo Racionalismo Cristão, a fidelidade não se refere apenas, como geralmente se imagina, a um objetivo para o saudável e harmônico convívio familiar e social: diz respeito também a nossa vida interior, aos critérios éticos e morais que devem fundamentar nossa conduta. Daí a necessidade de conceber e incorporar um conceito claro e integrado acerca dessa virtude, que, nos dias atuais, vem sendo flagrantemente desconsiderada.
De nada vale a fidelidade aos compromissos assumidos no campo profissional e nas relações pessoais sem a fidelidade interior. Tampouco é razoável que o ser humano se diga fiel a si mesmo e, ao mesmo tempo, desconsidere o imperativo ético de ser fiel às pessoas com as quais se relaciona e às causas dignas, que são, por seu turno, salvaguarda do bem comum. Tal constatação aponta, no campo de nossas análises filosófico-espiritualistas, para a necessidade de unir racionalmente ambas as dimensões da fidelidade, bem como para o dever pessoal de evitar preconceitos, reducionismos, ideias compartimentadas e visões unilaterais e deformadas sobre a importante virtude da fidelidade.
Encorajado pelo esclarecimento espiritual, pela fidelidade integral e redobrada, que não se restringe ao âmbito interior, mas vai ao encontro das realidades exteriores, o estudioso do Racionalismo Cristão, com a alma enriquecida pela experiência diária dos valores da ética, saberá conduzir-se adequadamente na sociedade e ser, pela força de seu exemplo, um instrumento capaz de despertar as consciências alheias para a realidade transcendente da vida, a fim de que as pessoas compreendam a própria essência e seus reais objetivos.
A vivência da fidelidade íntegra e articulada, a que fizemos referência anteriormente, requer o cumprimento prático de critérios racionais, representando, na verdade, uma exigência para o estabelecimento de uma existência digna e psiquicamente equilibrada. Contudo, o crescimento espiritual exige, antes de tudo, o estudo de nós mesmos e o reconhecimento de nossos defeitos e qualidades, a fim de nos aperfeiçoarmos e amadurecermos progressivamente em meio ao dinamismo da vida, sempre fiéis aos ditames da consciência.
A fidelidade aos valores da espiritualidade fundamenta o comportamento digno e respeitoso, intensificando e reforçando o compromisso pessoal e irrenunciável de praticar o bem de forma constante e desinteressada. Tal convicção estimula as melhores intuições, plasmando na consciência de cada ser humano as linhas definidoras das atitudes e condutas que realmente enrijecem e robustecem o caráter.
Revigorado pela honestidade, decência e generosidade, o ser humano progredirá, sem dúvida, na vivência da fidelidade com a segurança de um destemido vencedor, que, indiferente aos apelos e barreiras encontradas em sua trajetória, continua sua marcha retilínea rumo à consecução de suas metas e ideias mais elevados. Nesta conclusão, queremos ressaltar nossa satisfação em aprofundar o estudo acerca da virtude da fidelidade, pois ela é a argamassa que preenche de dignidade não apenas a vida de cada um, mas sobretudo as estruturas da sociedade. Que a presente análise, apesar de sua simplicidade, represente a todos que nos leem um convite a considerar o altíssimo valor da fidelidade e a responder-lhe mediante uma sincera e profunda revisão de conceitos e comportamentos, interpenetrada pelo compromisso universal e espiritual de autoaprimoramento indicado pelo Racionalismo Cristão.