O vasto, complexo e intricado sistema de relações sociais reflete a multiplicidade das expressões humanas, que deve ser respeitada e valorizada. A consequência dessa perspectiva, em relação à liberdade de emitir opiniões e pontos de vista, deve ser, é claro, a observância de certos limites.
Procuraremos demonstrar na presente reflexão que a consideração devida à liberdade no que diz respeito às manifestações e expressões individuais e coletivas tem um limite ético, moral, legal e espiritual a ser respeitado. Tal limite, ao apontar para o respeito à dignidade das pessoas, deve conter a expansão perniciosa dos impulsos e ideologias de superioridade e discriminação sistemática que, infelizmente, ainda se fazem presentes na sociedade contemporânea.
As ações humanas podem se direcionar, fundamentalmente, em três sentidos: ou as pessoas se deixam levar por critérios místicos, pautando suas ações, de forma irrefletida, em determinações que lhe são dadas por uma autoridade religiosa, guru ou coisa que o valha; ou seguem mecanicamente o que fazem as pessoas a sua volta, imitando padrões impostos e comportamentos alheios; ou finalmente procuram raciocinar, discernir e tomar decisões autênticas e fundamentadas em seus conhecimentos e experiências. A este último tipo de ação, baseada na racionalidade e na prática, denominamos ação inteligente e autônoma. Claro está que ela atinge sua máxima eficácia quando impulsionada e nutrida pelos valores da espiritualidade oferecidos pelo Racionalismo Cristão, que são livres de preconceito, racismo e quaisquer formas de discriminação.
Os tipos de ações humanas anteriormente mencionados não se apresentam, na vivência cotidiana, de forma tão nítida na sociedade. Geralmente, a conduta individual mescla elementos diversificados, pois cada ser humano recebe as influências do grupo com o qual convive e dos valores de sua época; ademais, a multiplicidade de formas de expressão é uma marca do gênero humano. Contudo, ainda que seja evidente o fluxo de influências e informações a que cada pessoa está sujeita, não se justifica, à luz da razão e da espiritualidade, a adoção de comportamentos ofensivos, excludentes, intolerantes, preconceituosos e racistas, por uma razão muito simples: todos os seres humanos têm uma essência comum e são oriundos da mesma Fonte, o que nos permite afirmar que há uma igualdade essencial entre todos os seres humanos.
A diversidade humana encerra um imperativo categórico, de modo que sua valorização se dá, entre outras formas, no combate ao preconceito, ao racismo e à discriminação, bem como a todas as manifestações separatistas baseadas na pseudosupremacia de determinado grupo ético.
Do ponto de vista da espiritualidade defendida pelo Racionalismo Cristão, a diversidade humana assegura o desenvolvimento integral do ser humano, mediante o salutar convívio entre as diferenças culturais, étnicas, sociais etc. Daí decorre a legitimação dos diferentes modos de ser, na medida em que garantem o processo de aprimoramento espiritual.
Respeitar o ser humano sempre, abrindo-se à empatia e à peculiaridade de cada um, representa um eficaz exercício de tolerância e desenvolvimento espiritual, pois promove a consciência progressiva do processo de aprimoramento em que todos estão inseridos, a evolução da mentalidade e a consolidação da convicção de que o bem comum é uma meta pela qual devemos lutar, o que impõe respeito às diferenças e tolerância.
Se os conceitos e ideias apresentados ao longo da presente reflexão forem úteis para conduzir os estudiosos da espiritualidade e a tantos quantos nos acompanham na direção do semelhante, a fim de respeitá-lo em suas diferenças e, quando a ocasião o permitir, auxiliá-lo em suas necessidades, reconhecendo o próximo como uma extensão de si mesmos e compreendendo que as diferenças humanas que emergem nas relações sociais são sempre exteriores e jamais essenciais, ficaremos plenamente satisfeitos e – mais do que isso – felizes.