Sabemos que a força de vontade bem direcionada, a atitude digna e elevada e o cultivo das virtudes são valores primordiais e, como tal, se impõem a todas as culturas, idades e condições sociais. O caráter – fruto da perseverança ante as dificuldades que a vida não cessa de apresentar – não faz senão manifestar a lapidação dos atributos que configuram espiritualmente todos os seres humanos, como é destacado pelo Racionalismo Cristão. Tão relevante é o estudo acerca da perseverança que lhe dedicaremos a presente reflexão.

A gota fura a rocha. Essa expressão latina, lapidar e proverbial, pode ser encontrada em trechos de grandes escritores, sábios e filósofos romanos, como Lucrécio, Tibulo, Ovídio, Quintiliano e Sêneca. No ditado popular, encontra sua máxima expressão em “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, que pode ser tido como um verdadeiro lema de vida para quem compreende que, sem perseverança, disciplina e racional insistência, não se pode estabelecer, construir ou manter nada de positivo e duradouro.

A pessoa inconstante, superficial e volúvel, que vê toda conquista como algo cansativo e até mesmo inalcançável e busca, a mais não poder, soluções fáceis e curtas, costuma encontrar-se frustrada e insegura nas mais diversas fases de sua vida. Seu estado psíquico demonstra desordem de ideias e confusão de pensamentos. Vez ou outra, chega a empolgar-se com um projeto audacioso e importante, mas logo o abandona, com a mesma rapidez com que a palha é consumida pelo fogo. O que era calor e luz se converte em poeira e cinza, que os ventos da preguiça e do adiamento logo dispersam.

O desânimo em persistir nas disciplinas construtivas da vida dificulta o aperfeiçoamento moral, ético e espiritual do ser humano, arremessando-o a um estado lastimável e entediante. Este se opõe a suas aspirações espirituais mais legítimas, que somente se concretizam com empenho, força de vontade ativa, disciplina e, acima de tudo, perseverança.

Na verdade, qualquer pessoa que despreza a virtude da perseverança ou adota um estilo de vida contrário a ela assume uma posição extremamente paradoxal, visto que a essência espiritual de todos os seres humanos é fonte de tenacidade e energia.

Quem reconhece o próprio valor e o imenso poder de seus atributos e faculdades espirituais sabe que as dificuldades representam apenas uma etapa embrionária de todo o processo de concretização de ideais e que, por maiores que sejam, não resistem à força que emana da perseverança, assim como a dureza da pedra acaba por ceder à insistente gota que, dia após dia, hora após hora, minuto após minuto, a despeito de sua aparente fragilidade, não esmorece diante da tarefa de romper barreiras e abrir novos caminhos.

É o autoconhecimento – ninguém o duvide – que permite ao ser humano encontrar, em meio às dificuldades e vicissitudes que enfrenta, sinais evidentes de que a vida tem um propósito superior, de modo que vale muito a pena perseverar na busca por melhores condições, sejam elas profissionais, materiais, morais ou espirituais.

Amigos, não nos esqueçamos de que a virtude e a felicidade formam uma só realidade: desenvolvem-se juntas e juntas dão seus frutos. Esse entendimento faz derivar uma série de ações éticas que devemos praticar a todo momento, pois a felicidade está nesse caminhar consciente, constante, disciplinado e ativo, na primazia dos valores transcendentes, nas coisas mais simples do dia a dia e, acima de tudo, na perseverança de superar as adversidades, que não passam de oportunidades de crescimento espiritual, como nos ensina o Racionalismo Cristão. Sejamos bons alunos, ou seja, sejamos perseverantes!