Em defesa de sua teoria das Ideias, Platão chama em seu auxílio nada menos que a própria ciência e mesmo a autoridade de Sócrates, seu mestre, que lançou a semente da ideia, que o discípulo desenvolveria.
Observe-se, por exemplo, nosso filósofo fazendo uso, em sua teoria, da geometria como base de comparação e daí concluindo que os corpos e os objetos geométricos devem ser considerados também como ideias. Quanto mais se avança nos estudos da física, argumenta ele, mais evidente se torna que as relações matemáticas estão presentes em cada coisa do mundo material – o Universo é uma infinita lição de ordem, harmonia e proporção.
Muitos séculos depois, aliás, a ciência moderna concordaria com Platão ao afirmar que toda a física pode ser expressa em termos de equações matemáticas.
Assim, diz um estudioso, Platão, seguindo Pitágoras, tomou isso como uma revelação de que sob a superfície confusa, para não dizer caótica, do mundo cotidiano há uma ordem que tem toda a idealidade e perfeição da matemática. Ordem essa não perceptível aos olhos e demais sentidos do ser humano, mas que pode ser acessível, inteligível ao intelecto – os ‘olhos da alma’. “Essa realidade subjacente existe, sim”, sustenta Platão, “está presente em toda parte.”
Como se vê, a teoria das Ideias afirma a visão de uma realidade dividida em dois reinos: o de natureza material, ou Mundo Sensível; e o de natureza abstrata, ou Mundo das Ideias ou Formas.
Platão não só vislumbra tal realidade, como também, demonstrando ser homem de ação, apesar de filósofo, parte para a execução de um programa de pesquisa científica, ao qual já nos referimos em artigo anterior. E, o mais importante, logo se vê cercado, em sua Academia, dos mais notáveis matemáticos, físicos e geômetras daquele tempo, convocados por ele para a missão de alargar os horizontes do conhecimento.
Assim, sob sua direção e patrocínio, grandes passos foram dados no desenvolvimento da matemática, da física e de outras ciências. Todas, aliás, faziam parte, na época, da filosofia.
Ah!, adverte Platão, não esqueçamos que as implicações da existência dessa realidade dividida em dois reinos são as mesmas para todos, incluindo o ser humano, considerado objeto, como tudo o mais. No entanto, diz ele, esse ser humano-objeto é animado por uma entidade que não pode ser vista, mas da qual nossa mente, ou intelecto, pode ficar ciente.
Imaterial, indestrutível, atemporal, imutável, imortal e eterna, ela é, nas palavras de Platão, “algo a que podemos nos referir como alma”. Ele a chama também de “alma individual” e de “parcela da Alma Universal”. As almas, explica o filósofo, são nossas Ideias (ou Formas) permanentes, existem fora do tempo e do espaço, como todas as Ideias, que constituem a realidade última.
Platão, mesmo quando incursiona pelo campo da metafísica, como é o caso da teoria das Ideias, sempre chega a suas conclusões por meio de argumentações filosóficas, independentes da tradição religiosa, de crença em deuses ou em “revelações divinas”. Para ele, mesmo a religião tem de ser submetida ao crivo da racionalidade. Ou seja, “deve ser purificada de todos os seus mitos selvagens e milagres supersticiosos. A religião também precisa ser compatível com a razão”.