Morto Sócrates, Platão ausentou-se de Atenas durante doze anos. Depois de peregrinar por vários países, voltou em 387 a.C. à sua cidade. Tinha então 40 anos. Por volta de 388 a.C., entre duas infelizes e decepcionantes viagens a Siracusa, Platão fundou, nas proximidades de Atenas, uma escola de ensino superior. O local escolhido para o estabelecimento educacional era um parque de plátanos ornamentais e dadivosas oliveiras, chamado Jardim de Academos, nome de um lendário herói ateniense. Daí a denominação de Academia dada à entidade, chamada também Escola de Platão.
Inaugurada a Academia, Platão começou a se reunir ali com amigos e discípulos, e logo a Escola passaria a desempenhar o papel de centro de formação filosófica, científica e política de jovens atenienses.
As duas grandes obras de Platão
Segundo estudiosos do pensamento grego, são duas as grandes obras de Platão: os Diálogos e a fundação da Academia, acontecimento de máxima importância para a história do pensamento ocidental. Considerada o primeiro instituto de investigação filosófica e científica concebido com a finalidade de conjugar esforços de um grupo orientado a pensar por si próprio, a Escola de Platão via no conhecimento algo vivo e dinâmico; ou seja, nunca considerado verdade definitiva ou sagrada, e sim sempre passível de discussão. Nada, portanto, de limitar-se a guardar e repetir doutrinas ou lições, dizia o mestre. Nada de práticas de simples demonstração de cultura.
Na educação dos jovens acadêmicos, o objetivo era realizar, em todos os campos do saber, o ideal da autonomia, ou independência. Para tanto, “era preciso ensinar-lhes, em primeiro lugar, a liberdade de pensar, o livre espírito de pesquisa, o compromisso do pensamento apenas com a verdade; em segundo lugar, estimular a autodeterminação ética e política”.
Tudo – incluindo os valores éticos, políticos e religiosos herdados da tradição – tinha de ser submetido pelos alunos ao método dialógico de Sócrates (maneira de dialogar ou debater criada por esse mestre e aperfeiçoada por Platão), para que chegassem a suas próprias conclusões.
Formar homens novos
A finalidade da Academia, segundo ainda os estudiosos, era formar, através do conhecimento, homens novos, capazes de renovar o Estado. Na direção da Escola, Platão sempre defendeu o princípio de que os homens, uma vez esclarecidos pela luz do conhecimento verdadeiro, tornam-se melhores, melhorando também, por consequência, a sociedade e o Estado.
Ali os acadêmicos aprendiam que a prática da verdadeira política não era possível sem base em estudos científicos e na investigação sistemática dos fundamentos da conduta humana. “Só assim poderia deixar de ser o jogo fortuito de ações motivadas por interesses nem sempre claros e, de modo frequente, pouco dignos, para se transformar numa ação iluminada pela verdade e, portanto, criadora de justiça, de equilíbrio, de harmonia e de beleza”.
Plêiade de mestres
A fim de ajudá-lo em seu programa de investigação filosófica e científica, o mestre atraiu para a Academia um grupo de eminentes sábios da época, de formação extremamente diversificada e de várias tendências. O programa abrangia, além de temas filosóficos, matemática, astronomia, cosmologia (ramo da astronomia), medicina, política, oratória e música.
Platão era a figura central da Academia, mas estava cercado ali de outros grandes mestres, que também honravam e engrandeciam sua Escola. Entre estes, avultavam as figuras de Eudóxio de Cnido, o mais célebre matemático e astrônomo daquele tempo, e a de Aristóteles, maior discípulo de Platão, que depois da morte do mestre deixaria a Academia para fundar sua própria escola, o Liceu, e escrever sua monumental obra filosófica.
Platão manteve-se à testa da Academia ao longo de quatro décadas, ou seja, até o fim de seus dias neste mundo, aos 80 anos, em 347 a.C. Uma das cláusulas do regulamento da Escola previa a continuidade da instituição após a morte de seu fundador. De fato, depois de Platão, sucessivas gerações de seguidores do mestre mantiveram-na funcionando durante nove séculos, de 388 a.C. a 529 d.C.
Fechamento da Academia. Nesse ano de 529 da era cristã, o imperador bizantino Justiniano I, influenciado pela Igreja, que se tornara religião oficial do Império Romano, decretou o fechamento da Escola de Platão e confiscou a propriedade. Esse e outros atos de intolerância religiosa, perpetrados naqueles tenebrosos primórdios da Idade Média, constituíam já fatídicos prenúncios do horror que se chamaria “Santa Inquisição”…
O acolhedor e aprazível bosque de plátanos e oliveiras, bem como a Academia foram destruídos por soldados romanos que então sitiavam Atenas, comandados pelo general Sula, e a madeira, utilizada na construção de navios.
Há muito tempo, ouvi de alguém que o lugar é um dos pontos turísticos da moderna Atenas; e que haveria por lá uma oliveira multissecular, que seria – segundo cálculos dos que sabem contar os anos de vida das árvores – uma sobrevivente do tempo de Platão e de sua Academia.