A busca do Uno – I

A busca por um princípio único de tudo que existe, uma das preocupações dos primeiros filósofos da Grécia antiga, lá pelo século VI a.C., viria a ser retomada no século III d.C., em plena decadência do Império Romano e oito séculos depois do advento do racionalismo grego.

O responsável por essa retomada seria uma figura ímpar de seu tempo – o filósofo Plotino (205-270 d.C.). Ele fundou a corrente filosófica denominada neoplatonismo, devolveu a vitalidade à filosofia e passaria à História como um dos principais pensadores de língua grega do período final da Idade Antiga.

Plotino na TV. Recentemente assisti a uma entrevista sobre Plotino, num canal de TV, dada pelo jovem professor Júnior Baracat, doutor em filosofia pela Universidade Estadual de Campinas-SP (Unicamp) e tradutor da obra do fundador do neoplatonismo.

Admirador confesso desse pensador, Júnior Baracat definiu Plotino, na ocasião, como “o filósofo, por excelência, da conciliação do racionalismo com a espiritualidade”. Segundo ainda o professor, Plotino forma com Platão e Aristóteles o trio de pensadores mais influentes da Antiguidade.

O que se sabe sobre a vida de Plotino é o que consta de uma sofrível biografia do filósofo escrita por seu amigo e discípulo Porfírio, que não informa, por exemplo, onde nasceu o biografado. Para alguns estudiosos, o mais provável é que ele tenha vindo ao mundo numa antiga localidade do Baixo Egito chamada Licópolis Deltaica, próxima a Mendés, e que era filho de pais de ascendência ou grega, ou romana, ou egípcia helenizada.

Em Alexandria. Em 232, aos 27 anos, Plotino está em Alexandria, para onde fôra levado por seu crescente interesse pela filosofia. Mas anda decepcionado com os professores que lhe apresentam. Certo dia, porém, Plotino encontra um amigo que lhe recomenda um filósofo chamado Amônio Sacas, do qual só se sabe hoje que “era da tradição platônica”. Após assistir a uma aula de Amônio, confessa ao amigo: “Este, sim, é quem eu andava procurando”. Plotino tinha agora o mestre que procurava, e o mestre, o aluno que vai estudar onze anos com ele e também se tornar filósofo.

Na Pérsia. Com efeito, onze anos depois, em 243, Plotino já se encontra na Pérsia, para onde se dirigira acompanhando o exército do imperador romano Marco Antônio Gordiano III (159-238). Enquanto permaneceu no país sob a proteção de Gordiano, Plotino conheceu as doutrinas espiritualistas do Oriente e sofreu sua influência. A campanha, no entanto, fracassaria. E, morto Gordiano, Plotino viu-se abandonado numa terra hostil, enfrentando dificuldades em sua busca de segurança em Antioquia.

Em Roma. Com a idade de 40 anos, durante o reinado do imperador Filipe, o Árabe (204-249), Plotino dirige-se a Roma. Lá abre sua escola, e lá também vai permanecer durante a maior parte dos anos restantes de sua vida, cercado de numeroso grupo de discípulos. Em seu círculo mais íntimo, incluíam-se Porfírio, Amélio da Toscana, o senador Castrício Firmo e o médico Eustáquio de Alexandria, que assistiu Plotino até os últimos dias do mestre.

Porfírio, seu mais importante discípulo, se encarregaria de organizar, compilar e editar os escritos de Plotino, os quais “batizou” como o nome de “Enéadas”. Plotino, porém, não viveria o bastante para ver concluído o trabalho de seu dedicado discípulo e querido amigo. O responsável por essa retomada seria uma figura ímpar de seu tempo — o filósofo Plotino (205-270 d.C.).