De volta ao tema do artigo anterior (A busca do Uno – I), vamos repassar, resumidamente, ao leitor, neste artigo, o que nos ensinam os historiadores do pensamento sobre a doutrina de Plotino (205-270 d.C.).
Filosofia inovadora. Ao fundar e formular, no século III d.C., a corrente filosófica denominada neoplatonismo, Plotino recolocaria o pensamento filosófico em seu curso originário, “numa época em que imperavam o dogmatismo moralizante e o ceticismo”. E não só: os escritos desse filósofo – que forma com Platão e Aristóteles o trio de pensadores mais influentes da Antiguidade – haveriam de influenciar não apenas a filosofia dita pagã posterior a ele, mas também a cristã, a gnóstica, a judaica e a islâmica.
O neoplatonismo de Plotino não se limita à retomada ou releitura do pensamento platônico. Passam às vezes também pelo crivo de Plotino ideias de outros pensadores, como Parmênides (c. 515-440 a.C.), Aristóteles (384-322 a.C.) e os estoicos. No entanto, não o faz para repeti-los, e sim para criar uma filosofia própria e inovadora.
Emanações. Ao retomar, oito séculos depois, a ideia de unidade, vale dizer, do princípio único, já defendida no século V a.C. por Parmênides, Plotino, na verdade, a recria ao defender a existência do Uno, entidade transcendente da qual emanam todas as coisas. Daí, a conclusão de Plotino de que a unidade é a responsável pela diversidade do mundo.
Segundo ele, se todos os seres são emanações do Uno, primeiro ponto de uma cadeia hierárquica que finda na matéria, o que nos leva a deduzir que o mundo emana de uma transcendência absoluta e indizível, deve-se também admitir que “não se pode pensar dela senão por aproximações e negações”. Ou seja, “é possível saber o que esse princípio único não é, nunca o que ele é”.
Sem limites. Assim sendo, essa entidade transcendente “não pode ser determinada, porque determinar é fixar limites. E, não tendo nada que o limite, o Uno é ilimitado, infinito”. Nessa ideia, reside a originalidade da obra de Plotino, pois, “enquanto a tradição filosófica, na Grécia, pensava o infinito como imperfeito e que o ser perfeito tinha como característica necessária a finitude, Plotino viria a inverter o argumento ao considerar que “a perfeição só pode ser ilimitada, infinita”.
As emanações do Uno (as quais Plotino prefere chamar de “hipóstases”) têm, de acordo com ele, diversos graus de perfeição, e cada grau ilumina o que lhe é inferior. Somente a matéria é carente de perfeição. E é imperfeita por ser inerte, isto é, sem capacidade de emanar. Segundo ainda Plotino, é na matéria, portanto, que se esgota o que ele chama de “processão” — “a série de emanações iniciadas no Uno”.
Além de infinito, diz o filósofo, o Uno é também imóvel. Segue-se daí que o princípio único não “age” para criar o mundo. Ele “contempla”. É dessa contemplação que emana a Inteligência, da qual emana a Alma do mundo, da qual, enfim, emana o mundo sensível. Tal acontece, ou assim é, porque o Uno é luz – luz infinitamente difusa, irradiando e preenchendo tudo, sem se extinguir jamais.
E, conclui Plotino, o ser humano, uma vez concluída sua trajetória evolutiva, “dissolve-se”, por fim, na perfeição do Uno. “E a filosofia é o caminho que o leva a isso.”