Filosófica e socialmente podemos conceituar a expressão “condição humana” como sendo a vivência de todas as características e eventos que compõem a existência humana, desde o nascimento até a morte do corpo físico. Portanto, na condição humana enquadram-se todas as fases da vida – o nascimento, a infância, a juventude, a madureza e a velhice – com todas as emoções, as aspirações, as benesses, os sofrimentos e os conflitos. Para simplificar, é o desenrolar da vida terrena do espírito como indivíduo, é a sua trajetória evolutiva em sua passagem pela Terra face aos acontecimentos e suas interações com eles.
Histórico. Muito se escreveu e se continua escrevendo sobre a condição humana, com destaque principal, na ordem cronológica, para André Malraux (1933) e Hannah Arendt (1958).
André Malraux (1901-1976), romancista francês e ministro da Informação no Governo De Gaulle, nos legou um livro com o título de A Condição Humana (1933), obra muito discutida ao tempo de sua publicação. Segundo Malraux, “o passado acaba por ser para o indivíduo um capital de experiência humana, um conjunto de tensões e choques, civilizacionais ou individuais, numa consciência dualista da vida do homem no mundo e da sua aventura do futuro”. E mais: “a condição humana pode assim ser entendida como a luta entre a vida e a morte, entre o indivíduo e o grupo (a sociedade), a liberdade e o destino, o que é finito e o que se pode aperfeiçoar”. Sua concepção de vida deixou claro que o homem não é um ser isolado, necessita de outros seres, condição para se realizar aqui na Terra. A condição humana não implica necessária e exclusivamente negativismo, antes apenas reflexão e tomada de consciência do papel do homem no mundo, no tempo e no espaço. Como disse Martin Luther King Jr. (1929-1968), líder da população negra americana: “Aprendamos a viver em conjunto como irmãos, senão vamos morrer em conjunto como uns idiotas”.
Hannah Arendt (1906-1975) foi uma filósofa política alemã, de origem judaica, considerada uma das filósofas mais influentes do século XX. Formada na Alemanha, em 1933, assumiu sua posição na luta contra o ideal nazista. Em seguida, tornou-se apátrida em 1937, mudando-se, logo após, para os Estados Unidos em 1951, assumindo a nacionalidade norte-americana. Em resumo, Hannah Arendt tornou-se referência por desenvolver uma inovadora forma de reflexão sobre a política, contrariando conceitos tradicionais como a questão da “direita” e “esquerda” na filosofia.
Seu livro, também com o título de A condição humana, veio a lume em 1958, treze anos após o término da Segunda Guerra Mundial, em 1945, e tornou-se um clássico em Filosofia Política no século XX.
No livro, ela afirma que a humanidade contemporânea é prisioneira de suas próprias necessidades emocionais, sem motivações morais e sociais, com responsabilidades político-sociais em segundo plano, o que conflita pensamentos éticos com relações humanas. Ela acreditava que sem assumir responsabilidades morais não se consegue uma boa saúde psíquica e relacionamentos saudáveis e fortalecedores.
Ela nos transmitiu, também, que os homens não nascem só para viver ou morrer, mas sim para começar de novo, para ressignificar suas vidas. Mesmo sem explicar por que nascemos nem de onde viemos, por ser materialista, ela reforçou a importância de nossos pensamentos e ações para assegurar os valores morais, sociais e políticos. Reconheceu, ainda, a nossa capacidade inata de tomar decisões, ou seja, do uso do livre-arbítrio, mas entendeu que a vida é uma improbabilidade que ocorre de maneira regular. Por fim, acentuou que o predomínio do egocentrismo dificulta nossa capacidade de mudar o mundo.
Filosofia e abrangência. Para nós, espiritualistas que somos, entre os muitos atributos do espírito destacamos o princípio da dignidade, que ilumina o caráter, transformando os seres humanos em pessoas honradas e evoluídas. Juntando esse princípio com o princípio da igualdade da essência espiritual que respalda o princípio da igualdade com o direito que nos é garantido pela lei constitucional (Art. 5º da Constituição Federal do Brasil: “Todos são iguais perante a lei…”), a pauta da condição humana deságua na prática do bem e no cumprimento dos deveres. Assim, a condição humana abrange uma ampla escala de direitos e deveres (valores morais) ajustados aos princípios éticos que embasam a cultura de cada nação, procurando satisfazer nossas necessidades parcimoniosamente.
Na Filosofia, Immanuel Kant (1724 –1804), filósofo prussiano da era moderna, já dizia em seu tempo que “todo ser humano tem o direito de ser tratado de forma igual e fraternal”. Esse filósofo, portador de profunda sensibilidade metafísica, é considerado como o último grande filósofo dos princípios transcendentais da era moderna.
É inegável, também, que o homem em si tem a tendência inata de viver em grupo, em sociedade, buscando o convívio um com os outros. Isso reforça a semelhança de que já falamos, marcando profundamente a necessidade de buscar amparo, conforto e cooperação com seus semelhantes. Isso vem ao encontro e reforça o princípio da ação e da solidariedade humana, ao mesmo tempo em que o princípio da pluralidade de ações pelas numerosas atividades humanas que embasam as profissões no sentido de satisfazer suas necessidades. A dimensão dessas necessidades é variável de ser para ser humano em função de numerosos fatores, sendo o mais nobre deles o grau de espiritualidade. É a busca de progresso material e o enfrentamento das condições mais adversas que conduz o ser humano a essa simbiose que beneficia todos os seres.
Conclusão. Todos nós sabemos que o panorama da vida humana neste nosso planeta-escola é de profunda submissão do espírito, durante sua trajetória evolutiva, às mais penosas condições de toda sorte de reveses. Estamos condicionados a enfrentar todos esses desafios de maneira altaneira, de cabeça erguida para alcançarmos maior grau de evolução. Para isso, o ser humano precisa compreender o verdadeiro sentido da vida procurando vivê-la material e espiritualmente.