A contribuição do mundo árabe para o avanço do conhecimento

O escriba faz aqui um resumo sobre três importantes filósofos e cientistas do mundo muçulmano, Al-Kindi, Al-Farabi e Avicena, que contribuíram, na Idade Média, para a preservação do legado cultural da Grécia antiga e para o avanço das ciências — feito histórico e fundamental para o desenvolvimento da ciência no Ocidente.

No século IX teve início a tradução de obras da filosofia grega para a língua árabe. Findo esse século, o mundo muçulmano já dispunha da tradução de, praticamente, todo o repertório das obras aristotélicas e de vários Diálogos de Platão.

Assim, desse período em diante o mundo islâmico passaria, de fato, a preservar muito da cultura da antiguidade grega. A maioria das obras de Aristóteles se perdera na Europa, mas foram preservadas no mundo árabe. Só no século XIII seriam reintroduzidas na Europa, através dos próprios árabes.

Esses históricos filósofos e cientistas são, na verdade, três polímatas, ou seja, estudiosos que conhecem muitas ciências ou, em outras palavras, indivíduos de cultura surpreendentemente extensa e variada.

Al-Kindi (801-872). Primeiro filósofo do mundo muçulmano, Al-Kindi (801-872) foi também o primeiro a afirmar que os planetas giram em torno do Sol, de oeste para leste. Como os outros dois sábios muçulmanos  em questão, ele  empenhou “todas as forças d’alma” na conquista dos variados ramos do saber. Além de filósofo, foi  médico, matemático, físico, químico, cosmólogo e astrônomo.

De seus escritos, tem-se conhecimento, hoje, dos que escreveu sobre metafísica, lógica e ética. Sabe-se também que chegou a criar um vocabulário árabe ao traduzir obras filosóficas escritas em grego. Al-Kindi se preocupou também em responder a “questão de como o intelecto humano pode apreender a essência das coisas”. Segundo ele, “a inteligência conhece a essência e a transmite ao intelecto”.

Al-Farabi (870-950). Após afirmar que segue essa mesma linha, Al-Farabi (870-950), sem perder tempo, cria uma hierarquia de inteligências, a última das quais, de acordo com ele, dá forma às coisas e as torna inteligíveis ao intelecto humano.

Assim como Pedro Abelardo, do qual falamos no artigo anterior, Al-Farabi foi também um filósofo especializado na ciência da lógica, além de físico, matemático, meteorologista, enciclopedista, estudioso da política, musicólogo e tradutor.

Não obstante tudo isso, ainda provou a existência do vácuo, inventou instrumentos musicais e escreveu 117 obras. Um de seus livros —  o Fusus al-Hikam — tornou-se referência para a filosofia europeia por vários séculos.

Avicena (980-1037). Outro ilustre polímata do mundo muçulmano, Avicena (980-1037) foi filósofo, médico, matemático,  astrônomo, físico, geólogo, zoólogo e musicólogo. Conta-se que de sua atuação como médico resultou valiosa contribuição: além de ter proposto a hipótese de que algumas doenças seriam provocadas por corpúsculos presentes no ar e na água, descreveu a anatomia do olho humano e o funcionamento do coração; pesquisou diversas doenças, como o diabetes, o sarampo e a varíola; elaborou técnicas de diagnóstico; e ainda conseguiu tempo para escrever uma enciclopédia médica de 14 volumes.

Intitulada Cânone da Medicina, essa obra de Avicena é resultado de suas  próprias experiências e de seus estudos e análises da antiga medicina árabe, dos escritos de Galeno, de Sushruta e de Charaka, bem como da medicina islâmica medieval. O Cânone — que se tornou “livro obrigatório nas escolas europeias de ciência médica até o século XVI” — é considerado uma das obras mais famosas da história da medicina.