A destruição da Amazônia

Eu não sei se é possível, ainda, salvar a Amazónia da destruição, que temo ser lá irreversível. Não faltaram vozes de advertência aos órgãos responsáveis do governo, quando a maioria dos nossos homens públicos foi acometida da febre de ocupação da Amazônia, a qualquer preço, para incorporá-la à economia diziam nacional.

O Brigadeiro Pedro Frazão de Medeiros Lima, atual adido militar da Aeronáutica em Washington e grande estudioso de assuntos amazônicos, fez diversas conferências, inclusive em universidades paulistas, demonstrando que as condições particulares, de pelo, menos, 90% do grande território, exigiam, imperiosamente, a preservação das florestas nativas, para não se transformar, em pouco tempo, num deserto irrecuperável.

A Amazônia — dizia o Brigadeiro, ungido do fervor patriótico que lhe abrasava o espírito — poderá enriquecer o nosso país, se as suas imensas riquezas naturais forem criteriosa e cientificamente exploradas, sem se tocar nos elementos imprescindíveis à sua conservação, que são as florestas e a sua própria fauna.

Mas essas florestas e essa fauna estão sendo implacavelmente devastadas, e não serão os protestos platónicos do Secretário do Meio Ambiente, desacompanhados de medidas concretas, que vão impedir a ação predatória dos vândalos.

É profundamente melancólico ouvir do titular dessa Secretaria a confissão de que mais de 400 hectares foram, nos últimos anos, devastados. E o pior é a mesma autoridade quem esclarece — é que da área devastada, nem 20% se acham sob o regime de exploração econômica.

O leitor acredita que a área devastada seja, apenas, de 400 hectares, como afirma o Secretário do Meio Ambiente? Eu, não. A julgar pelas informações que tenho recebido, é incomparavelmente maior essa área.

E isso é fácil entender: os depredadores têm o campo livre. Ninguém está ali para tolher-lhes a ação. O que pode acontecer à Amazônia desmatada, em futuro próximo, pouco lhes importa. O que lhes interessa, é o que ela tem para oferecer-lhes, “agora”. Para eles, tudo se resume em lucro fácil. Não existe lá madeira em abundância, da qual o mercado está faminto? Claro que existe. Pois então é deixar de lado o escrúpulo, e mãos à obra.

Os outros depredadores — os pecuaristas — recebem até estímulos do governo federal, através de incentivos fiscais, e não é improvável que na hora em que escrevo este artigo, a exemplo do que está acontecendo no Acre, invadido por criadores procedentes do Sul e do Centro-Oeste do país, e cujas florestas vêm reduzindo a cinzas, estejam também sendo queimadas as florestas amazonenses, para serem rapidamente transformadas em campos de pastagem — sonho ilusório que a realidade acabará por dissipar, melancolicamente, quando menos esperarem, devido à irremediável aridez do solo.

Ainda há pouco, em termos veementes, o ilustre senador por Goiás, Sr. Leoni Mendonça, condenou, da tribuna do Senado, a política irresponsável e suicida que vem sendo adotada na Amazônia, dizendo que se não forem tomadas imediatas providências para deter a ação predatória que vem sofrendo o grande território, milhões de hectares da imensa área tropical estarão, em pouco tempo, transformadas em zonas semiáridas, sem possibilidade de recuperação.

Será que os responsáveis por esta nação continuarão a permitir que se consume, impunemente, esse inominável crime contra não, apenas, o nosso país, a humanidade?

Publicado em 20 de abril de 1975.