A felicidade
A felicidade mais serena, a felicidade mais doce é justamente aquela que nos vem da tranquilidade do espírito. Ele é o governador sensato de nossa vida e irradia, como faísca, milhares de centelhas, que nos iluminam e confortam.
Uma consciência reta, um pensamento nobre, um ato bom, uma renúncia altiva, um carinho, uma lágrima, uma palavra apenas se eleva até à alma, purificando-a ou transformando-a. Quanta gente que, procurando a felicidade, inutilmente, no meio da pompa, enrolada em pedrarias, coberta de sedas, foi encontrá-la, simplesmente, nos olhos ternos de alguém ou no sorriso grato de uma velha enferma?
Não é difícil viver-se uma existência povoada de ilusões, uma vida de paz, uma vida de sorrisos largos, se compreendermos melhor a humanidade que vive conosco e para a qual vivemos. Há dificuldades, arrufos, egoísmos, invejas e loucuras, mas nós poderemos estudar todos esses pontos e resolver com o sentimento, pela ternura, os defeitos que nós, também, insensivelmente, temos ou já tivemos algum dia. Defeitos que praticamos ou que ainda cometemos, diariamente, sem que isso nos pareça um mal causado ao nosso semelhante. Quem poderá garantir-se um perfeito, um justo, sem nunca ter errado, sem falhas ou sem maldade? Quem poderá avaliar, se o erro cometido pelo nosso próximo, é maior que o nosso? Quem nos dirá que nós somos mais puros que os outros, se a nossa própria vaidade há de julgar-nos por si?
Não são os maiores erros os mais graves; quantas vezes nos atormentamos com as pequeninas falhas, que injustamente cometemos contra alguém e para quem não houve lenitivo que lhe secasse as lagrimas ou lhe adormecesse o coração?
Quão mais doce, quão mais feliz seria o mundo, se a humanidade se estimasse e se tolerasse mais! Reconhecer um erro e não o criticar, mas modificar-lhe a forma, transformando-o em qualidade ou em menor defeito. Compreender, enfim, que existe sempre um fundo de aproveitamento nas almas mais insensíveis; que ali existe sempre alguma coisa desse Todo magnânimo que deu aos homens a mesma forma, o mesmo movimento, o mesmo direito de viver, de errar, de aperfeiçoar-se e sobretudo colocando, em casa ser humano, uma quantidade suficiente de amor, para que o mundo jamais se estrangulasse ou se esfacelasse totalmente.
Olhemos para nós, especialmente, e aprenderemos a tolerar mais, pois os mais errados, mesmo, somos nós!
Diva Paulo Guimarães
Publicado em 8 de dezembro de 1985.