Por meio da lógica, da física e da ética, diz Epicuro, obtém-se o verdadeiro conhecimento, sem o qual seria impossível ao ser humano concretizar seu “objetivo natural” – o prazer e a felicidade. (É realmente de admirar que o chamado “profeta do prazer e apóstolo da felicidade” não seja outro senão o próprio Epicuro, um homem que, por sofrer de cálculos renais, teve uma vida marcada pela dor.)
Segundo esse pensador grego do Período Helenístico, para ter prazer e ser feliz, deve o homem, antes de mais nada, dominar a lógica – conjunto de regras práticas, ou cânones. Pois nada a não ser a lógica vai proporcionar-lhe os recursos de que necessita para que possa fazer a distinção entre errado e certo, entre verdade e falsidade.
As falsas opiniões (que levam os indivíduos a temer a morte e os deuses), o sofrimento causado pela dor e o desejo incontrolável de experimentar prazeres são os males dos quais se libertam os que chegam a conhecer a estrutura do real (a física).
Prazer ético. Segundo um estudioso da filosofia de Epicuro, o tratado sobre ética desse filho da Grécia constitui um tema que, como outros abordados por ele, evidentemente “não carrega a marca do racionalismo grego”.
A ética epicurista baseia-se no princípio de que “o homem é virtuoso e feliz quando, com um mínimo de sofrimentos, atinge o máximo de prazer”.
Que a satisfação dos prazeres físicos seja uma necessidade natural do ser humano não padece dúvida. No entanto, igualmente não há dúvida de que deva ser controlada, para que não cause dor. Sobretudo, porém, deve ele entender que, além da satisfação natural, há também o prazer ético, a verdadeira felicidade. Mas ao prazer ético não se chega senão pela aponia (ausência de dor) e pela ataraxia (ausência de perturbação da mente).
Segundo Epicuro, “a ética deve conciliar-se com uma interpretação do mundo e das forças que o governam”. Assim sendo, preconiza ele, o ser humano não deve deixar-se dominar pelo medo de tais forças. Só dessa maneira poderá conseguir sua autonomia e sua paz interior, bem como rejeitar toda espécie de preconceito e superstição.
Escolhas. Saber fazer escolhas – eis, na verdade, de acordo com Epicuro, o que significa estar no mundo. E na função de escolher contamos também com nosso corpo, “que nos ajuda a encontrar os desejos adequados”. As escolhas, por sua vez, colaboram para nossa autonomia e autossuficiência.
Tal afirmação de nosso eu ante as possibilidades naturais ou antinaturais do mundo é sinal de equilíbrio psíquico, ou serenidade da alma, que Epicuro e os demais pensadores do Período Helenístico, bem como, antes deles, o filósofo Demócrito chamam de ataraxia, aportuguesamento do grego “atarakxía”.
O melhor para o homem. Epicuro, um cético quanto à existência de Deus ou de deuses, diz a quem acredita em deidades que, mesmo que existissem, “não se preocupariam com os seres humanos”. O melhor para o homem, aconselha, é libertar-se da ideia de supostas divindades e do medo da morte, “causas de inquietações e infelicidade”. Numa das mostras de seu materialismo e de seu pessimismo, diz Epicuro que “a vida é, quando muito, uma tragédia. Não somos filhos de Deus, e sim enteados da natureza. Nascemos e vivemos por acaso. Depois da morte não há outra vida”.
Cumpre observar que nem seu materialismo, nem seu pessimismo, tão evidentes no parágrafo acima, nem tampouco seu viver marcado pela dor o impediam, segundo seus discípulos, de ser um cidadão sociável e amistoso, de sorriso bondoso e proverbial serenidade.