Começamos nossa reflexão sobre esse tema relembrando o mestre humanista Luiz de Mattos, fundador do Racionalismo Cristão, que nos disse: “Quando o espírito decide vir à Terra para prosseguir sua evolução, vem para progredir através do trabalho honrado e das boas ações, e não para passar tempo.”.
A relação entre o trabalho e a sociedade, sua função, seu ritmo adequado, sua importância cultural e sua essência moral estão entre os temas que procuraremos enfocar nesta reflexão. Compreendemos o trabalho como um fenômeno que possui íntima relação com a espiritualidade. O trabalho não é uma possibilidade, mas uma necessidade que permite ao ser humano ampliar os limites de sua experiência evolutiva. Ele é, sem dúvida alguma, um dos pilares sobre os quais se apoia a vida do ser humano esclarecido, pois esse é o meio privilegiado para a religação com os mais sublimes campos da espiritualidade.
Como fato social e histórico, o trabalho se apresenta sob múltiplas formas ao longo dos séculos, assumindo as mais distintas significações. Contudo, a humanidade continua a reverenciá-lo como uma realidade insuperável para o desenvolvimento das capacidades e talentos que compõem a estrutura humana. O trabalho infunde um novo impulso à realização da pessoa, desenvolvendo-lhe a compreensão, a força de vontade, a memória, a capacidade de concepção, o raciocínio, entre inúmeros atributos e faculdades espirituais.
O trabalho nos permite o reencontro constante com nossos atributos e faculdades, ensejando o desenvolvimento da personalidade. A atividade laboral favorece o silêncio, a humildade, o respeito, o equilíbrio. As relações de trabalho podem contribuir para a união de uma comunidade, despertando nesta o sentimento de apoio, de reforço.
É sempre importante ressaltar a harmonia entre o trabalho desenvolvido de forma digna e honesta e o aprimoramento do caráter no ser humano. Essa tomada de consciência, que denota a dimensão transcendente do trabalho, pois enseja a edificação de uma vida cheia de sentidos, plenitude e bem-estar. À luz dessa verdade, o espírito amadurece progressivamente, até atingir a compreensão de que a atividade e o dinamismo representam necessidades existenciais. Aristóteles disse: “O prazer no trabalho aperfeiçoa a obra.”.
As novas tecnologias provocaram, ao longo dos últimos anos, uma profunda mudança na visão humana sobre o trabalho. Entretanto, no que concerne à essência do trabalho, isto é, a seu aspecto espiritual, ele continua ser um importantíssimo instrumento do desenvolvimento humano em todas as suas dimensões, pois é trabalhando que se desenvolve a criatividade e a capacidade de resposta a desafios.
O trabalho é uma realidade espiritual de extraordinário valor. Dessa forma, analisar o ser humano como espírito em evolução implica reconhecê-lo em sua condição de trabalhador, transformador e construtor de culturas. O trabalho no plano histórico constitui superação e negação ao desânimo, ao esmorecimento, à inércia e, acima de tudo, à ociosidade.
Nada mais equivocado do que reduzir o conceito de trabalho a uma forma de exploração, ou explicá-lo segundo critérios puramente materialistas. Sem dúvida, houve historicamente diversas distorções acerca de sua função como instrumento de dignidade. Sabemos que se constataram espécies inadequadas de trabalho ao longo do tempo. Entretanto, pode a espécie suplantar o gênero? Evidentemente não.
Não há pobreza na vida daqueles que nutrem aspirações sinceras de crescimento espiritual e realização íntima. Os problemas financeiros, na maioria das vezes, são contornáveis, desde que o ser humano, sem negligenciar sua saúde integral, se empenhe por superar as adversidades por meio da criatividade, da disciplina, da parcimônia, da organização e, sobretudo, do trabalho diligente, sem nunca recorrer a expedientes desabonadores. Os que realmente podem ser considerados pobres são aqueles que voluntariamente desprezam seus atributos e potencialidades, entregando-se ao vício e a ociosidade.
Na verdade, meus amigos, o acúmulo de valores espirituais quase sempre exige um desapego equilibrado dos bens terrenos, um reconhecimento sincero dos próprios erros, um benquerer laborioso em relação ao próximo e uma entrega humilde às atividades construtivas da vida.
As vocações e talentos que partem do espírito encontram sua expressão prática no exercício da vontade e da ação, pois, como disse Confúcio: “Escolhe um trabalho de que gostes e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida.”.
Há, todavia, algo que diz respeito exclusivamente a cada um: a capacidade de decidir entre a humildade, que dignifica e eleva, e a vaidade, que rebaixa e deslustra. A pessoa que faz aquilo de que gosta e o faz da melhor maneira, procurando sempre aprimorar a execução de seu trabalho, não se preocupa com a afirmação de seus caprichos e gostos; ama o que faz e, mais ainda, alegra-se no exercício de suas funções, independentemente de reconhecimentos e aplausos. Assim, livre das amarras do culto à personalidade, está preparado para dilatar sua criatividade e sua sensibilidade.
Por meio do trabalho honesto e honrado, o ser humano se desenvolve e atrai para si o respeito e a consideração de seus semelhantes. O ser humano esclarecido está convicto do aspecto espiritual do trabalho e, dessa forma opta por pautar-se pelo conceito ampliado de trabalho, encarando-o como uma alavanca de progresso material e espiritual, e não pura e simplesmente como uma moeda de troca, ainda que defendamos, e ninguém o deve negar, que o trabalho deve ser remunerado o melhor possível.
A aptidão para ampliar conceitos é próprio do racionalista cristão, logo, este deve considerar como de máxima importância o trabalho de autotransformação que constitui o próprio sentido do viver terreno, cujo objetivo é a assimilação cada vez mais plena dos valores do espírito. Aprimorado em sua essência pelo amor ao trabalho, em sua vontade pela concretização de suas tarefas, o espírito alcançará e contemplará, com plena satisfação, a felicidade que tanto almeja.
Luiz Thomaz, cofundador do Racionalismo Cristão assim se expressou sobre o trabalho; “Toda pessoa que emprega sua atividade para o bem, que age com critério e, através do trabalho honrado e à custa e seu próprio esforço consegue dar conforto aos seus, sente-se feliz e tem orgulho de ser útil aos semelhantes.”.
Muito Obrigado!