A resiliência e a finalidade da vida

“Sem uma finalidade a atingir e um desejo de vencer os obstáculos, a vida perde a significação.”

Professora Olga Brandão, em O corpo e o espírito

Resiliência é um termo cujo significado, originalmente empregado na Física, refere-se à qualidade de materiais ou sistemas duráveis e resistentes que, após passarem por procedimentos de desgastes ou deformações, têm a capacidade de resistir e voltar ao estado original sem apresentar danos ou avarias. Em outras palavras é a qualidade de algo – materiais, processos ou sistemas – que não se deformam após sofrerem pressões com a força de provocarem desgastes e recuperam sua forma original sem degenerações ou deteriorações, isto é, sem apresentarem danos permanentes.
O termo é utilizado também em outras áreas do conhecimento como engenharia, comportamento organizacional (administração), ecologia (ecossistemas), comportamentos humanos (psicologia), entre outras. Quando se fala de resiliência de materiais, um bom exemplo é a borracha, que, após sofrer forte pressão ou impacto, absorve a força que a atingiu e volta ao seu estado normal sem qualquer deformação. Em termos de sistemas, podemos citar a área de Tecnologia da Informação (TI), cuja importância da resiliência se baseia na capacidade do sistema apresentar robustez, funcionalidade, proteção contra ataques externos (hackers), confiabilidade etc.

O corpo humano, em cuja resiliência se assenta a saúde física e psicológica, mantém-se – em condições normais – resiliente até a velhice, período da vida em que o desgaste físico inevitável se apresenta em conformidade com as leis evolutivas vigentes neste planeta- escola.

Psicologia. Quanto as relações humanas o termo remete à leveza, sabedoria, resistência, equilíbrio e principalmente adaptabilidade. Leveza para encarar os reveses e as situações adversas como elementos inerentes ao curso da vida; sabedoria para interpretar tais eventos como fatores motivadores de aprendizados e de crescimento; resistência para absorver e manter-se forte e seguro diante de impactos inesperados – físicos, morais, emocionais; equilíbrio para buscar o ponto de equilíbrio por meio da moderação e do autocontrole entre o que nos afeta e os impulsos que nos levariam a reações desmedidas; adaptabilidade para saber reconhecer a realidade dos fatos e desenvolver a habilidade de, sem grandes prejuízos emocionais, adaptar-se às novas necessidades, situações ou circunstâncias, sem, entretanto, furtar-se à busca equilibrada de soluções, ou seja, sem passividade, blasfêmias ou revoltas contra terceiros ou contra o transcendente (Deus ou Espiritualidade Superior). [Conceito de blasfêmia em https://www.dicio. com.br/blasfemia/: “(…) Discurso, expressão, opinião, enunciado capaz de denegrir e ofender algo respeitoso ou reverenciado. Palavra injuriosa contra pessoa ou coisa respeitável. Contrassenso. Declaração absurda, sem nexo, sem lógica (…)”]
Não obstante muitas pessoas associarem resiliência com força no sentido de manutenção da rigidez, observa-se que resiliência não significa necessariamente manutenção de padrões rígidos de comportamentos tendo em vista que a própria dinâmica da vida exige flexibilidade, que é fator inerente ao crescimento, à adaptabilidade e até à sobrevivência.
Neste sentido e pelo viés da rigidez, resiliente seria aquela pessoa que é teimosa, renitente, obstinada, que não cede, inflexível, persistente. Entretanto, voltamos a acentuar que ser resiliente não significa ser rígido. Vejamos um exemplo prático que distancia a resiliência da rigidez e demonstra a importância da adaptabilidade, ressaltando os riscos da rigidez. Em países como o Japão e Taiwan existe grande incidência de terremotos e sua manifestação se dá sem aviso prévio, o que significa que podem ocorrer em qualquer hora ou local, pegando todos de surpresa. À vista dessa realidade, a tecnologia desenvolvida pelos países criou métodos de engenharia que usa amortecedores de massa que contrabalançam os movimentos sísmicos e protegem os edifícios ao dissipar a energia dos abalos e reduzir os danos estruturais que pudessem vir a provocar seu desmoronamento. Sem essa flexibilidade e adaptabilidade oferecida pelos amortecedores de massa, mantida a rigidez das construções, seu desabamento seria inevitável e instantâneo.
Com o ser humano a rigidez de conceitos e de comportamentos o tornam refratários às inovações e à própria dinâmica da vida. Se utilizarmos o exemplo dos amortecedores de massa como analogia, mantida a rigidez, o ser humano se expõe, de forma significativamente perigosa, ao risco de perder o autocontrole e de se abalar ao ponto do desmoronamento de suas estruturas mentais, psicológicas e comportamentais à vista de fatos ou eventos abruptos ou de reveses inesperados.
Prever o futuro: Podemos dizer, sem exageros, que a tecnologia dos amortecedores de massa representa uma maneira de prever o futuro – os abalos sísmicos – e estar preparado para ele em termos de sobrevivência ante eventos da natureza completamente fora do controle humano. “Tudo bem, prever o futuro em relação aos terremotos nestes casos é fácil, pois são eventos previsíveis e recorrentes”, você poderá ponderar. “Mas como seria ‘prever o futuro’ em relação a uma pessoa?” Respondemos: Terremotos têm um padrão. O que varia é sua intensidade medida pela escala Richter em termos de magnitude, cujo ponto máximo seria o ponto 10 na escala. Ao fazermos a leitura do comportamento de uma pessoa, de suas ações e reações emocionais, de suas qualidades e deficiências, de seus valores e padrões de comportamento por meio da observação, da análise comparativa e da reflexão, atendo-se ao que é patente sem preconceitos ou julgamentos enviesados, podemos prever com certo grau de precisão como irá agir em determinadas situações. É fácil assim? Não, não é fácil! Tampouco é impossível. Ao aplicarmos os conceitos de amortecedores de massa – um elemento da resiliência – nas relações humanas, prever o comportamento de uma pessoa é perfeitamente possível em condições normais, afastadas aquelas que apresentam acentuados desvios de comportamento intencionais, como falsidades, manipulações, mentiras e dissimulações.

Observar a resiliência de um comportamento, pelo viés positivo, seria como ver um campo de trigo que “se curva” ao vento enquanto ele passa e depois de ter passado o vento, o trigo volta à sua posição normal. Outra maneira de prever o comportamento de uma pessoa com base em indícios e adotando precaução, mas sem prevenções descabidas, seria usar o método de confiar desconfiando ou de esperar o melhor, mas estar preparado para o pior.
Frente a essa constatação da dinâmica das relações sociais e mantida a convicção dos porquês da vida proporcionada pelo Racionalismo Cristão, o ser humano terá maior capacidade de se posicionar com a firmeza e, ao mesmo tempo, com a flexibilidade que o capacitarão a se adaptar – ou mesmo prevenir e evitar – pessoas que eventualmente possam representar pequenos ou grandes prejuízos, sem ser pego de surpresa. Buscando sempre soluções ao imprevisto – e ao que é possível “prever” – e mantendo-se firme em seus propósitos e valores, o ser humano saberá reconhecer a finalidade da vida em sua estada neste planeta, vencendo os obstáculos que surgirem no caminho e criando significados para as pessoas ou circunstâncias que possam afetá-lo, ampliados pelo conhecimento da espiritualidade. Sendo assim podemos dizer – e pode parecer simplista – que a finalidade da vida é simplesmente viver! Viver com a disposição de vencer obstáculos e criar significado para os fatos, pessoas, coisas e eventos que nos tornam todos humanos – espíritos no curso terreno da evolução, cada um no seu próprio ponto na escala evolutiva.