Da leitura unilateral ou exagerada dos desafios da vida, pode resultar um entendimento indevidamente redutor e equivocado sobre as melhores soluções a ser adotadas, estabelecendo-se, por conseguinte, um quadro de incompreensões e ambiguidades.
No empenho de delimitar fronteiras e circunscrever campos de atuação, utilizamo-nos, de forma recorrente, da lapidar máxima aristotélica in medio stat virtus – a virtude está no meio. De fato, tal sentença possui uma expressiva sabedoria, que se impõe pela agudez de sua autenticidade. Desdobraremos sinteticamente seu conteúdo na presente reflexão.
Quando a pessoa se depara com situações conflitantes, fatos desagradáveis e estados perturbativos, deve agir com equilíbrio, a fim de restabelecer a harmonia no ambiente e conservar a própria. Com certeza, a equanimidade permite a atitude equilibrada e na justa medida.
Ao dedicar-se, de antemão, a uma vivência totalmente despojada de reflexão crítica, o ser humano assume uma atitude de alienação, tão preocupante como a daqueles que se cobram excessivamente. Lembremo-nos: a virtude está no meio. Não há dúvida de que, mantendo-se equilibrada, a pessoa estará em melhores condições de efetuar uma autoanálise sem exageros ou afetações.
Queremos deixar nítido que a dimensão espiritual é um elemento-chave no estabelecimento dos princípios que estruturam as relações, sejam elas quais forem. Pela importância e seriedade de que se reveste o tema tratado, não seria adequado deixar de asseverar que todos os atos humanos são equivocados quando excedem o nível médio das coisas, isto é, quando são desprovidos de equilíbrio. O bom senso, a serenidade e sobretudo o respeito são fundamentos para o crescimento individual e coletivo, de modo que não podem ser desprezados pelas pessoas que buscam o cultivo das virtudes.
Há que considerar que a atitude exagerada, opulenta e descabida desacredita a pessoa soberba, que, como consequência de seus pensamentos, sentimentos e atitudes tendenciosas, experimentará, mais cedo ou mais tarde, situações que lhe pervertam ainda mais o sentido ético, amedrontando-se, acovardando-se e amesquinhando-se.
A valorização dos aspectos transcendentes da vida, a interpretação conscienciosa dos fatos, a moralidade nos atos cotidianos, a verdade como farol e a justiça como paradigma, bem como a polidez nas maneiras e a sobriedade no comer, no falar e no trajar são ideais permanentes da pessoa espiritualizada. Sua visão lúcida lhe permite aceder, sem prevenções descabidas ou tolas amplificações, a interpretação da verdade.
A pessoa que aprendeu a contemplar a vida em seu aspecto amplo, que olha para além das condicionantes materiais, que reflete e pondera as situações que se lhe apresentam com os óculos da espiritualidade, que organiza, por fim, suas ideias de modo coerente, afasta de si não somente as interrogações exclusivistas e polarizadas fundamentadas em uma lógica linear, como também as interpretações equivocadas e reducionistas do radicalismo entorpecedor.
Os sentimentos de medo, confiança, desejo, indignação e consideração para com o próximo podem ser acalentados em excesso ou em grau insuficiente. Tanto um caso quanto o outro constituem um equívoco que produz consequências muito desagradáveis. Senti-los, porém, na ocasião apropriada, com referência às situações convenientes, para com as pessoas certas, pelo motivo e da maneira que couber, é nisso que consiste o meio-termo, suporte da virtude.
No que concerne às atitudes, também existe excesso, carência e um meio-termo. Devemos buscar este último no agir, a fim de conservar a mente tranquila e os sentimentos harmônicos.
Por fim, mas de modo não menos importante, há que ressaltar que nem tudo na vida admite um meio-termo. A honestidade e a corrupção, por exemplo, não o admitem. Ninguém poderá ser considerado meio honesto ou meio corrupto. Ou se é uma coisa ou outra. Na corrupção, jamais pode haver probidade, mas somente incorreção. Analogamente, a atitude honesta não comporta nenhum grau de covardia ou injustiça.
Na maioria das situações da vida, o meio-termo emerge como a melhor solução; não se trata, contudo, de uma regra fixa e imutável. Como distinguir então os momentos em que devemos admitir o diálogo e a flexibilização daqueles em que devemos adotar uma postura rígida e intransigente? Espiritualizando-nos, como nos indica o Racionalismo Cristão. Sim: essa é a via segura que nos conduz ao discernimento.
Muito Obrigado!