A volta da moralidade

Tempos difíceis estes que o Brasil vem atravessando. O quadro é assustador, chega a ofender o bom senso. Recessão que recrudesce, e o consequente desemprego, inflação contida artificialmente, juros além do limite da razão, violência de intensidade jamais observada, universidades fechadas porque as salas de aula estão ocupadas pelo lixo, saúde pública no CTI, corrupção que está quase erguendo o país à ponta do ranking da modalidade, estados falidos, prefeituras idem, folhas de pagamento dos governos nos três níveis desmedidamente inchadas… E ainda surge a denúncia de contaminação da carne com incriminação de empresas exportadoras do produto e abastecedoras do mercado interno. Haverá espaço para outros males?

A esperança não esmorece, porém; jamais morrerá. O brasileiro confia que o campo receberá chuva e sol na medida certa para multiplicar as safras agrícolas, que os cardumes vão oferecer-se nas praias e nas margens de rios e riachos para garantir proteína aos pobres; acredita que em muito pouco tempo países europeus e asiáticos vão necessitar de quantidades cada vez maiores dos minerais que abundam no subsolo deste imenso Brasil.

O brasileiro acredita e confia, pena que às vezes acredita até em Papai Noel, mas é melhor que seja assim. É essa confiança que o faz superar situações que, sem otimismo, o levariam à derrocada, à tristeza, ao verdadeiro sofrimento. Assim, o servidor público não recebe salário, mas encontra força para sobreviver (as contas ficam para depois); o desempregado tem humor para torcer pela classificação da seleção brasileira de futebol para a próxima Copa do Mundo e nem fala mais no vexame dos sete a um; a febre amarela avança (quem diria?), mas e daí? Ainda está longe da nossa porta.

Há, no entanto, algo que avança enquanto a crise, em seus múltiplos aspectos, tende a recuar, algo jamais visto no país e que, ainda que o brasileiro não tenha consciência, é o verdadeiro motor dessa esperança: a Operação Lava Jato. O trabalho da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, auxiliados pelo instituto das delações premiadas, dá a certeza de que em breve serão restauradas a decência e a moralidade nacionais, o que será um fator a mais para afastar a crise.