Sabemos que a parte da filosofia que expõe reflexões sobre o comportamento humano é a ética. Tais reflexões orbitam as noções de bem e mal, de certo e errado, de justo e injusto. A ética, contudo, quando ampliada pela perspectiva transcendente, peculiar aos nossos estudos e análises, adquire maior representação e relevo, impedindo atitudes improvisadas e irrefletidas e conduzindo o ser humano a uma maior identificação com os valores da espiritualidade divulgados pelo Racionalismo Cristão, conforme procuraremos demonstrar na presente reflexão.

O substantivo “ética” é oriundo do grego ēthikós, que significa “moral” (derivado, por sua vez, de ḗthos, que quer dizer “costume”). Em sentido mais abrangente, representa os parâmetros para o convívio harmônico entre as pessoas e os grupos que formam o tecido social. A ética, enquanto ramo da filosofia, ocupa-se da elaboração de princípios orientadores no que se relaciona à ação humana, ao mesmo tempo que reflete sobre o teor dos sistemas morais criados pelos seres humanos.

A análise do conceito de ética à luz da espiritualidade defendida pelo Racionalismo Cristão nos fornece uma importante chave de interpretação: permite-nos percebê-la como um conjunto de valores transcendentes construído historicamente por meio das relações entre pessoas e coletividades, que busca o bem comum, a valorização das virtudes e a promoção dos seres humanos por meio do desenvolvimento de seus atributos. Dessa forma, considerada de forma abrangente, a ética tem um valor extremamente prático e direto, que ultrapassa o campo da individualidade, pois a ação ética impacta positivamente a sociedade.

Nosso objetivo ao abordar o presente tema é fornecer subsídios para que o estudioso dos ensinamentos do Racionalismo Cristão desenvolva uma visão mais ampliada sobre a ética, fundada tanto na importância do desenvolvimento de hábitos sadios e no consequente aprimoramento da própria personalidade, quanto no valor da atitude, exteriorizada em gestos probos, honestos e íntegros, de maneira a conciliar as demandas da vida prática com os elevados preceitos da espiritualidade.

A atitude ética fundamentada em valores espiritualistas, sendo, por essência, um ornamento do caráter e da moral, faz com que o ser humano, munido das melhores intenções e intuições, raciocine com assertividade e, por conseguinte, se revigore e se retempere para tudo enfrentar com coragem e valor. O cultivo das virtudes, que é uma consequência da ética, restaura as energias, ilumina a mente, prodigaliza talentos e contribui eficazmente com o bem comum.

A perseverança na ação ética consegue-se por meio da absorção dos valores da espiritualidade. Quando a pessoa contempla a vida em seu aspecto transcendente e pratica o bem, cumprindo os compromissos assumidos com fidelidade e honestidade, põe-se em condições de compreender, a partir de uma perspectiva mais ampliada, a importância de conduzir-se sempre de forma ética e valorosa, independentemente das circunstâncias. É importante que o ser humano reconheça que deve canalizar suas energias e talentos para o desenvolvimento de suas faculdades morais, visto que é por meio delas que ele terá uma melhor compreensão da realidade que o cerca.

No transcurso da presente reflexão, procuramos salientar a importância da ética enquanto ramo da filosofia que se debruça sobre as normas morais e jurídicas; todavia, fomos além: afirmamos que a ética deve ser entendida sobretudo enquanto capacidade de abertura a uma exigência absoluta de respeito à vida em todas as suas dimensões e ao ser humano integralmente considerado. Assim sendo, a ética espiritualista é capaz de transformar o egocentrismo e suscitar comportamentos respeitosos não apenas no contexto das relações humanas, mas também entre os seres humanos e a natureza.

O conceito ampliado de ética que nos empenhamos em transmitir permite o reconhecimento da interconexão e, mais do que isso, da interdependência entre os seres humanos, de modo que a partir dessa constatação podemos revalorizar o convívio respeitoso e fraterno, que constitui, por sua vez, o sustentáculo da cultura de paz de que tanto necessitamos.