Desde pequena, minha filha sempre foi rebelde comigo. Sempre cuidei dela, fui pai e mãe, porque me separei do pai dela quando ela tinha somente nove meses. O pai nunca foi presente, nunca a ajudou em nada, achava que eu é que tinha condições para cuidar dela e mantê-la, porque era bem empregada. Sempre procurava me comunicar com ele para ao menos ver a filha, mas raras vezes fazia isso. Fiquei um período da minha vida estudando e trabalhando. Pensando em melhorar no emprego, para dar um futuro melhor a ela, tudo que fazia e fiz foi pensando no melhor para ela. Ela estudou em bons colégios, teve a melhor educação que pude dar da parte dos estudos. Hoje ela é formada em nível superior, reconhecida pelos professores que teve como muito inteligente e capacitada para trabalhar na área que escolheu. Fiquei muito feliz por tudo isso. Ela se formou e hoje trabalha num laboratório da faculdade. Até aqui tudo muito bom, mas a rebeldia aumentou, depois que ficou adulta. Nesse período todo, ela sempre me destratando, e eu sempre irradiando para ela.
Eu tinha uma tia, irmã do meu pai, que, depois que me separei, quis me ajudar a cuidar da minha filha, e foi morar conosco. Minha filha já estava com três anos e ficava com minha tia para eu poder trabalhar e estudar. Antes dela ir morar conosco, a menina ficava numa creche considerada a melhor do bairro em que moro. Quando minha tia veio morar conosco, ela continuou na creche. Minha tia era uma pessoa que brigava muito comigo, era muito autoritária, e a menina foi criada nesse ambiente. Minha tia sempre a tratou bem, fazia tudo que ela queria, mais até do que eu. Eu não achava certo isso, falava com minha tia que não deveria agir assim, porque seria prejudicial à menina.
Amizade e respeito. Minha tia teve participação muito grande na educação dela. Minha filha tinha adoração por ela, respeitava-a mais do que a mim. Já adolescente, passou a conversar com ela todos os problemas que tinha com as amizades ou com namorado. E minha tia também não falava comigo o que conversavam. Minha tia resolveu ir morar sozinha porque não gostava da minha mãe, que, doente, veio morar comigo, para eu cuidar dela e minha filha ficou revoltada comigo, a ponto de querer ir morar com o pai. Mas o pai disse que não queria ficar com ela. Levei-a uma psicóloga que tratava só de adolescente, com as terapias ela aceitou a situação da minha tia não mais ficar morando com a gente.
Há dois anos minha tia faleceu e foi cremada. Minha filha quis trazer a urna com as cinzas para a nossa casa, e ficou aqui até há15 dias.
Minha filha tem uma mediunidade muito aflorada, e estava vendo vultos aqui dentro de casa. Então ficou uns dias fora. Eu perguntei ao presidente da filial onde trabalho se podia ficar com a urna da minha tia aqui em casa e ele disse que não. Então, pedi ao meu irmão para levá-la e colocá-la num jardim. Mas não falei com minha filha porque sabia que não ia aceitar. Ontem ela deu falta da urna, e ficou pior comigo. Disse até que minha tia que era mãe dela. Fiquei muito chateada, porque sempre me dediquei a ela, e ela não me aceita como mãe dela. Fiz esse relato todo para saber onde errei. Ou se errei. Tem mais uma coisa; minha tia foi médium do Racionalismo Cristão por 10 anos, e teve que sair por problemas no joelho. O presidente achou melhor ela não trabalhar mais, e eu nem sei ao certo se era isso mesmo.
Mil desculpas por fazer um relato tão grande. Obrigada pela atenção. Sou militante há três anos. E acho que ainda não sei muito, mas estou certa de uma coisa, do Racionalismo Cristão não sairei nunca, porque é ele que me conforta, que me dá forças, para continuar, minha trajetória evolutiva, às vezes acho que este problema que passo com minha filha, possa ser de vidas pretéritas, e que ela ainda não eliminou do seu corpo fluídico, porque, como disse, ela tem uma mediunidade muito forte.
Resposta: Prezada, pelo seu relato, percebemos que o que falta no relacionamento com sua filha é um diálogo franco e honesto. Não fique pensando em dívidas de vidas passadas. Fique atenta ao que ocorre na atual existência terrena. Muita coisa foi feita sem o conhecimento de sua filha e ela deve se ressentir disso.
Você justifica sua ausência pela necessidade de suprir necessidades básicas de seu lar. Mas será que sua filha não sentiu isso como abandono? Essa seria a interpretação natural de uma criança. E isso deixou marcas na criança, em uma época em que, conforme nos dizia Antonio Cottas, tudo fica gravado no espírito como se fosse em mármore.
Portanto, isso deve ser considerado com muita atenção. Mesmo depois de adulta, você continuou a assumir ações sem conversar com sua filha. Por exemplo, o caso da urna de sua tia e do afastamento dela em uma época em que sua filha já podia entender a situação se tudo tivesse sido conversado honestamente com ela. Entretanto, tudo foi acontecendo sem que ela soubesse de nada e só pôde tomar conhecimento dos fatos depois de ocorridos. Isso deve ter sido bastante frustrante e doloroso para ela.
Essas mágoas foram se sedimentando no espírito de sua filha de forma a conduzir suas reações da forma como acontecem hoje. Procure compreender e dar muita atenção a esse fato.
Conversa, sempre o melhor. Portanto, nossa sugestão é que encontre um momento adequado (de preferência depois de ter preparado o ambiente com a limpeza psíquica no lar) e diga à sua filha que precisa de uma conversa franca e honesta com ela. Com a concordância dela, dialogue de coração aberto, expondo tudo o que aconteceu. Procure não dar à conversa o tom de que tudo o que foi feito é justificável e que você agiu pensando no bem dela. Deixe claro que você sente muito não ter conversado com ela sobre cada decisão tomada, sobre cada ocorrência na vida dela. Assuma que você devia ter sempre conversado com ela. Entretanto, não espere que ela vá superar tudo do dia para a noite. Diga isso a ela, mas deixe claro que você está disposta a um viver diferente. Mostre a ela que a vida em comum pode melhorar se ambas se entenderem. E que você está disposta a ouvir tudo o que ela tem a dizer sobre esse assunto.
Se ela se dispuser a conversar, não a interrompa. Ouça com atenção e aguarde ela terminar tudo o que tem a dizer. Principalmente, não busque justificar-se a cada problema que ela trouxer na conversa. Só ouça. Terminada a conversa, diga que vai refletir sobre cada problema/acusação que ela relatar e que está disposta a conversar antes com ela sempre que precisar tomar alguma decisão. E que está pronta a ouvir cada reivindicação que ela tiver a fazer. Assim terão condições de uma vida em comum com mais harmonia e paz de espírito.
Acreditamos que esse seria o melhor caminho a seguir e esperamos ter contribuído para que suas reflexões sobre esse problema ocorram de forma mais tranquila. Entretanto, reafirmamos, não aguarde que tudo seja sanado em curto espaço de tempo. Dê à sua filha oportunidade para pensar sobre tudo e, principalmente, para superar mágoas antigas e muito sedimentadas no espírito dela. Tudo o que pensar deve estar ligado ao que ocorre nesta existência. Deixe de lado ideias sobre vidas passadas, pois não temos nem conhecimento nem controle sobre tais ocorrências.