Tendo-se em conta que o materialismo obscurantista que se faz presente em diversos setores da sociedade contemporânea – fomentando o individualismo, o preconceito e o desrespeito à natureza – age de maneira particularmente intensa no campo do amor e distorce seu sentido, reduzindo sua amplitude e bloqueando seus efeitos, animou-nos abordar mais uma vez esse importante tema. Assim o faremos na presente reflexão.
De maneira sintética, mas não superficial, podemos afirmar que o amor verdadeiro, considerado a partir do prisma da espiritualidade, é o amor sincero e desinteressado, que não se ocupa em medir coeficientes de ordem material; é o amor que auxilia os homens e mulheres de nosso tempo a ampliar a convivência fraterna, a fim de que esta seja mais valorizada entre nós como um fator preponderante, que habilita o amadurecimento espiritual e permite a construção de uma sociedade livre, equânime e menos agressiva.
Sem o pensamento de amor ao próximo, nada vale a busca pelo autodesenvolvimento; por outro lado, todo pensamento que procede do amor que não busca recompensas, por menor e mais insignificante que pareça, produz incomensuráveis benefícios, tanto para seu emissor quanto para toda a família humana.
É o amor que veicula respostas às mais intricadas questões e permite ao ser humano superar muitas dificuldades de relacionamento. Alimentando-se diariamente do amor verdadeiro e fortalecendo-se com ele, todos serão capazes de alcançar a grandeza e o equilíbrio moral; tornar-se-ão uma referência, um porto seguro para os que estão sob sua tutela, quando estes, eventualmente, se encontrarem à deriva por conta dos delicados e complexos desafios que a vida lhes apresenta.
O enfoque racionalista cristão do amor-próprio, considerado em sua justa medida, fundamenta-se, pois, no entendimento de que só ama verdadeiramente o semelhante quem antes aprendeu a amar a si próprio. O amor começa dentro de cada um e, depois, refinado pela espiritualidade, pode espraiar-se com segurança para o conjunto humano, suavizando e elevando a convivência social.
O amor espiritual não discrimina nem faz juízo de valor, mas tudo supera de modo admirável. É ele que nos permite estabelecer relações saudáveis e ternas. Profundamente diferente do amor possessivo, denotando praticamente sua viva antítese, o amor espiritual – temos dito constantemente – não conhece nem o sentimento angustiante da perda nem a desgastante pretensão de domínio. Não pensem os amigos que expendemos considerações extremamente abstratas e idealizadas: temos inúmeros exemplos dentro do Racionalismo Cristão de pessoas que souberam viver essa dimensão tão sublime do amor.
Há pessoas que, em sua existência terrena, irradiaram tamanha lucidez e bondade que, mesmo separadas fisicamente de nós, continuam, à semelhança das mais cintilantes estrelas, a produzir a luz e o calor com os quais iluminamos os passos e aquecemos a alma. Humberto Rodrigues é uma dessas pessoas. Dotado de extraordinário amor ao gênero humano, deixou marcas profundas em nosso meio. Passados alguns anos de sua morte, sua memória continua a ser celebrada. Não apenas isso: a semente de sua vida produz admiráveis frutos.
Continuaremos a exaltar esse espírito exemplar, porque temos a consciência de seu mérito incalculável na afirmação e vivência de valores como a humildade e o amor verdadeiro.
A filosofia racionalista cristã exprime, de forma extraordinariamente bela e elevada, a urgência de autonomia do ser humano em relação às amarras e condicionalismos da materialidade, não apenas como uma condição para o progresso moral, mas sobretudo como exigência de liberdade. Nessa perspectiva, o amor possui tão destacada eficiência que pode iluminar suavemente a vida de cada um de nós, favorecendo o autoaprimoramento e o cultivo das mais nobres virtudes.
Muito Obrigado!