O provérbio “quem bem faz para si o faz” não deve ser compreendido apenas como uma frase de efeito, embora tenha sentido completo em si mesmo. Como procuraremos demonstrar nesta reflexão, é importante ampliar a linguagem e a capacidade de compreensão, principalmente diante de textos de tão elevado significado ético e espiritualista, como nos oferece o Racionalismo Cristão.
A prática do bem de forma constante e desinteressada, que está na essência do ditado aqui mencionado, situa-se no contexto de nossos estudos racionalistas cristãos como um assunto de máxima importância, nesse sentido, desenvolveremos a presente reflexão.
Antes de desdobrar o provérbio apresentado em nossa introdução e discorrer sobre a importância de ampliar a linguagem, pareceu-nos justo fazer uma sintética explanação a respeito da compreensão genérica das frases, expressões e enunciados que encerram grandes verdades espiritualistas. Quando nos deparamos com textos de alto teor, não devemos nos restringir a uma mera análise superficial, e sim penetrar na essência da mensagem, a fim de colher os ensinamentos práticos que ela transmite.
Por tudo o que dissemos até aqui, a expressão “quem bem faz para si o faz” jamais pode ser compreendida de maneira egoísta, como se seus efeitos tivessem um caráter meramente pessoal, interesseiro.
A compreensão correta e lúcida do ditado “quem bem faz para si o faz”, que cobre uma gama de comportamentos positivos e proativos, vincula-se necessariamente a uma compreensão abrangente da vida. Na verdade, mais do que isso, esta frase nos penetra o espírito, fazendo-nos compreender que o nosso bem depende do bem do próximo, o qual, em verdade, é uma extensão de nós mesmos.
Em sentido mais abrangente e espiritualizado, que é o que nos interessa, a frase a que hoje direcionamos nossa atenção sintetiza os parâmetros positivos para o convívio harmônico entre as pessoas e os grupos que formam o tecido social, fornecendo-nos uma importante chave de interpretação sobre a forma adequada de proceder cotidianamente na busca do bem comum e da valorização das virtudes.
Certo é que, tanto nas relações familiares, institucionais e sociais quanto nas de trabalho, próprias das atividades profissionais, a prática do bem deve ser o fio condutor das ações interpessoais, pois sem ela a experiência humana se ressente de valor e significação.
O plano da essência, ou seja, da substância, que se opõe ao plano da simples expressão literal, é o que de mais importante nos tem a oferecer a interpretação espiritualista à luz dos ensinamentos do Racionalismo Cristão.
Afastar sempre que necessário todo e qualquer preconceito advindo de uma leitura ou aplicação superficial, fria e literal dos escritos em prol de uma interpretação mais integradora e equilibrada não constitui uma tarefa complexa, ao alcance apenas dos literatos, eruditos ou cultores da linguagem; trata-se antes de uma tarefa à altura de qualquer pessoa aberta às luzes do esclarecimento espiritual e disposta a melhorar cada vez mais como ser humano – o que só pode se dar a partir da vivência da ética, da fraternidade, da solidariedade, da empatia e da abnegação.
Para concluir nossa reflexão, queremos ressalvar um importante aspecto: não haja dúvida de que, no contexto da sociedade contemporânea, a harmonia e a cultura da paz, legitimamente ansiadas por todas as pessoas de bem, se constroem sobretudo pela ampliação da linguagem e da capacidade de interpretação, consequência do estudo sério e criterioso da espiritualidade, como nos propõe o Racionalismo Cristão.
Incontáveis são os conflitos que têm origem em leituras superficiais e descontextualizadas ou em falas indevidamente lacônicas e simplistas. Vejam os amigos a tríplice importância da presente reflexão: ela nos incentiva, a um só tempo, a compreender o enunciado “quem bem faz para si o faz” como um verdadeiro lema de vida, convida-nos a penetrar na essência de toda e qualquer mensagem que seja profunda e elevada e nos estimula a ampliar nossa linguagem, a fim de sensibilizarmos nossos semelhantes a transformar positivamente seus hábitos, além de potencializar nossas ações rumo ao autoaperfeiçoamento – objetivo fundamental de nossa existência.