Análise do materialismo

Por que falar de materialismo nos dias atuais? Por que abordar esse assunto em uma época tão marcada pelo consumo? Porque estamos conscientes de que o apego excessivo aos bens materiais, a busca doentia pela satisfação

Por que falar de materialismo nos dias atuais? Por que abordar esse assunto em uma época tão marcada pelo consumo? Porque estamos conscientes de que o apego excessivo aos bens materiais, a busca doentia pela satisfação dos sentidos e da sensualidade e o desrespeito aos ecossistemas enfeixam um conjunto de males – estritamente ligados ao materialismo – que impedem o ser humano de alcançar a serenidade necessária para pensar com elevação, atrair situações que o favoreçam e extrair os incontáveis benefícios da solidariedade, da fraternidade e da prática do bem. 

O materialismo, que nega a essência espiritual do ser humano, na medida em que reduz drasticamente seu campo de percepção e o induz ao consumo desenfreado e irresponsável, de consequências drásticas e imprevisíveis, deve ser combatido em âmbito coletivo e individual, pois os pensamentos e sentimentos que se comprazem no apego à matéria não são menos funestos à sociedade que às pessoas que os acalentam em seu íntimo. 

O indivíduo materialista deseja, no mais das vezes, o que já possui em grande quantidade. O materialismo, diretamente relacionado ao exagero e à ganância e, portanto, ao desequilíbrio e à vaidade, caracteriza-se, metaforicamente falando, por uma espécie de sede que nunca se sacia. Dessa formar, a pessoa que desconsidera sua essência espiritual e se deixa absorver pelos insidiosos apelos da matéria padece de uma dupla angústia, pois se desgasta na ânsia de acumular cada vez mais e sofre com a possibilidade de perder o que tem. 

É imperioso compreender que bens materiais são os produtos, propriedades, instrumentos e meios de que se vale o ser humano para sobreviver neste planeta e para gozar de segurança e conforto. Infelizmente, os bens materiais se encontram quase sempre desigualmente distribuídos: alguns possuem muito mais do que necessitam, enquanto outros não dispõem nem mesmo do essencial. Tal anomalia, para além das questões geopolíticas e econômicas, reflete o quanto a humanidade, sobretudo as lideranças, se ressentem dos valores espirituais defendidos pelo Racionalismo Cristão. 

O bom senso indica que à medida que os bens materiais extrapolam sua finalidade e passam a ser instrumentos de disputa e poder, utilizados em desfavor do semelhante, não podem nem devem ser considerados como “bens”, pois se transfiguram em fatores impeditivos do progresso espiritual. Com muita razão afirmou Cícero: “O excesso de bens é prejudicial ao homem de bem.” 

O estudioso dos ensinamentos racionalistas cristãos, por ter alargado seu horizonte existencial e a própria percepção de mundo, sabe que os tesouros do espírito em nada se assemelham à fortuna material. Nesse sentido, quando ouve dizer que alguém perdeu seus bens porque não mais possui propriedades ou dinheiro, identifica de pronto a incoerência de tal afirmação. 

Todas as iniciativas da pessoa espiritualizada, consciente de seu valor e de suas responsabilidades, que pauta a vida nos sublimes preceitos da ética, estão impregnadas de benquerer e amor ao próximo; todas as suas obras estão marcadas de uma notável acuidade, que lhe permite discernir entre os bens materiais e os valores do espírito. Com paciência e tolerância, o ser humano ético é capaz de suscitar no meio em que transita sentimentos de enlevo e admiração. Além disso, sua atitude moral e a linha aprumada de seu caráter o tornam contrário a todo exibicionismo artificial, próprio, aliás, do materialismo antiético e obscurantista. 

Prezados amigos e amigas, todo empenho em elevar a vida deve se concentrar no exercício consciente das faculdades e potencialidades ínsitas na estrutura humana. É preciso que anunciemos essa verdade. Nesse sentido, deve-se advertir aqueles que buscam os bens materiais sem considerar as necessidades do próximo apenas para deles se jactar que estão sendo guiados pela vaidade e não pela razão e que, portanto, estão prestando um desserviço à própria evolução. Não nos deixemos enganar pelas ilusões do consumismo e do materialismo: somos possuidores de uma alma imortal, este imperecível veículo de felicidade abrangente e plena, que nenhum bem material é minimamente capaz de nos proporcionar. 

Muito Obrigado!