Análise do preconceito

Constitui pressuposto irrenunciável ao estudo sério e criterioso da espiritualidade, que dissolve inquietudes e responde às questões fundamentais da vida, o afastamento e o desprezo a todo e qualquer impulso preconceituoso. Com certeza, o preconceito se apresenta como um grande obstáculo ao conhecimento e à prática da autêntica espiritualidade, posto que esta tem como característica fundamental a integração e a consciência da unidade entre todos os seres, como nos ensina o Racionalismo Cristão. 

O conhecimento da transcendência significa para o ser humano abertura para novas perspectivas, incondicionadas e livres de preconceitos. É no cultivo da interioridade, proporcionado pela prática do Racionalismo Cristão, que todos podem reconhecer-se, entendendo a essência e o sentido da vida e livrando-se da irracionalidade que representa a atitude preconceituosa. Sim, reiteramos: irracionalidade, pois como poderá o raciocínio que se estabelece por meio de articulações que consideram todas as possibilidades alcançar seu desiderato se for engessado pelo preconceito? 

O indivíduo preconceituoso é reconhecidamente infeliz, pois se amesquinha e reduz de forma significativa as possibilidades de interação e convívio fraterno que a vida proporciona. Não é exagero afirmar que o preconceito e a vaidade são duas faces de uma mesma moeda, pois o indivíduo preconceituoso, não raras vezes, é incapaz de uma atitude de humildade no que concerne à revisão de conceitos e à mudança de opiniões e comportamentos. 

A atitude preconceituosa é marcada pela contradição, uma vez que incontáveis ideias preconcebidas não possuem fundamento plausível e sério, sendo suas fontes fantasiosas e até caricatas. A contradição salta aos olhos quando se verifica a existência de pessoas que se desgastam ostentando gestos preconceituosos ancorados em meras suposições, mas não creem em realidades fundamentadas pelo bom senso, pela razão e pela ciência. 

O preconceito se manifesta de inúmeras formas: por vezes, é mais sutil e quase imperceptível; porém, em determinados momentos, é mais contundente e violento. Uma expressão de preconceito que geralmente não se percebe, mas que é extremamente excludente, é o praticado por determinados intelectuais – ou melhor, pseudointelectuais – que, eivados de vaidade e narcisismo, se utilizam de uma linguagem extremamente rebuscada e até incompreensível para alçar-se a um pretenso nível de superioridade e dali humilhar aqueles que desconhecem o próprio valor e a capacidade emancipadora que possuem de discernir intuitivamente um discurso erudito e sério de um insuflado por preconceitos e artificialidades. 

Em contraponto às vigorosas concentrações de poder econômico, de preconceitos de toda ordem e de manifestações de intolerância injustificada, facilmente verificáveis na contemporaneidade, surgem as expressões artísticas e culturais, que são, na realidade, instrumentos de equilíbrio, intercâmbio e aproximação entre pessoas de diferentes contextos e países, uma vez que estimulam e difundem a criatividade para o enfrentamento da realidade, facilitando o avanço da solidariedade e a superação das desigualdades e preconceitos (MENDES, 20191). 

A moderação, a razoabilidade, o equilíbrio, a paz e o respeito ao ser humano e à natureza são temas que permeiam constantemente nossos estudos e reflexões. Representam, assim, a pedra angular para a construção de uma vida estável e produtiva, na qual a razão assume um papel de destaque, pois impulsiona atitudes corretas e elevadas. Contudo, a apreensão desses magnos valores só é possível quando o ser humano se liberta das amarras da vaidade e da vã presunção, quando ele transcende aos condicionalismos estéreis, aos limites materiais e às barreiras erguidas pelo preconceito, como nos ensina o Racionalismo Cristão. 

Muito Obrigado! 

1REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 

MENDES, R. Aspectos da transcendência a partir de um olhar despretensioso. Rio de Janeiro: Letras e Versos, 2019.