Iniciaremos este diálogo refletindo sobre um trecho do nosso artigo “Como superar o medo e suas consequências?”, de onde extraímos o seguinte parágrafo:
“No ambiente muitas vezes inseguro em que vivemos, é preciso que aprendamos a nos controlar e a fixar nosso olhar nos aspectos positivos da vida, nas pessoas que amamos, em nossa saúde integral, em nossos atributos e faculdades; é preciso procurar absorver os estímulos mais importantes do atual momento que vivenciamos e incorporar as lições que ele traz consigo. Caso contrário, adoeceremos, asfixiados pela angústia e pela ansiedade antes que por qualquer vírus que seja.”
Certamente, uma das primeiras atitudes do estudioso do Racionalismo Cristão diante de uma situação tão complexa como a que atravessamos coletivamente é a de absorver em sua globalidade os valiosos ensinamentos que nela se encontram. Com efeito, tais ensinamentos nem sempre são evidentes, mas nunca são inexistentes. Felizmente, há um preceito e um fato de observação que nos incentiva a aceitar essa ideia.
O primeiro é que, desde que nos empenhemos em amadurecer espiritualmente em cada embaraço que vivenciamos, adquirimos não só um acréscimo de força moral, mas também acumulamos em nosso espírito os germes para sua multiplicação. O segundo é o imponente movimento do espírito rumo à espiritualidade –, que, embora não percebido por muitos, vai se acentuando dia a dia.
Ser um estudioso da transcendência implica acolher com redobrada dose de sensibilidade as lições existentes por detrás dos reveses e dos aspectos dolorosos da existência. Todavia, queremos, em meio a pandemia pela qual passamos, e que ainda não acabou, dar um passo a mais: além de estudiosos, queremos ser protagonistas de um processo não apenas teórico, mas sobretudo prático.
Nessa perspectiva, as lições colhidas não devem permanecer somente em nossa mente, à semelhança de uma enciclopédia empoeirada no alto de uma prateleira que está ali apenas como uma referência, da qual já não se espera utilidade imediata; é, antes, imperioso que sejam exteriorizadas na vida cotidiana e que se materializem na ajuda ao próximo, em atos de justiça e empatia.
A importância dessa revisão de conceitos, suscitada por uma crise da saúde pública, se outro mérito maior não tiver, terá um que a muitas contrariedades empana: o de transformar alguns de nós, de simples teóricos da espiritualidade, tergiversadores de princípios metafísicos, em homens e mulheres autenticamente racionalistas cristãos, preocupados de maneira efetiva e concreta com o crescimento espiritual próprio e coletivo, enfim, pessoas conscientes de que nunca alcançarão a plenitude na vida se não estenderem afetuosamente seu olhar a seus semelhantes, auxiliando-os efetivamente.
A pessoa espiritualmente esclarecida, diante das circunstâncias adversas, não deve se deter nas aparências de ordinária superficialidade, mas procurar desvendar o eixo, o cerne da questão. Seu olhar ampliado pelas luzes da transcendência lhe permite ver mais longe e melhor.
Como estaremos após a pandemia do novo coronavírus ser página virada pela humanidade? Da mesma forma que entramos? Não cremos. Mais evoluídos? Não sabemos. O que podemos afirmar é que se soubermos praticar as lições que esta calamidade nos ofereceu em suas entrelinhas, promoveremos em nós o encontro entre a teoria e a prática, pois a adesão aos valores espiritualistas que sustentam as ações dignas não envolve apenas o reconhecimento abstrato dos conteúdos da solidariedade e da fraternidade, mas comporta principalmente a aceitação prática desses conteúdos na própria vida.
O processo de aprendizagem não é uniforme, assumindo uma diversidade de expressões, todas válidas quando se fundamentam no amor ao próximo. Na verdade, todo aprendizado evoca a fusão entre teoria e prática. Com muito mais razão, tal liame deve ser evidenciado na vivência da espiritualidade.
Muito Obrigado!