Há em nossos dias uma inadequada tendência de confundir, consciente ou inconscientemente, o importante conceito de simplicidade no que se refere à linguagem oral ou escrita com as ideias de improviso e inconsistência no falar e no escrever, de tal maneira que, na cabeça de alguns, para que um texto ou um discurso seja simples, é necessário que seja superficial e enxuto. A fim de esclarecer os pontos obscuros que orbitam a ideia de simplicidade, elaboramos a presente reflexão.
A simplicidade expressa nas linguagens oral e escrita, que em nada se confunde com o desleixo quanto às regras gramaticais ou com a informalidade, é, em verdade, uma consequência natural do pensamento estruturado e irradiado com lucidez e precisão. Nessa perspectiva, lembremo-nos de Descartes, que afirmou que o que é pensado com clareza é dito com simplicidade. Logo, a autêntica simplicidade – diga-se já – pressupõe transparência, exatidão, inteireza e profundidade argumentativa.
No que se relaciona à linguagem utilizada em nossos estudos filosófico-espiritualistas, procuramos, tradicionalmente, ser simples e inclusivos, sem, contudo, descurar de um estilo claro, profundo e, tanto quanto possível, elegante, esclarecedor e inclusivo. A exposição dos princípios espiritualistas defendidos pelo Racionalismo Cristão não requer artificialismos, mas simplicidade, coerência, fundamentação e sinceridade de propósitos. Jamais nos utilizamos de termos especializados e científicos cuja leitura desconcertantemente complexa não permite a absorção direta de conteúdos elevados e práticos.
A crítica que se faz a uma alocução clara e, ao mesmo tempo, profunda e bem fundamentada ou a um texto criterioso e planejado em atenção às regras vernaculares não tem sua origem na vontade de querer compreender o que está sendo dito, com o intuito de ampliar a bagagem cultural e o acervo espiritual, mas na preguiça mental, que impede a ampliação de perspectivas e análises.
Um bom texto e uma palestra de valor não prescindem da utilização de termos e expressões muitas vezes incomuns no vocabulário informal, mas nem por isso incompreensíveis. A palavra escrita ou falada deve ser manejada, a nosso ver, com o propósito de suscitar importantes reflexões e de auxiliar as pessoas a transpor as concepções simplórias e inadequadas que as impedem de se aprofundar no conhecimento de si mesmas e da realidade que as cerca.
Procuramos despertar os seres humanos para os preceitos que proporcionam esclarecimento e fortalecimento espirituais. Não valorizamos demasiadamente recursos retóricos ou estilísticos, mas sobretudo o bem-estar de nossos semelhantes.
Restringimo-nos, na presente reflexão, a abordar uma das faces da simplicidade – referente às linguagens oral e escrita –; esta, contudo, constitui um valor que deve ser conservado e aplicado em todos os campos de nossa vida. Sem jamais confundir simplicidade com simplismo, que significa estreiteza de visão, desleixo, incompletude e preguiça mental, devemos nos empenhar em ser genuinamente simples, agindo todos os dias com espontaneidade e sem afetação. É válido ressaltar que o informalismo exagerado e a pouca atenção quanto à forma de exprimir ideias dificultam a compreensão do conteúdo que se pretende transmitir, causando interpretações errôneas e problemas na comunicação.
Nesta conclusão, queremos reafirmar nossa responsabilidade com quem nos prestigia – o nosso leitor -, de esclarecer definitivamente que a virtude da simplicidade relacionada à linguagem se situa no meio-termo entre a complexidade e a expressão simplista. Esta última, muitas vezes, representa um desvio ético que busca persuadir pela aparência e não pela verdade.
A beleza e a completude de um texto ou de uma fala motivam-nos a ampliar o entendimento da simplicidade, desvinculando-a da ideia de mediocridade ou improviso. Corrobora nosso asserto a frase atribuída ao grande Leonardo da Vinci, que diz que a simplicidade é o último grau da sofisticação – de uma sofisticação que não busca ostentar, mas sim aprimorar e refinar os valores espirituais divulgados pelo Racionalismo Cristão, acrescentamos nós.