Autonomia de pensamento e estabilidade emocional

Uma existência humana em que não estão presentes a autonomia de pensamento e a estabilidade emocional ou em que esses fatores são desconsiderados traz em si a marca da dependência e da frustração. Procuraremos demonstrar, à luz da espiritualidade defendida pelo Racionalismo Cristão, na presente reflexão, ainda que de forma sintética, que a autonomia de pensamento conquistada pelo esclarecimento espiritual favorece enormemente a estabilidade emocional e que esse conjunto harmonioso formado pela autonomia e pela estabilidade enobrece grandemente a vida, com dignidade e liberdade.

O ser humano conserva sua índole e personalidade, bem como protege a própria integridade moral, sempre que pensa de maneira positiva, enérgica, ordenada e independente, mantendo-se emocionalmente equilibrado. Trata-se, sem dúvida, de um desafio, mas de um desafio plenamente superável quando a pessoa, por meio da abertura à espiritualidade e da vontade objetiva de se esclarecer espiritualmente, maneja, por assim dizer, com inteligência e racionalidade, os atributos e potencialidades que tem em seu interior, os quais estão permanentemente a sua disposição e cujo desenvolvimento constitui um dos objetivos fundamentais da própria existência.

Os conceitos de autonomia de pensamento e de estabilidade emocional, no contexto de nosso estudos filosófico-espiritualistas, inspiram-se nos princípios da dignidade e da liberdade, conceitos que se transformam admiravelmente quando analisados, repetimos, à luz da espiritualidade proposta pelo Racionalismo Cristão e aplicados na vida prática com consciência e respeito – próprio e coletivo.

Vale destacar que a autonomia e a estabilidade, da forma como agora analisamos, tornam-se inúteis quando não geram frutos positivos na direção do próximo, ou seja, quando são vivenciadas de forma particular e individual.

Com certeza, quando incentivamos uma forma de pensar autônoma e livre de interferências e influências tendenciosas, o que se traduz no equilíbrio das emoções e sentimentos, fazemo-lo com vista ao bem comum. Nesse sentido, devemos pensar corretamente e nos manter equilibrados não para simplesmente nos tornarmos pessoas melhores, mas sobretudo para melhor auxiliarmos nossos semelhantes.

Na convivência com o próximo, na maioria das vezes, duas possibilidades se nos apresentam: ou ficamos decepcionados com atitudes e comportamentos inesperados, contrários a nossas expectativas mais sinceras, que muitas vezes causam dor e amargura, ou aprendemos com a diversidade alheia e interpretamos os eventuais distúrbios como importantes oportunidades de aprimoramento de nossa própria personalidade. Caso optemos, inteligentemente, pela segunda hipótese, teremos de conquistar, antes de tudo, a autonomia de pensamento e o equilíbrio emocional.

O desenvolvimento da autonomia e da estabilidade impulsionado pelo esclarecimento espiritual não é algo exterior ao ser humano, como uma espécie de prêmio ou galardão a ser recebido das mãos de outrem; é antes algo intrínseco à essência espiritual presente nas pessoas. Tal conhecimento deve encorajar a todos no sentido de olharem para dentro de si mesmos, a fim de descobrirem a beleza e a força de seus valiosos atributos.

Sensíveis aos graves problemas que a dependência e a instabilidade emocional causam aos seres humanos e conhecendo as compensações generosas e a satisfação íntima que o estudo da espiritualidade que o Racionalismo Cristão nos proporciona, em particular das formas de desenvolver a autonomia de pensamento e a estabilidade psíquica reserva àqueles que a ele se dedicam com disciplina e amor à verdade, empenhamo-nos em elaborar a presente reflexão. Esperamos, sinceramente, que este tema motive no maior número possível de pessoas a consciência de que a liberdade de pensamento e o equilíbrio das emoções e sentimentos conduzem à percepção das incontáveis possibilidades que de forma inata todos possuem e que, intimamente ligadas à personalidade de cada um, os estimulam à sede de aprimoramento moral e ético, tão expressiva das necessidades evolutivas comuns ao gênero humano.