Autor e intérprete do conhecimento

Diretamente influenciado pela mentalidade dominante em cada momento histórico, o conceito de “aprendizado” se altera com o passar do tempo. Para além das categorias metodológicas e das opiniões dos estudiosos, pretendemos demonstrar, na presente reflexão, que a mais valiosa e significativa forma de aprendizado se dirige ao autoconhecimento e à conscientização de que, a todo momento, a vida está a nos ensinar algo e que, por isso mesmo, estamos imersos em um processo de aprendizado contínuo.

Desde as mais remotas eras, o ser humano busca aprender e conhecer, seja com os mais velhos, seja com a observação da natureza. Na Antiguidade, mormente entre os gregos, segundo os mais abalizados especialistas, a investigação filosófica alcançou uma importância sem precedentes. No contexto da cultura medieval europeia, surgiram as primeiras universidades. O Renascimento, período fortemente influenciado pela cultura greco-romana, fez a transição entre a mentalidade medieval e o pensamento moderno, trazendo novas questões e desafios no campo do aprendizado, que permitiram que a razão ocupasse lugar de relevo a partir do século XVII. Nos séculos seguintes, o mundo continuou a avançar e, com ele, a técnica e a ciência, ensejando surpreendentes e inéditas descobertas.

Por maior que sejam os avanços verificados na atualidade, será que os métodos de aprendizado hoje em voga têm a última palavra em matéria de aquisição de conhecimento? Cremos que não, pois, no mais das vezes, o espírito, que é a um só tempo fonte e receptáculo do conhecimento, tem sido desconsiderado nas investigações científicas. Fala-se muito no cérebro, em suas funções e articulações, mas quem comanda o cérebro e todo o conjunto biológico? O espírito. Portanto, não há que falar em aprendizado eficaz sem levar o espírito em consideração.

O aprendizado examinado à luz da espiritualidade defendida pelo Racionalismo Cristão considera o espírito como autor e intérprete do conhecimento. É preciso ter em mente que o aprendizado só tem sentido quando promove o autoconhecimento e o aperfeiçoamento do espírito. Nessa perspectiva, esse aprendizado se opõe à simples memorização de conteúdo, ao acúmulo desinteligente de conceitos teóricos e formais e à erudição vazia e pretensiosa.

O aprendizado espiritualmente considerado, ou seja, o aprendizado autêntico, possui uma estruturação lógica que, desconsiderando o acaso e rejeitando a imposição arbitrária de conceitos, bem como a superficialidade nas abordagens, dá sentido, valor e objetividade aos conhecimentos absorvidos pelos seres humanos.

O processo de aprendizagem não é uniforme, assumindo uma pluralidade de expressões, todas válidas quando se fundamentam no positivo desenvolvimento do espírito e no reconhecimento das lições que a vida não cessa de oferecer. Na verdade, o aprendizado deve evocar a recíproca correlação entre teoria e prática. Tal liame assume excepcional relevo no estudo e na vivência da espiritualidade, como nos enfatiza o Racionalismo Cristão.

O aprendizado deve ultrapassar o campo técnico e acadêmico. Não é bastante que tenha contornos de natureza ética e moral: é imperioso que tenha também um nítido sentido espiritual. É preciso olhar para além do sentimento egocêntrico e transcender aos interesses estritamente materiais na contemplação da realidade suprema que tudo abarca e penetra. Se assim procedermos, estaremos conectados com uma realidade de aprendizado contínuo, libertador e ensejador das maiores conquistas e vitórias.