Como aceitar opiniões diversas e conviver com pessoas diferentes, entendendo as particularidades de cada um?

Para o estudioso da espiritualidade que deseja verdadeiramente alcançar metas cada vez mais elevadas e sublimes, o importante é saber de forma nítida por onde avançar. Ele há de agradecer sempre as sinalizações claras, mesmo que estas eventualmente lhe indiquem caminhos estreitos e árduos, e evitará resolutamente as vias que, embora largas e convidativas, não conduzem a lugar nenhum ou desembocam em abismos perigosos e intransponíveis. 

Em nossa reflexão sobre o tema, pretendemos apontar um caminho seguríssimo para o avanço no campo da ética e da espiritualidade, que consiste precisamente em respeitar a diversidade de opiniões e pontos de vista existentes na sociedade e buscar sempre acolher o ser humano, compreendendo-o em sua condição e em suas particularidades, como nos ensina o Racionalismo Cristão. 

É relevante que se aponte desde já que este comentário não foi pensado para ser uma leitura crítica e histórica das tensões e conflitos que se estabelecem em torno de interesses estritamente materiais. A diversidade que nos interessa estudar e à qual concentramos nossa atenção é a de ideias, nenhuma outra. As concepções falsas e ultrapassadas de superioridade étnica não encontram no campo da espiritualidade argumentos que a legitimem. Muito pelo contrário. Geralmente, elas são construídas por outras forças, que procuram tornar-se invisíveis para melhor exercer seu poder de subjugação. 

É necessário, primeiramente, indicar que a suposição de que todos os seres humanos começam sua trajetória em iguais condições físicas e psíquicas é de todo impossível. No âmbito da extraordinária diversidade humana, é possível compreender esse fato observando o mundo que nos cerca. Não encontraremos nele nenhuma homogeneidade, pois não há sequer duas flores ou dois animais absolutamente iguais entre si. Com certeza, não é difícil encontrar na sociedade pontos de vista diferentes e até contraditórios. Contudo, mesmo em meio às múltiplas tensões verificadas e às mais diversas formas de expressões artísticas, religiosas e folclóricas, a essência dos seres humanos autoriza-nos a falar em unidade, uma vez que todos têm uma origem comum. 

O ser humano espiritualizado torna-se solidário de todas as formas de expressão, inclusive das marginalizadas. Não compartilha do afastamento a que são relegados certas pessoas ou grupos que não se enquadram nos modelos ditados pela mesquinhez situacional, mas encontra na solidariedade genuína um caminho plenamente seguro para amadurecer emocional, intelectual e moralmente. 

A diversidade humana assume, especialmente à luz dos ensinamentos racionalistas cristãos, uma clareza singular: ela existe para estimular a ampliação dos atributos espirituais. Esse é o fio condutor de nossos estudos e o centro de nossa análise. Existe uma elevada utilidade na diversidade humana. No campo do conhecimento, pode-se afirmar que, por um lado, ninguém tem tão pouco que não possa oferecer; por outro, não há ninguém que tenha tanto que não possa receber. O intercâmbio produzido pela diversidade promove o enriquecimento cultural, mas também permite que se desenvolva o senso de solidariedade e reciprocidade. 

Isso assume singular importância atualmente, quando mesmo com todos os avanços tecnológicos, produtos de seu talento e capacidade inventiva, o ser humano demonstra, em muitos casos, que ainda não aprendeu a respeitar seu semelhante. A necessidade de constante reflexão e profundidade analítica sobre os atos humanos é importantíssima, uma vez que o potencial humano é neutro, pois pode ser usado tanto para o progresso moral, quanto para a degradação. Torna-se evidente, portanto, a necessidade de um extraordinário empenho de espiritualização e a difusão de preceitos elevados, para que todos possam conhecer-se melhor e, a partir da autoidentificação e da autoaceitação, acolher os que são – externamente – diferentes. 

Se pretendermos aprofundar estas nossas reflexões, que nos levam a aceitar a diversidade de opiniões e comportamentos, precisamos unir duas ideias: a de que o próximo não é um conceito abstrato, indeterminado, genérico, mas sim uma pessoa, única, distinta, particular, concreta; e a de que o seu reconhecimento enquanto tal não se resume a uma atitude exterior de respeito, mas na disposição íntima de enxergá-lo como uma extensão de nós mesmos. 

Buscando desenvolver a compreensão sincera dos dramas vivenciados por nossos semelhantes com um olhar empático, todos poderemos dar um passo significativo para que, coletivamente, não tornemos a experimentar situações excludentes; para que, unidos e esclarecidos, possamos construir uma cultura de interação e solidariedade. 

A noção de colaboração está diretamente associada à ideia de que todos os seres humanos possuem a capacidade de receber novos conhecimentos, produzindo, a partir destes, outros conhecimentos que, por seu turno, irão contribuir para o enriquecimento da realidade social e para a ampliação dos atributos espirituais latentes de todos os envolvidos. Nesse processo colaborativo, livre de preconceitos e distinções fúteis, há um reforço da confiança e a abertura do ser a novas possibilidades, circunstância na qual as influências globalizadas que penetram a vida cotidiana por todos os meios podem ser mais bem administradas, de modo que a pessoa retenha unicamente os conteúdos que promovam e elevem a condição humana. 

Embora haja predomínio na divulgação de conteúdos pessimistas e derrotistas, a intolerância à diversidade humana compõe-se, felizmente, de círculos pouco amplos, distantes do pensamento e das aspirações da maior parte dos habitantes do planeta, que não estão ligados a um sistema orgânico por interesses, mas por uma forte afinidade de sentimentos de fraternidade. 

O mundo moderno, edificado, pelo menos teoricamente, sobre os ideais de igualdade e fraternidade, jamais se apresentou como um bloco monolítico uniforme, e sim como algo heterogêneo e multiforme. Superado há muito o cenário idílico de uma sociedade sem classes, vemos através do prisma ampliado da transcendência que as condições políticas, econômicas e sociais variam de grupo para grupo e não existem por acaso. Entretanto, todas as coletividades, a despeito de determinações biológicas ou geográficas, apresentam um conjunto de características comuns, que podem justificar, positivamente falando, a tentativa histórica de construir uma cultura de paz, fato que reproduz a beleza da espiritualidade, de caráter universal e, portanto, não pertencente a um único grupo ou instituição. 

 Tradições diferentes não devem causar, necessariamente, tensões indevidas na sociedade, nem é cabível o estabelecimento de um estado de perplexidade diante de interpretações conflitantes. O sentimento de fraternidade é capaz de transpor abismos e estabelecer pontes que conectem todos os seres humanos, independentemente de suas peculiaridades. 

Importantíssima é a afirmação anteriormente apresentada a respeito da empatia, porque torna compreensível como a dialética entre amor ao próximo e dever moral – embora tais coisas sejam função uma da outra – é condição que permanece inalterada no que diz respeito ao estabelecimento de relações produtivas e duradouras, respeitosas e afetuosas. 

Por tudo o que o que procuramos demonstrar nesta reflexão, não se pode desconsiderar a necessidade da diversidade humana, e é fácil notar que a tendência é atribuir-lhe uma relevância cada vez maior. É por isto que estamos trabalhando no Racionalismo Cristão: para divulgar cada vez mais a ideia de que a diversidade humana refletida nas diferenças deve ser compreendida como de máxima utilidade, e de que muito avançamos nesse sentido quando, a fim de compreender suas dores e problemas, nos colocamos no lugar do outro, revestidos de solidariedade e livres de preconceitos e tolas presunções. 

Muito Obrigado!