Como entender que a questão não é aceitar e, sim, respeitar quem parece diferente de nós?

Este tema nos convida a uma importante reflexão sobre o papel integrador do respeito, tantas vezes esquecido e desprezado na sociedade contemporânea, a qual, interpenetrada por ideologias separatistas e pela vaidade, promove, muitas vezes, o distanciamento entre os seres humanos. 

Tradições e pontos de vista diferentes não devem causar necessariamente tensões indevidas na sociedade, nem é cabível um estado de perplexidade diante de interpretações conflitantes. Com certeza, o sentimento de fraternidade deve ser cada vez mais estimulado, pois é capaz de transpor abismos e estabelecer elos que conectem respeitosamente todos os seres humanos. 

 Se tão irrecusável é a importância do respeito, não menos relevantes são os elementos que lhe dão suporte, quais sejam: a empatia, a serenidade, a harmonia, a humildade, a temperança e, sobretudo, o conhecimento da espiritualidade. Na verdade, a firme determinação de empenhar-se na obtenção dessas virtudes proporciona um entendimento mais abrangente em relação ao respeito, que deve ultrapassar as comportas do formalismo e da mera tolerância. 

No âmbito da extraordinária diversidade humana, é possível entender suas razões ao observarmos o mundo que nos cerca. Nele não encontramos nenhuma homogeneidade, não havendo sequer duas flores ou dois animais absolutamente iguais entre si; do mesmo modo, não surpreende verificarmos na sociedade pontos de vista diferentes e até contraditórios. Contudo, mesmo em meio às múltiplas tensões verificadas e às mais diversas formas de expressões artísticas, religiosas e folclóricas, a origem e a essência dos seres humanos autorizam a falar em unidade, uma vez que todos têm uma origem comum. Nessa visão é que afirmamos que o respeito ao gênero humano é pressuposto do respeito próprio. 

Especialmente à luz da espiritualidade divulgada e defendida pelo Racionalismo Cristão, a diversidade humana assume uma clareza convincente: ela existe para estimular a ampliação das percepções espirituais. Este é o eixo de nossa análise: há uma elevada utilidade na diversidade humana que deve ser enaltecida e não desprezada, respeitada e não tolerada. No campo do conhecimento, pode-se afirmar que ninguém tem tão pouco que não possa oferecer; ademais, ninguém tem tanto que não possa receber. O intercâmbio produzido pela diversidade promove, sem dúvida, o enriquecimento cultural, mas também permite que se desenvolva o senso de solidariedade e complementaridade, principalmente nas relações respeitosas e livres de preconceitos.  

Isso realmente assume singular importância na atualidade, quando mesmo com todos os avanços tecnológicos e sociológicos, produtos de seu talento e inteligência, o ser humano demonstra, em muitos casos, que ainda não aprendeu a respeitar seu semelhante, nem a si próprio. Respeitar não é simplesmente tolerar. Na imensa maioria das vezes, deve-se dar um passo a mais; é preciso nutrir um sentimento de reverência pelo próximo, uma vez que ele representa uma extensão de nós mesmos.  

Na verdade, em determinados momentos da vida, deparamo-nos com pessoas que procedem de maneira tão antagônica ao que consideramos ser o certo, que temos a natural atitude de repulsa. Todavia, amigos, a aversão deve reduzir-se aos maus atos, aos vícios, e não ao ser humano em si, porquanto é este portador de uma dignidade intransferível e possui uma alma imortal.

A necessidade de constante reflexão, revisão de conceitos e análise profunda sobre os atos humanos é importantíssima, tanto mais não seja porque o potencial humano é neutro, podendo, portanto, ser atualizado na direção do progresso moral ou da degradação. Torna-se evidente a necessidade de um empenho extraordinário de espiritualização e difusão dos elevados ensinamentos racionalistas cristãos para que todos possam se conhecer melhor e, a partir da autoidentificação e da autoaceitação, possam também acolher de maneira respeitosa e elevada aqueles que externamente se mostram diferentes. 

Há no ser humano uma propensão natural à transcendência. O transcendente não se manifesta apenas nas expressões religiosas ou filosóficas, mas também nas expressões culturais e sociais, à medida que ser humano assume um comportamento reflexivo e respeitoso perante as situações humanas, quais sejam: individuais, coletivas, nacionais e internacionais. 

Não é ilusório o pensamento de que uma sociedade justa só pode ser alcançada pelo respeito ao ser humano. Para a pessoa honesta, leal, autêntica e espiritualizada, seu posicionamento respeitoso diante das diferenças humanas não é considerado um estilo de vida ou um modismo, mas um fundamento e um estímulo para o aperfeiçoamento próprio e daqueles com quem convive. 

O esclarecimento espiritual repudia qualquer tipo de manipulação ideológica e não se subordina a visões simplistas que tentam, com certa periodicidade e em vão, confundir os conceitos de tolerância e respeito. 

Não se pode desconsiderar a necessidade e a importância do respeito em meio à diversidade humana, e é fácil prever que a tendência será atribuir-lhe uma relevância cada vez maior à medida que a sociedade evolua. Para tal devemos esforçar-nos, a fim de divulgar a ideia de que o respeito deve imperar nas relações humanas e de que a diversidade, sendo uma nota singular da vida em todas as suas manifestações, deve ser compreendida como de grande utilidade e orientada para o bem comum.  

Portanto, entendemos ser de máxima importância ponderar e conservar em nosso espírito a ideia de que para além da tolerância devemos ter uma atitude de respeito para com nossos semelhantes, principalmente quando estes são dignos e honestos, sinceros e produtivos, apesar de terem pontos de vista distintos dos nossos. Esforcemo-nos no sentido de poder encontrar oportunidades contínuas, concretas e eficazes de praticar o respeito, posto que o conhecimento sem ação equivale a um carro sem rodas. 

Muito obrigado!