Como os princípios racionalistas cristãos podem ser abraçados por pessoas de qualquer crença, ou mesmo crença nenhuma?

Analisando a realidade que o cerca, o ser humano contemporâneo é levado a afirmar, com certa razão, que vive uma época de incertezas. Realmente, o momento é de transição em todas as dimensões da vida humana. As mudanças ocorrem em uma velocidade sem precedentes, digna de nota. No mais das vezes, esse clima de instabilidade afeta o ser humano de forma intensa, dispersando sua atenção, sugando suas energias e bloqueando sua criatividade.

Nesse contexto incerto, multifacetado e, por conseguinte, de complexa interpretação, trazemos à baila um assunto de magna relevância, de suma importância: a universalidade e a magnitude dos princípios racionalistas cristãos. A absorção e a observância desses princípios, estamos convictos, proporcionarão tanto ao ser humano quanto à sociedade na qual ele está inserido a estabilidade e a serenidade tão necessárias, sobretudo na atualidade.

Entre os movimentos históricos que favoreceram o desenvolvimento e o aprimoramento dos atributos inerentes ao gênero humano, impõe-se, ao lado da filosofia grega – que buscou estabelecer explicações racionais para substituir os mitos e as fantasias –, a visão de mundo oferecida pelos princípios cristãos. De fato, esse conjunto de ensinamentos não somente propõe à inteligência humana a vivência do amor e a prática constante e desinteressada do bem, como também apresenta a transcendência absoluta do espírito contra as concepções antropomórficas e os subjetivismos arbitrários, que estão presentes tanto nas mitologias das magníficas civilizações que resplandeceram sucessivamente nas margens do Nilo, do Ganges, do Eufrates e no litoral mediterrâneo, quanto em outras culturas que imaginam ser possível a espiritualidade sem prática, sem dinamismo, sem ação concreta e sem realismo.

A interconexão e a interdependência cada vez mais notáveis entre os povos do planeta suscitam uma reflexão intensa, franca e ousada sobre a estreita ligação da universalidade dos princípios racionalistas cristãos com a necessidade de universalização do bem comum, que representa, por seu turno, o conjunto das condições da vida social que permitem o pleno desenvolvimento do ser humano e do tecido social do qual faz parte.

Os princípios racionalistas cristãos, cujo sentido e alcance ultrapassam as concepções filosóficas, representam para o estudioso da espiritualidade uma imensa esperança, um manancial de bondade, justiça, amor, alegria e paz a que ele adere com desvelo, interpelado pela consciência do que é reto e justo em consonância com as exigências intelectuais e morais de nosso tempo. A ruptura com esses valores deságua catastroficamente nas revoltas violentas, nas contendas e nas desordens, quer em âmbito individual, quer coletivo.

É no campo dos conceitos universalmente comunicáveis que irradiam estímulos de afeto e consideração que a pessoa encontrará fundamento para compreender seu semelhante, para tolerar as divergências, para estabelecer um diálogo inteligente e produtivo, não obstante a diversidade de idiomas e culturas e o pluralismo de estilos e concepções.

Os valores cristãos, que transpassam enormemente os condicionalismos interesseiros e preconceituosos, teriam soçobrado há séculos diante das tempestades do mundo se seus ensinamentos e concepções contrariassem as aspirações mais legítimas e honradas do gênero humano.

Das sintéticas considerações acerca da universalidade dos princípios racionalistas cristãos que ora fizemos, infere-se que os mesmos podem e devem ser divulgados, testemunhados no dia a dia e abraçados por todos os seres humanos, independentemente de credo, etnia, sexo, posição social ou coisas que o valham.

O equilíbrio e a liberdade humana, bem como a ascensão dos interesses materiais aos autênticos conteúdos éticos e morais, são resultado, do ponto de vista da espiritualidade, da imersão e da vivência cotidiana dos princípios racionalistas cristãos. Este é o caminho seguro que conduz o ser humano à identificação de sua própria essência e, como consequência, da identificação do semelhante como uma extensão de si mesmo. Tal é o âmago sobre o qual gravita uma experiência humana digna e enobrecedora.

O amor ao próximo, a solidariedade, o respeito, a promoção da paz e a não violência – antídotos do egoísmo e da mesquinhez – devem estar presentes e inspirar todas as relações humanas pautadas na honestidade, na transparência e na reconciliação, pois são concepções capazes de transformar completamente o ser humano, estando para além das visões reducionistas e separatistas. A beleza dos princípios racionalistas cristãos verificáveis à luz da razão e do intelecto indica sua abrangência e importância. Por isso, sua perenidade e transcendentalidade, hão de ser demonstradas pela História.

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